Folha de S. Paulo
Antecipar eleições legislativas contando com
reação de moderados foi grande erro de cálculo
Emmanuel Macron apostou alto ao convocar eleições legislativas antecipadas e perdeu. Ao que tudo indica, ele imaginava que a perspectiva de a ultradireita conquistar maioria na Assembleia Nacional mobilizaria os eleitores para impedir tal desfecho. Foi com base nessa lógica —evitar a eleição de Marine Le Pen— que o próprio Macron se consagrou duas vezes presidente da França. Mas, desta vez, não funcionou.
É preciso aguardar o segundo turno das legislativas, a realizar-se no próximo
domingo, para saber o tamanho exato da vitória da extrema direita, mas ela é
inegável. A Reunião Nacional (RN), partido de Le Pen, obteve 33% dos votos
(contra 28% da coalizão de esquerda e 21% do centro macronista) e fará um
número recorde de cadeiras na Assembleia. Se a esquerda e o centro se
entenderem e conseguirem forjar alianças estratégicas nos distritos (no sistema
francês, disputam o returno todos os candidatos que obtiveram mais de 12,5% dos
votos), poderão reduzir o prejuízo e eventualmente evitar a ascensão de um
primeiro-ministro da RN. Qualquer cenário representa uma derrota fragorosa para
Macron, que não precisava ter antecipado o pleito.
Cientistas políticos debatem se o mundo de fato vive uma recessão democrática ou, hipótese mais provável, se ficamos com essa impressão porque alguns países de grande visibilidade, como EUA, o Brasil sob Bolsonaro e agora a França, experimentam dificuldades. Qualquer que seja a resposta, podemos identificar mudanças no padrão de votação que são compatíveis com uma evolução cultural globalizada. Aparentemente, eleitores, talvez por terem se acostumado com a retórica cada vez mais inflamada das redes sociais, estão perdendo o medo do extremismo político. Durante décadas, candidatos mainstream moldavam seus discursos e posições para não parecer radicais e não afastar os moderados. Hoje nos perguntamos onde foram parar os moderados.
Verdade,em 2002 Ciro Gomes despencou nas pesquisas porque fez uma declaração machista,que comparada às falas de Bolsonaro soava quase ingênua.
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