O Estado de S. Paulo
Aumento de servidores é problema orçamentário, econômico e político, num ano eleitoral
O presidente Lula vai dar de cara com mais
uma frente de conflitos, a dos servidores públicos. A semana começa com pedido
de 30% de aumento geral de salários, ameaça de greve de professores – categoria
tradicionalmente alinhada com o PT – e risco de virar bola de neve. A questão é
orçamentária, econômica e também política, num ano eleitoral.
Como sempre, Lula acionou o apagador-mor de incêndios, Fernando Haddad, da Fazenda, não só para fazer as contas, mas para dizer “não” com sobriedade e negociar saídas, enquanto Esther Dweck, da Gestão, toureia os líderes do funcionalismo, cara a cara, e Rui Costa, da Casa Civil, fica na espreita para dar o bote petista ao final da negociação.
O Brasil fechou 2023 com 1,2 milhão de
funcionários federais, ativos, aposentados e pensionistas, com um gasto de R$
290 bilhões, praticamente 9% do PIB brasileiro. Lula e PT são adeptos de Estado
inflado e de, quanto mais servidores, melhor. Na contramão, Haddad só pensa em
arrecadação, equilíbrio fiscal e déficit zero.
O governo condiciona negociação a não haver
greve, tenta acertar com setores separadamente e aumenta auxílio-alimentação,
plano de saúde e bolsa-creche, não salários. Haddad argumenta que o orçamento
de 2024 está fechado e aumentos, só depois de 2025, enquanto Rui Costa esconde
dado importante: como ficaram os R$ 5,6 bilhões em emendas de comissões vetados
por Lula/Haddad? Foi tudo liberado, ou tem sobra para usar em salários (ou
contra greves)?
Haddad conta também com a distribuição de
100%, ainda neste ano, de dividendos extraordinários da Petrobras. Como a União
é a maior acionista, seria uma mão na roda para o déficit zero e para compensar
as perdas com o golpe na reoneração de municípios, mas não tem nada a ver com
salário de funcionalismo.
O foco está nos professores, mas o risco é
virar bola de neve contra um sonho fiscal. Ou Lula se prepara para onda de
greves de servidores, acirrando os ânimos entre eles e afetando atendimento ao
distinto público, ou lá vai Haddad tentar solução política para um problema
orçamentário.
A tudo isso somem-se a queda de Lula nas
pesquisas, os incêndios nas Américas e avanços do bolsonarismo no Congresso,
com empurrão do empresário Elon Musk, do presidente da Argentina, Javier
Millei, e do chanceler de Israel, Israel Katz, que miram no STF para acertar em
Lula. É hora de greve de servidor público, uma atrás da outra? Lula acha que
não, mas precisa combinar com os “russos” e... com Haddad.
Nada é fácil...
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