O Globo
Debate escancarou fragilidade de democrata
para milhões de eleitores americanos
O debate ainda não contava dez minutos quando
Joe Biden sofreu o primeiro apagão. Questionado sobre o déficit público, o
presidente tentou articular um raciocínio sobre impostos e o sistema de saúde.
No meio da fala, cerrou os olhos, baixou a cabeça e pareceu esquecer o que
queria dizer.
A desorientação se repetiu outras vezes ao longo do duelo televisivo. Com olhar perdido, Biden se enrolou com as palavras, teve lapsos de memória, deixou frases pela metade. Donald Trump tripudiou da situação e desafiou o rival a fazer um teste cognitivo. “Eu realmente não sei o que ele disse no fim da última frase. E acho que ele também não sabe”, debochou.
O debate de quinta-feira escancarou a
fragilidade de Biden para milhões de eleitores americanos. Sem a ajuda do
teleprompter, o democrata se mostrou incapaz de encadear argumentos e defender
seu legado. Pior: reforçou o temor de que não teria saúde física e mental para
exercer um segundo mandato.
Biden foi o presidente mais velho a se eleger
nos EUA. Se isso não foi problema na disputa de 2020, tornou-se tema central em
2024 pelas razões expostas na TV. Ele completará 82 anos em novembro. Se
reeleito, ficaria no poder até os 86. “Passei metade da minha carreira sendo
criticado por ser muito novo”, desconversou o presidente, quando a mediadora
Dana Bash mencionou a preocupação com sua idade.
O democrata se elegeu senador pela primeira
vez em 1972, quando o noticiário americano se dividia entre a Guerra do Vietnã
e o escândalo de Watergate. Era um mundo bem diferente, e os políticos não
viviam tão expostos aos olhos do público. Hoje um presidente não consegue dar
dois passos longe da mira de uma câmera, e qualquer gafe ou tropeço viraliza
nas redes em poucos minutos.
Na véspera do debate, pesquisa Gallup
informou que 67% dos americanos já consideravam Biden velho demais para
governar. Só 37% afirmavam o mesmo sobre Trump, embora a diferença de idade
entre os dois seja de apenas três anos.
Na quinta, a preocupação de lugar ao pânico
entre os democratas. Aliados torcem para que Biden desista de concorrer, mas
ninguém ousa defender a ideia em público. Faltam menos de dois meses para a
convenção que indicará oficialmente o candidato do partido, e o presidente não
dá sinais de que vá largar o osso por iniciativa própria.
Depois do ataque ao Capitólio em 2021,
parecia inimaginável que Trump pudesse retornar ao poder. A radicalização do
eleitorado republicano e a impopularidade de Biden fizeram da distopia uma
ameaça concreta. Agora o homem que tentou destruir a democracia americana
arrisca voltar à Casa Branca pelo voto.
No debate, ele mostrou que continua o mesmo.
Empilhou mentiras, insultou adversários, instigou o medo e o ódio contra
imigrantes. Diante dos apagões de Biden, seus crimes e disparates ficaram em
segundo plano. Já foi uma vitória para quem deveria estar atrás das grades, não
em cima do palanque.
Verdade.
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