Correio Braziliense
A desoneração da folha de pagamento é uma
batalha perdida para o governo, que enviou projeto de lei para compensar a
perda de arrecadação, depois da derrubada dos vetos
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), pretende votar ainda nesta semana os projetos da desoneração da folha
de pagamento de empresas de diversos setores da economia, da dívida dos estados
e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66/2023, que prevê o parcelamento
especial de débitos dos municípios.
A desoneração da folha de pagamento é uma
batalha perdida para o governo, que enviou o Projeto de Lei 1.847/2024 depois
da derrubada dos vetos à desoneração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
pelo Congresso. Segundo Pacheco, ainda há divergências com o governo. A Lei
14.784, de 2023, prorrogou a desoneração por quatro anos, mas deve ser
substituída pelo projeto a ser votado ainda nesta quarta-feira.
Existe concordância do governo de que não deve alterar impostos, principalmente a contribuição social sobre o lucro líquido. Busca-se um acordo para compensação da desoneração da folha de pagamento com medidas que não representem aumento de imposto. Entre essas propostas, estão a repatriação de recursos no exterior, a regularização e a atualização de valor de ativos. “Eu acho que nós conseguimos virar a página da questão da desoneração esta semana”, disse Pacheco.
O governo já fez acordo com o presidente do
Senado sobre o Projeto de Lei Complementar (PLP) 121/2024, que institui o
Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), para promover a
revisão dos termos das dívidas dos estados e do Distrito Federal com a União.
Apresentado por Pacheco em julho, o texto tem como objetivo apoiar a
recuperação fiscal dos estados e do Distrito Federal, além de criar condições
estruturais de incremento de produtividade, enfrentamento das mudanças
climáticas, melhoria da infraestrutura, segurança pública e educação.
Nesta terça-feira, em Brasília, o governador
do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e toda a bancada gaúcha
pressionavam o governo para aumentar e agilizar o repasse de recursos para que
o estado possa se reerguer economicamente, depois da tragédia ambiental deste
ano. Leite pleiteia o repasse ao estado do valor da compensação previdenciária
de funcionários públicos que passaram a trabalhar para o governo estadual. O
montante pode chegar a R$ 1 bilhão. Segundo o governador, é um instrumento de
apoio da União ao RS, em um momento de baixa arrecadação do governo gaúcho,
parte por reflexo do rescaldo das chuvas que atingiram o estado em maio deste
ano.
O governador tucano também disse que outra
sugestão apresentada à União foi a antecipação do pagamento de precatórios
federais por parte da União referentes à imunidade tributária da Corsan
(Companhia Riograndense de Saneamento), desestatizada em 2023. “Embora nós
tenhamos privatizado a companhia de saneamento, no processo de privatização nós
deixamos esse precatório como um ativo para o estado. A gente trouxe como um
elemento em que a União pode fechar um acordo com o estado”, disse Leite. Nas
contas do governo gaúcho, o valor a ser pago por meio dos precatórios pode
chegar a R$ 1,2 bilhão.
Precatórios e dívidas
A PEC 66/2023, que também deve ser votada
pelo Senado, trata exatamente do pagamento de precatórios e da regularização
das dívidas previdenciárias, mas no âmbito municipal. A ideia é incluir os
estados na emenda constitucional. Há conflitos de interesses da federação,
estados que pretendiam de um modo e outros estados de outro, há estados
endividados e não endividados, estados cujo fundo de equalização pela
distribuição do FPE (Fundo de Participação dos Estados) são favorecidos, outros
são menos favorecidos.
Segundo Pacheco, há um senso geral no Senado
de que esse problema da dívida dos estados é o maior problema federativo do
Brasil. “É uma ilusão achar que IPCA mais 4% sobre esse histórico de dívida vai
ser um dia pago. Não será. Há esse sentimento geral dos estados, do governo
federal, do Ministério da Fazenda, do Senado Federal. Pacheco se articula com o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para negociar em bloco com o
governo.
Outro assunto polêmico são as chamadas
emendas Pix, que transferem recursos diretamente do Orçamento da União para
prefeituras, sem necessidade de destinação do valor ou projetos. As decisões do
ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que limitam a execução
das emendas orçamentárias individuais do tipo transferência especial, estão
sendo contestadas pelos parlamentares. Pacheco pretende que o assunto seja
resolvido pelo Congresso.
“As emendas parlamentares são institutos
legítimos de participação no Orçamento por aqueles que são representantes
votados pelo povo brasileiro, que têm a compreensão das necessidades dos muitos
municípios, dos muitos estados do Brasil, mas, ao mesmo tempo, sempre se
exigindo transparência, regularidade, previsibilidade, isonomia, que é algo
que, nessa discussão toda no Supremo, tem se ventilado muito”, ressaltou.
Verdade.
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