Valor Econômico
Custo político para se construir uma
candidatura vitoriosa às presidências das Casas subiu muito
O ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino marcou no calendário uma data importante para a escolha das futuras Mesas Diretoras da Câmara e do Senado: no dia 1º de agosto está convocada uma audiência de conciliação para se discutir o orçamento secreto, que, como o gato de Schrodinger, é presumido vivo e morto ao mesmo tempo. Só abrindo a caixa do experimento, com a exposição a ser feita por representantes dos deputados, senadores, TCU e do governo se saberá se a cápsula radioativa da decisão do STF de dezembro de 2022, que acabou com as emendas de relator, matou ou não o gato.
Nas palavras de Dino: “Até o presente momento, não houve a comprovação cabal nos autos do pleno cumprimento dessa ordem judicial.” Deixaram de existir as RP 9, jargão técnico que denominava as antigas emendas de relator, duto sem transparência de recursos para indicações das cúpulas da Câmara e do Senado. Dino deixa no ar a possibilidade de que o diabo tenha muitos nomes. “A mera mudança de nomenclatura não constitucionaliza uma prática classificada como inconstitucional pelo STF, qual seja, a do ‘orçamento secreto’”, escreve o ministro. Cita as RP 2 (despesas discricionárias dos ministérios), RP 8 (emendas de comissões do Congresso) e “emendas pizza”. Atenção para a expressão “emendas pizza”, tecnicamente inexistente e até então não mencionada publicamente. O ministro não explicou o que quis dizer. Uma das características da pizza é ter fatias iguais.
O que se comenta em gabinetes da Câmara é que
parte dos recursos orçamentários que antes fluíam pelas RP 9 correria por meio
da ampliação dos limites de gastos do Executivo em R$ 15,8 bilhões, viabilizada
pela recriação do Dpvat. A maior parte deste crédito foi utilizada para
benefícios previdenciários e seguro-desemprego, mas houve abertura de espaço
para pagamento das emendas de comissão, parcialmente vetadas pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva na sanção do Orçamento.
Dentro do TCU a avaliação é que não há
elementos, por enquanto, para associar diretamente esses recursos a um
mini-orçamento secreto. A audiência de agosto pode jogar alguma luz no tema.
Até lá, já terão sido feitos todos os
empenhos acertados entre governo e Legislativo antes das vedações legais para
as eleições municipais, que começam a vigorar a partir do dia 5. Aguarda-se por
exemplo, o empenho de 55% das transferências especiais, também conhecidas como
“emendas Pix”. Mas uma deliberação de Dino pode afetar o que for liberado
depois das eleições de outubro, influenciando portanto a disputa das Mesas.
A disputa no Senado parece resolvida a favor
do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), mas a da Câmara dos Deputados
caminha para uma solução somente em fevereiro. Ela se desenvolverá em alguns
lances. O primeiro, provavelmente em agosto, será uma tomada de posição do
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). As maiores apostas são de que
declare apoio ao líder do União Brasil na Casa, Elmar Nascimento (BA).
Se isso ocorrer, é bastante provável que o
vice-presidente da Casa, Marcos Pereira (Republicanos-SP) busque uma aliança
com os partidos de dois outros pretendentes menos cotados, o MDB de Isnaldo
Bulhões (AL) e o PSD de Antônio Brito (BA).
Na época do orçamento secreto a pleno vapor a
situação era muito menos fluida e o controle da cúpula das Casas Legislativas
sobre a base mais firme. A atenuação desse mecanismo empoderou individualmente
os parlamentares, já que as emendas individuais impositivas foram turbinadas.
O custo político para se construir uma
candidatura vitoriosa às presidências das Casas subiu muito, sobretudo na
Câmara. Lira conta com a pauta para construir alianças com o PL do
ex-presidente Jair Bolsonaro e com bancadas de grupo de pressão, como a dos
ruralistas. Quanto mais se restringir o Orçamento, maior será a dependência de
concessões na pauta para manter a hegemonia.
Está dentro desse roteiro, por exemplo, a PEC
9, que anistia partidos políticos pelo não cumprimento de cotas. As multas da
Justiça Eleitoral podem devorar os recursos que os próprios partidos recebem
dos fundos públicos para a disputa da eleição.
O governo talvez se adiante para não
trabalhar com fatos consumados. Não está descartado no PT apoio a nenhum dos
postulantes. Há uma avaliação de que Elmar larga em vantagem. Mas Pereira conta
com as insatisfações que o estilo de Lira foi acumulando ao longo do tempo: o
esvaziamento das comissões com a criação de grupos de trabalho e a definição da
pauta do plenário em cima da hora são dois entre os fatores lembrados.
Pereira deve aguardar o movimento de Lira
antes de agir. O Republicanos é um partido que negocia uma federação com o PP,
partido do presidente da Câmara, e está profundamente vinculado com os projetos
eleitorais da oposição, cenário que não se alterou com a ida de Silvio Costa
Filho para o Ministério dos Portos e Aeroportos. Uma aliança com o governo não
é a sua opção preferencial para se viabilizar, segundo avaliação de
interlocutores do deputado.
A divisão dentro do Centrão deve jogar a
definição só para depois de dezembro, quando o próximo Orçamento for votado. Um
ruído que se crie na negociação orçamentária pode abrir caminho até para um
“outsider”, como Severino Cavalcanti foi em 2005.
AVALIAÇÃO REQUINTADA, COM ALTO GRAU DE PRECISÃO
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