Folha de S. Paulo
Mancadas de Lula, BC e Fazenda elevam o custo
do dinheiro, dólar e projeção de inflação
As taxas de juros estão em nível de exagero
faz pelo menos duas semanas, dizem executivos e negociantes de dinheiro de
bancos maiores. A efervescência poderia diminuir um pouco caso governo, Fazenda e Banco Central falassem
menos e dessem menos mancadas.
"Diminuir um pouco." Gente variada
do BC e até do Ministério da Fazenda diz que um sedativo duradouro vai exigir
mais do que gogó e compostura.
Vai exigir o quê?
1) "Melhorar a comunicação"
de BC e Fazenda;
2) taxa de juros alta até o final do ano.
Assim, em 2025, o BC sob nova direção, luliana, poderia deslanchar cortes na
Selic, em vez de ficar manietado;
3) Lula anunciar planos de conter gasto
com Previdência, saúde e educação;
4) baixar logo a nova norma sobre a meta de
inflação "contínua" (em vez de aferido ao fim do
ano-calendário, o descumprimento da meta seria verificado quando a inflação
ficasse por certo tempo acima ou abaixo da banda da meta; a meta seria definida
para vários anos). Seria um modo de dizer que o regime de metas está forte e
sacudido, com o alvo ainda em 3%;
5) Lula parar de avacalhar
metas de gasto e inflação, entre outros tiros no pé.
As taxas de juros de que se trata aqui são
aquelas negociadas no atacadão de dinheiro, negócios que definem o custo de
financiamento de déficits e rolagem de dívidas do governo.
A situação financeira (juros, dólar etc.) se
degrada desde meados de janeiro. Os motivos pareciam ser a volta do pessimismo
com os juros
nos EUA e a perspectiva de que o governo fosse relaxar o plano
de redução de seus déficits. A partir de meados de março, as expectativas de
inflação também passaram a piorar.
Na semana de 10 a 17 de abril, houve uma
conjunção de azares e mancadas: notícias ruins sobre inflação nos EUA; o
governo mudou as
metas fiscais; o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto,
disse que era preciso tirar o cavalinho da chuva, pois a Selic talvez não
baixasse mais 0,5 ponto. Foi um estrago em juros, dólar etc.
O ambiente se acalmou um pouquinho até a
decisão sobre a Selic de 8 de maio, quando o BC votou
dividido, supostamente entre "lulistas" e
"campos-netistas". O governo e o PT alardeiam que a Selic cairá, sem
mais, assim que a maioria da direção do BC for nomeada por Lula. O pessoal do
dinheiro acredita, imagina que haverá inflação extra e cobra mais para
emprestar ao governo.
Desde maio, diretores do BC tentam unificar o
discurso. Ainda não colou. Nesta sexta (24), Campos Neto fez novos alertas
desastrados de inflação mais alta.
Na quarta (22), Fernando
Haddad dissera que a meta de inflação era muito exigente e que
o BC deveria colaborar, baixando a Selic. Disse ainda que haveria um complô de
poderosos a fim manter a Selic nas alturas. Deu mais bobagem
com juros, dólar etc.
Apesar dos faniquitos recentes, a piora em
juros e dólar foi maior de janeiro a abril do que de abril para cá. Entre o céu
e a terra, há mais do que os fantasmas de Haddad.
A Fazenda acredita em fantasmas, conspirações
para manter juros na lua. É verdade que as estimativas de inflação e juros de
certas instituições não passam de "palhaçada", como disse um diretor
de bancão —essas projeções acabam no boletim Focus,
que fornece dados para as contas de inflação e juros do BC.
Mas essa picaretagem não determina preços,
taxas.
A Fazenda acredita também que os donos do
dinheiro deveriam agradecer o fato de que a dívida do governo não tem crescido
tão rápido quanto "o mercado" previa, por exemplo. Não é assim que
funciona. Não importa o passado, mas o que vai ser da dívida daqui em diante.
O pessoal da Fazenda pode até ganhar os
elogios que quer, da boca para fora. Mas tapinha nas costas não determina
preços, assim como promessas não pagam dívidas. Além das mancadas, essas
ingenuidades custam caro.
Sei.
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