Valor Econômico
Economia melhora no Brasil desde o fim da pandemia, mas não é essa a percepção da população
A economia melhora no Brasil desde o fim da
pandemia, mas não é essa a percepção da população, como deixam evidente as
pesquisas de avaliação de governos recentemente divulgadas. A aprovação do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva claudicou nos estratos de menor renda.
A mais recente edição do Boletim de
Desigualdade das Metrópoles, divulgada pela PUC do Rio Grande do Sul e pelo
Observatório das Metrópoles, com os dados fechados do quarto trimestre de 2023,
permite entender melhor o porquê.
Os dados mostram o tamanho do baque da catástrofe global da saúde. No conjunto das 22 regiões metropolitanas, a média de rendimento familiar entre o fim do ano passado e o último trimestre de 2019, imediatamente anterior à pandemia, subiu apenas 2,6% em termos reais. O resultado, contudo, tem um viés. A base da pirâmide, ou seja, a renda média dos 40% mais pobres, ficou ainda pior do que já estava. Recebia ínfimos R$ 273,18 per capita no fim de 2019, considerando a média móvel, e R$ 258,40 no encerramento do ano passado.
Essa base da pirâmide, conforme convergem a
unanimidade das pesquisas e sinalizam os próprios mapas eleitorais, vota em
maioria no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que se ressalve que o
levantamento trata exclusivamente das regiões metropolitanas, não dos grotões
do país. Mesmo no período do governo atual não houve melhora significativa
nessa faixa, ao menos não nas regiões metropolitanas: recebia R$ 253,49 no fim
de 2022.
O levantamento sugere que a fatia do
eleitorado mais pobre não recuou no período 2019/2023 em relação ao todo,
sempre ressalvando que aqui trata-se apenas das regiões metropolitanas. De
acordo com o estudo, 22,6% dos domicílios tinham renda per capita abaixo de 1/4
do salário mínimo no fim de 2019. No fim do ano passado eram 23,8%. Em 2022
essa fatia representava 23,6%, mas a elevação no período Lula III não deve ser
considerada, já que houve aumento real do salário mínimo.
O levantamento indica ainda que o quadro se
agravou principalmente nas regiões metropolitanas do Nordeste, onde houve recuo
global de renda entre 2019 e 2023 em Fortaleza, Recife, Salvador e Natal. O
Nordeste, como se sabe, é um tradicional reduto do lulismo, ainda que isso seja
nitidamente atenuado nos grandes centros urbanos.
De acordo com o sociólogo André Salata, da
PUC gaúcha, uma possível explicação está no nível de informalidade da economia
e de baixa qualificação da mão de obra. “Cerca de um terço das ocupações
criadas com o término da pandemia nas grandes metrópoles são elementares, de
baixíssima produtividade, o que deixa a renda estagnada na base da pirâmide”,
afirma o cientista social.
Este quadro se agrava, segundo Salata, na
região Nordeste, em função do perfil da formação educacional da mão de obra
local. Na média nacional, está tudo caminhando bem: a renda familiar está no
pico da série histórica. Mas no cruzamento regional e social, a base mais pobre
e com menos qualificação se ressente, pondera o economista. “Mesmo no Sul e no
Sudeste há queda de renda nesse segmento”, afirma.
A demora para a melhora econômica chegar na
base, portanto, está clara. O risco é a paciência acabar antes.
Exaustão da polarização?
Especialista em auscultar a heterogênea
“Classe C”, o publicitário Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, vai na
contracorrente de alguns pesquisadores. Ele acha que a tendência de
cristalização da polarização social entre o lulismo e o bolsonarismo caminha
para um esgotamento.
Para ele, as rejeições ao atual presidente e
a seu antecessor seguem altas, mas em seus grupos focais Meirelles identifica o
que chamou de “exaustão das brigas”. O palpite do publicitário é que a máxima
do falecido marqueteiro Duda Mendonça estará em alta: quem bate perde. O
problema é que quem apanhar vai perder também. Para dar nome aos bois, cita o
exemplo paulistano. “A rejeição a Ricardo Nunes (MDB) tende a crescer se o
prefeito for associado ao bolsonarismo, mas se o ataque direto partir de Guilherme
Boulos (Psol), cresce a rejeição dele próprio”, arriscou.
Ou seja, a polarização interessa mais aos
candidatos se a nacionalização for feita contra o adversário. Há espaço de
sobra evidentemente para lulistas e bolsonaristas chegarem a um segundo turno,
eventualmente até um contra o outro. O perigo para ambos os polos é se forem
obrigados a enfrentar alguém na rodada final com cara de centro. “Isso é
transversal. A gente sente que cresce a quantidade de eleitor que tenta evitar
esse tema”.
E há uma disjunção entre o que o eleitor
busca e o que o mapa dos partidos oferece. Quando se olha em conjunto o painel
das alianças que vão se desenhando pelo país, percebe-se que o desenho mais
frequente é o que nucleia em um polo um conjunto de forças do qual faz parte o
PL de Bolsonaro e no outro um acerto de alianças com o PT no meio.
Casos como o de São Luís, onde tanto PL
quanto PT podem fazer parte da mesma aliança, no caso em torno de Duarte
Júnior, do PSB, são isolados. Explica-se, no particular caso maranhense, pela
debilidade de ambos os partidos no cenário local.
A polarização que tende a pesar mais para o
eleitor comum é outra. Nas favelas de Salvador e Rio, conforme o noticiário
local e os usuários de redes sociais deixam claro, fazer um sinal com as mãos
ou usar um boné com determinado símbolo na região errada significa a morte.
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