Folha de S. Paulo
Livro conta a história do encontro e dos
desencontros entre Spinoza e Leibniz, na encruzilhada da modernidade
"The Courtier and the Heretic" (o
cortesão e o herege), de Matthew Stewart, não é exatamente um livro novo (saiu
em 2007), mas, como gostei bastante de um título mais recente do autor ("An
Emancipation of the Mind", que já comentei aqui), resolvi
experimentar. Não me arrependi. "The Courtier..." é até melhor do que
"An Emancipation...".
Em "The Courtier...", Stewart conta a história do encontro e dos subsequentes desencontros entre dois dos mais notáveis filósofos do século 17, Spinoza e Leibniz, que não poderiam ser mais diferentes, nem mais semelhantes.
Spinoza é o grande nome da modernidade.
Percebeu que o avanço das ciências criaria problemas para o Deus pessoal dos
religiosos e aceitou as consequências. Sua filosofia equipara Deus à natureza,
tirando-lhe qualquer espaço de atuação, e nega a existência de milagres e de
uma vida após a morte no modelo das religiões. Não é surpresa que tenha sido
excomungado pela comunidade judaica de Amsterdã e vilipendiado por todos os
teólogos da Europa. "Judeu ateu" é a expressão menos insultuosa
dirigida a ele.
Leibniz leu e entendeu Spinoza, mas se
recusava a abandonar o Deus pessoal. Não por ser um carola inveterado (ele não
ia à igreja), mas por achar que as pessoas precisam de religião para viver em
paz. Na tentativa de resgatar esse Deus, criou um sistema engenhoso mas
abstruso, com suas mônadas e mundos possíveis (vivemos no melhor deles), que
virou motivo de chacota de Voltaire e Jonathan Swift. Pior, Stewart mostra que,
no fundo, Leibniz continuou sendo um spinozista, mas "no armário".
Tão interessante quanto a investigação filosófica que Stewart nos apresenta são suas observações sobre a psicologia dos dois filósofos, notadamente a de Leibniz, uma figura muito mais difícil de destrinchar do que Spinoza. O alemão, afinal, é um daqueles raros personagens que pode ser pintado como gênio, vilão e pessoa bem-intencionada.
Sei.
ResponderExcluir