Folha de S. Paulo
Afastado o risco de golpe, Supremo precisa
voltar a atuar sem recurso a heterodoxias
Nem tão depressa que pareça fuga, nem tão devagar que pareça provocação, a cúpula do Judiciário, mais especificamente o ministro do STF Alexandre de Moraes, vai adotando um tom menos belicoso em relação a Jair Bolsonaro e seus aliados, como mostrou reportagem de José Marques. Vejo essa movimentação com bons olhos. Se a Justiça brasileira quer recobrar ao menos parte da credibilidade de que já gozou, precisa voltar a atuar no modo ortodoxo.
É claro que Bolsonaro deve responder por seus
crimes —e não consigo imaginar nada mais inoportuno do que uma anistia ao
ex-presidente. Mas é importante, para não dizer fundamental, que ele seja
julgado no mérito pelos delitos mais graves que cometeu. Acho que não faltam
elementos para montar bons casos contra ele, tanto pela tentativa de
golpe como pela apropriação de bens da União (joias sauditas).
E essas ações precisam ser iniciadas logo.
As heterodoxias de Moraes foram importantes
para preservar a democracia num momento em que instituições como a
Procuradoria-Geral da República (PGR) e o próprio Legislativo se omitiram. Mas
o jogo mudou. Bolsonaro já não segura a caneta presidencial e foi tornado
inelegível. A PGR voltou a funcionar. O risco de golpe está
afastado. A direita, incluindo suas variantes extremistas, não irá embora. Mas
esse é um problema com o qual precisaremos lidar de modo permanente e não mais
emergencial.
O STF, sem deixar de cumprir suas funções,
precisa distanciar-se de movimentações que possam ser lidas como políticas. É
difícil, mas não vejo outro caminho. E não é só de Moraes e seus
inquéritos que não acabam que estamos falando. A impressão de
que ministros estão fazendo jogo combinado com o governo é muito ruim. A decisão do
STF de validar a Lei das Estatais, mas permitir que Lula mantenha as
indicações que a violaram, por exemplo, é constrangedora —o exemplo mesmo do
que não deve ser feito.
" O STF, sem deixar de cumprir suas funções, precisa distanciar-se de movimentações que possam ser lidas como políticas. É difícil, mas não vejo outro caminho. E não é só de Moraes e seus inquéritos que não acabam que estamos falando. A impressão de que ministros estão fazendo jogo combinado com o governo é muito ruim. A decisão do STF de validar a Lei das Estatais, mas permitir que Lula mantenha as indicações que a violaram, por exemplo, é constrangedora — o exemplo mesmo do que não deve ser feito. "
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O Supremo tem agido certo.
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