José Marques, Victoria Azevedo, Douglas Gravas / Folha de S. Paulo
Medida está a um voto de ser referendada;
Dino, Gilmar, Barroso e Fachin votaram com Zanin
O STF (Supremo
Tribunal Federal) tem cinco votos a zero para confirmar a decisão do
ministro Cristiano
Zanin de suspender trechos da lei
que prorrogou a desoneração da folha de empresas e prefeituras. A
medida está por um voto para formar maioria na corte e ser referendada.
A análise, porém, foi interrompida pelo
ministro Luiz Fux, que pediu vista (mais tempo para estudar o assunto). Ele tem
até 90 dias para devolver o caso para apreciação de toda a corte. A decisão de
Zanin segue valendo.
Como o julgamento ocorre no plenário virtual e foi programado até 6 de maio, os ministros que ainda não se manifestaram poderão depositar seus votos nesse período.
Relator da matéria, o ministro atendeu a um
pedido assinado pelo próprio presidente Lula (PT) e pelo chefe da AGU (Advocacia-Geral
da União), ministro Jorge Messias.
Flávio Dino foi o primeiro a se manifestar
após Zanin. Os dois foram indicados ao tribunal por Lula. Na sequência,
acompanhando o mesmo entendimento, votaram o decano Gilmar Mendes, Luís Roberto
Barroso (presidente do STF) e Edson Fachin.
O principal argumento do relator é que a
desoneração foi aprovada pelo Congresso "sem a adequada demonstração do
impacto financeiro". O governo diz que há violação da LRF (Lei de
Responsabilidade Fiscal) e da Constituição.
Zanin considerou que, sem indicação do
impacto orçamentário, poderá ocorrer "um desajuste significativo nas
contas públicas e um esvaziamento do regime fiscal constitucionalizado".
A liminar levou a reações de congressistas e
de setores produtivos. Para o presidente do Senado e também do Congresso,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), trata-se de um "terceiro turno".
Ao fundamentar a decisão, o ministro que foi
advogado de Lula nos casos da Lava Jato afirmou que, em 2000, "o país
passou a buscar a responsabilidade fiscal com a valiosa participação do
Congresso Nacional", citando a lei que trata do tema.
Ele acrescentou que, no entanto, "as
regras fiscais aprovadas naquela oportunidade passaram por um processo de
flexibilização ao mesmo tempo que houve um aumento desordenado de despesas
públicas nos últimos anos".
Zanin menciona, então, a regra do teto de
gastos, aprovada pelo Congresso em 2016, durante a gestão Michel Temer (MDB),
que limitava o crescimento das despesas do governo federal.
"[A emenda à Constituição do teto foi]
aprovada em prazo exíguo e num momento político conturbado do país, tudo para
reforçar a intenção das Casas Legislativas de promover o efetivo controle das
contas públicas."
Segundo o ministro, "a diretriz da
sustentabilidade orçamentária foi, portanto, eleita pelo legislador como um
imperativo para a edição de outras normas, sobretudo aquelas que veiculam novas
despesas ou renúncia de receita".
Zanin afirmou ainda que cabe ao STF ter
"um controle ainda mais rígido para que as leis editadas respeitem o novo
regime fiscal". Hoje, no país vigora o chamado arcabouço fiscal.
A desoneração da folha foi criada em 2011, na
gestão Dilma Rousseff (PT), e prorrogada sucessivas vezes. A medida permite o
pagamento de alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% sobre
a folha de salários para a Previdência.
A desoneração vale para 17 setores da economia.
Entre eles está o de comunicação, no qual se insere o Grupo Folha, empresa que
edita a Folha. Também são contemplados os segmentos de calçados, call
center, confecção e vestuário, construção civil, entre outros.
A prorrogação do benefício até o fim de 2027
foi aprovada pelo Congresso no ano passado e o benefício foi estendido às
prefeituras, mas o texto foi integralmente vetado por Lula. Em dezembro, o
Legislativo decidiu derrubar o veto.
