quinta-feira, 9 de maio de 2024

William Waack - Tragédia e estatura

O Estado de S. Paulo

Preocupado com índices de popularidade, Lula 3 vai para mais um difícil teste

Nascido em grande medida do repúdio do eleitorado ao candidato adversário, o governo Lula 3 continua tendo grandes dificuldades para entender a razão do que ele mesmo descreve como problema de popularidade. É o próprio Lula.

O presidente tem desconcertado aliados históricos e velhos companheiros pela morosidade com que joga num campo onde sempre se considerou o maior craque, o da articulação e negociação políticas. Talvez ainda não consiga compreender o quanto esse campo mudou – além das regras do jogo.

Além disso, Lula 3 sofre de maneira cada vez mais acentuada com um fenômeno clássico da política, o da percepção dos fatos. Em grande parte do público ela não tem sido a que o governo esperava em relação a dados da economia, emprego e, principalmente, preços e impostos.

Imperam os “sentimentos” de que está tudo caro e a economia, parada. E não a leitura racional de números tidos como fatos auspiciosos. O “agora vai” que pudesse ter motivado mais gente, além do eleitorado fiel a Lula, foi substituído pelo “agora vai para onde?”, que é um sentimento de dúvida sobre o futuro.

Vale o mesmo para a percepção da reação do governo à catástrofe no Rio Grande do Sul. Não ajudam governo algum, muito menos o de Brasília, emoções trazidas pela percepção de que “desamparo” é uma sensação ligada a governos e órgãos públicos, enquanto a de “união e solidariedade” surge exclusivamente do esforço de milhares de cidadãos anônimos.

Tragédias não só expõem o despreparo do poder público quando se trata de planejamento e esgarçam sua capacidade de reação limitada por falta de recursos humanos e materiais. Escancaram vulnerabilidades, incluindo as fiscais, ou seja, causa preocupação o esforço suplementar imposto aos cofres públicos para enfrentar essa emergência – e o socorro é imperativo, não importa o que custe.

A extensão da catástrofe é de tal ordem a ponto de ter impedido até aqui o surgimento de um “comandante”, de instância “central” capaz de avaliar, coordenar, dirigir – o próprio governo do Estado fica pequeno diante do tamanho da destruição e das dificuldades que já se antecipa por prazos bem longos.

Enquanto isso Brasília – de novo, uma questão de percepção – parece tão distante, não importam as expressões compungidas de figuras do mundo político (incluindo do STF) sobrevoando áreas alagadas. Situações complexas, cuja essência está nas emoções e no subjetivo da política, agravadas por uma tragédia, não são apenas um dificílimo teste de popularidade para o personagem político Lula.

O verdadeiro teste é o da sua estatura.

 

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