O Estado de S. Paulo
Quem, e por quê, defende Musk, submundo das redes e deputado acusado de assassinato?
A Câmara está brincando com fogo, ao
sinalizar à sociedade brasileira que não está nem aí para o que interessa ao
Brasil e aos brasileiros em várias questões sensíveis: soltar ou não o deputado
Chiquinho Brazão, jogar a regulamentação das redes sociais para as calendas e
até, pasmem, defender agressões de um empresário estrangeiro e polêmico contra
um ministro do Supremo – ou seja, o próprio Supremo.
Brazão foi acusado de ser mandante do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. A acusação é grave, após seis anos de investigação, tantas vezes manipulada. E Marielle é a síntese do Brasil que mais sofre: mulher, negra, lésbica, de periferia e, como vereadora, defensora dos direitos humanos e dura contra o crime organizado.
Era isso que estava em votação, tanto na CCJ quanto no plenário, mas as articulações, manifestações e votos passaram longe do que interessa para focar na polarização entre governo Lula e bolsonarismo, esquerda e direita, Congresso e Supremo. O placar na CCJ foi 39 a 25 e, no plenário, de 277 a 129, a favor de manter a prisão. Não deveria ser por unanimidade?
Até o ex-presidente Jair Bolsonaro defendeu a
libertação do deputado, que é do Rio, dominado por milícia, contravenção e
crime organizado. O argumento para a soltura foi que deputados e senadores só
podem ser presos em flagrante de crime inafiançável e o ministro Alexandre de
Moraes usou o Código Penal para prendê-lo por obstrução da Justiça.
Vale a discussão jurídica, inclusive no STF,
mas foi só pretexto para a extrema direita e para confrontar o STF. Como no
impeachment de Dilma Rousseff, na cassação de mandato de Eduardo Cunha e por aí
afora, o Congresso recorre a argumentos técnicos, mas vota politicamente. Logo,
o normal seria votar pela prisão de um acusado de assassinato.
E bastou o STF anunciar que vai discutir a
questão e o Senado cobrar que a Câmara vote o projeto das redes sociais,
engavetado há quatro anos, para que o presidente da Câmara, Arthur Lira,
voltasse tudo à estaca zero. E o apoio aos ataques de Elon Musk ao Brasil
partiu justamente de setores da Câmara. Referindo-se a “alienígenas”, Moraes
lembrou: liberdade de expressão não é liberdade de agressão nem de tirania.
A quem interessa deixar livres, leves e
soltos um deputado acusado do assassinato de Marielle, o submundo das redes
sociais, que mente e agride pessoas e instituições, e ataques de estrangeiros
ao Brasil? Para Bolsonaro, Musk defende “democracia” e “liberdade”. Bem... Só
para quem a Terra é plana, vacina mata e cloroquina cura covid. Aí, não tem
jeito, é incurável.
Com bolsonaristas não há debate possível.
ResponderExcluir