Em reação, o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, enviou uma MP ao Congresso, propondo a reoneração gradual da folha de
pagamentos e a consequente revogação da lei promulgada após a derrubada do
veto.
A medida, anunciada em 28 de dezembro do ano
passado, valeria a partir de 1º de abril.
O novo texto sofreu resistências do
Congresso, e o governo precisou revogar o trecho da reoneração das empresas na
tentativa de buscar um acordo político. Ao mesmo tempo, o Executivo enviou um
projeto de lei tratando da redução gradual do benefício.
No início de abril, Pacheco desidratou ainda
mais a MP e decidiu
derrubar do texto o trecho que reonerava as prefeituras.
A decisão do governo de judicializar o tema
vem depois da constatação de que não foi possível chegar a um acordo político
com os congressistas. A iniciativa já provocou protestos.
TERCEIRO TURNO
Pacheco, em nota, disse que o governo
"erra ao judicializar a política e impor suas próprias razões, num
aparente terceiro turno de discussão sobre o tema da desoneração da folha de
pagamento".
Ele disse que respeita a decisão de Zanin e
que buscará apontar os argumentos do Congresso.
"Mas também cuidarei das providências
políticas que façam ser respeitada a opção do parlamento pela manutenção de
empregos e sobrevivência de pequenos e médios municípios", afirmou
Pacheco, que vai se reunir nesta sexta (26) com o setor jurídico do Senado e
convocará uma reunião de líderes.
Relator da proposta no Senado, Ângelo Coronel
(PSD-BA) disse que o governo "prega a paz e a harmonia e age com
beligerância".
"Esperamos que a maioria do STF derrube
essa ADI [ação direta de inconstitucionalidade] proposta pelo governo federal
que não acatou a decisão da maioria esmagadora da Casa das leis", disse.
Já o deputado federal Joaquim Passarinho
(PL-PA), presidente da FPE (Frente Parlamentar do Empreendedorismo), afirmou
que o movimento do Executivo em buscar o Judiciário "contribuirá para
prolongar o tensionamento nas relações com o Legislativo".
Em nota, a presidente da Feninfra (Federação
Nacional de Call Center, Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de
Telecomunicações e de Informática), Vivien Melo Suruagy, disse a decisão
"vai estimular a quebra de empresas e causar demissões", afirmou
Suruagy.
A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) lamentou a decisão. "Isso impactará na competitividade das cadeias produtivas, com possíveis efeitos negativos sobre a manutenção dos empregos e potenciais efeitos inflacionários", afirmou a entidade.
Mas na hora de defender aumentos para o Judiciário e seus efeitos em cascata, tudo okays.
ResponderExcluir😏
PERAÍ!
ResponderExcluirTANTAS REP0RTAGENS, TANTOS DEPOIMENTOS, TANTAS DEFESAS EXALTADAS...
TANTOS VETOS, RE-VETOS E CONTRA-VETOS...
MAS ATÉ AGORA NINGUÉM FALOU A VERDADE QUE PRECISA SER DITA, QUE É:
QUANTO É QUE O EMPRESARIADO PAGARIA SE PAGASSE OS 20% DA FOLHA DE PAGAMENTO E QUANTO É QUE O EMPRESARIADO ESTÁ PAGANDO COM 1 A 4,5% SOBRE A RECEITA BRUTA?
FALAM ATÉ EM 32 BILHÕES DE DIFERENÇA, SERÁ?
E PORQUE NÃO INFORMAM TINTIM-POR-TINTIM?
SERÁ QUE É PORQUE QUEM PAGA A DIFERENÇA (QUE O EMPRESARIADO DEVERIA PAGAR MAS NÃO QUER PAGAR) É O POVO, E O POVO NÃO PODE SABER DISSO?
CONTA PRA NÓS, LEGISLATIVO -CÂMARA
CONTA PRA NÓS, LEGISLATIVO -SENADO
CONTA PRA NÓS, O ZÉ POVINHO PAGADOR, SÔ!