quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Bernardo Mello Franco - Dez anos sem Campos

O Globo

Há dez anos, um acidente aéreo chocou o país e mudou o rumo da corrida presidencial. Na noite de 12 de agosto de 2014, Eduardo Campos se apresentou aos eleitores em entrevista ao Jornal Nacional. Na manhã seguinte, estava morto. O jatinho que o transportava caiu em Santos, onde ele cumpriria agenda de campanha.

O funeral reuniu a República e arrastou uma multidão pelas ruas do Recife. Marina Silva, que era sua vice, assumiu a cabeça de chapa e disparou nas pesquisas. Desidratou na reta final e acabou fora do segundo turno.

O candidato do PSB era apontado como o político mais habilidoso de sua geração. Aos 49 anos, já havia sido ministro e governador duas vezes. Lula tentou convencê-lo a adiar o sonho presidencial e apoiar Dilma Rousseff em troca de uma aliança no futuro. Campos conhecia o PT e não era bobo. Preferiu apostar em si mesmo.

Suas gestões em Pernambuco pareciam um bom trampolim para saltos maiores. O plano de segurança derrubou a taxa de homicídios e recebeu prêmios internacionais. O investimento em inovação atraiu empresas e transformou o estado num polo tecnológico. Quando ele deixou o governo, praticamente não tinha mais oposição. Todos os antecessores vivos foram aplaudir sua despedida.

A unanimidade não foi construída só à base de conversa. Campos unia o discurso moderno a métodos antiquados, como a nomeação de parentes e a farta distribuição de cargos. Em 2011, acampou em Brasília até emplacar a mãe no Tribunal de Contas da União. Dizendo combater a velha política, juntou-se a símbolos do atraso como Severino Cavalcanti e Inocêncio Oliveira.

Neto de Miguel Arraes, figura lendária da esquerda, Campos era pouco ideológico e muito pragmático. Transformou o PSB numa Arca de Noé capaz de abrigar a ambientalista Marina Silva e a ruralista Tereza Cristina. Ontem Lula disse que via no aliado “um futuro presidente”. Pode ser, mas ele ainda teria que enfrentar as investigações da Lava-Jato, que passaram a citá-lo com frequência após a tragédia.

Hoje a dinastia pernambucana é chefiada por João Campos, prefeito mais jovem da história do Recife. Aos 30 anos, ele é franco favorito à reeleição em outubro. E já sonha com o Palácio do Campo das Princesas, onde despacharam o pai e o bisavô.

 

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