O Globo
O repórter Mateus Vargas revelou que o
governo decidiu impor pelo menos dois anos de sigilo para os resultados de 33
pesquisas que custaram à Viúva R$ 13 milhões. Alguns desses levantamentos foram
realizados no governo de Bolsonaro.
Segundo a Secretaria de Comunicação do
Planalto, o conhecimento dos resultados dessas pesquisas pode “trazer maiores
prejuízos à sociedade do que os benefícios de sua divulgação”. Diante de um
recurso da “Folha de S. Paulo”, a Controladoria-Geral da União, entrou na
questão e defendeu o sigilo:
“A sua disponibilização possui o potencial de
trazer à tona informações distorcidas referentes a uma política pública a ser
implantada, frustrar expectativas e gerar a propagação de informações
equivocadas.”
Sabe-se que algumas dessas pesquisas
referiam-se às falas de Lula sobre a guerra de Gaza e sobre as ações do governo
contra o crime organizado.
O governo que atacava os sigilos impostos por
Bolsonaro, bloqueia o conhecimento de simples pesquisas de opinião. Nada a ver
com o segredo sobre ações sigilosas.
Tudo coisa de burocrata onipotente, pois o embargo incluiu até o preço do serviço, disponível em outra base de dados.
Essa espécie de funcionário que se investe de
poderes para decidir o que a população deve saber é imortal. Em 1974, durante a
ditadura, ele tentava bloquear notícias sobre a epidemia de meningite que
assolava São Paulo. Meses depois, o governo tomou uma surra eleitoral, e o
embargo foi um dos fatores da derrota.
Além de imortal, ele é universal. Em 1945, o
governo americano bloqueava qualquer notícia relacionada ao seu projeto de
fabricação de uma bomba atômica. Estava certo, mas na manhã do dia 6 de agosto,
um general impediu que um repórter divulgasse a explosão da bomba sobre a
cidade japonesa de Hiroshima, ocorrida horas antes. Vá lá, o general queria
esperar para que o presidente Harry Truman anunciasse o feito. Na outra ponta,
o governo japonês minimizava o estrago.
No Japão, fotografias de Hiroshima só foram
publicadas em 1952.
O povo americano sempre soube o que aconteceu
em Hiroshima, mas um quadro completo só veio à luz quando o repórter John
Hersey publicou sua reportagem na revista New Yorker, um ano depois.
O general que havia bloqueado a notícia da
explosão de 1945 foi ouvido informalmente pela revista e liberou o texto de
Hersey.
O sigilo imposto pela Secom e pela AGU às 33
pesquisas seria levantado daqui a dois anos, quando tiver terminado o governo
de Lula. Pura censura de conveniência.
A lição de Zappa
De uma hora para outra o governo brasileiro
viu-se metido em duas saias-justas na América Latina. Um com o governo
bolivariano da Venezuela. Outra, que tem cheiro de operação casada, com a
ditadura sandinista da Nicarágua, que expulsou o embaixador Breno de Souza da
Costa.
A tendência de governos esquerdistas para
arrumar brigas com eventuais aliados é histórica. Nos primeiros anos da
revolução cubana, Fidel Castro encrencava com o democrata Rômulo Betancourt, da
Venezuela.
O piti do ditador Daniel Ortega, pode ser
ignorado, pois as relações com a Nicarágua são desprezíveis. Já com a Venezuela
há interesses em jogo e entendimentos passados.
Nicolás Maduro joga com o fator tempo e até
agora prevaleceu. O pior que pode acontecer ao Brasil é entrar num jogo de
perde-ganha, no qual sua diplomacia sairá derrotada se o ditador venezuelano
continuar na cadeira.
Vale a pena lembrar uma lição do embaixador
Ítalo Zappa (1926-1997). Ele era chefe de gabinete do chanceler e, diante de
uma controvérsia diplomática, perguntaram-lhe: “Quem ganhou?”
Zappa respondeu: “Ganhar ou perder é coisa do
prédio ao lado. (Naquele tempo, o Itamaraty funcionava ao lado do Ministério do
Exército.) Diplomata é um funcionário encarregado de defender os interesses do
Estado. Quando ele faz isso, nada lhe custa dizer que perdeu. Não se incomoda
se a outra parte, tendo cedido, diz-se vitoriosa. Nossa profissão é trazer para
casa o interesse nacional. Ganhar ou perder, nas relações internacionais, não é
coisa de diplomatas.”
Em 1903, quando o Barão do Rio Branco
negociou com a Bolívia a anexação do Acre, Rui Barbosa o acusou de ter cedido
demais.
Rio Branco ficou calado.
Francis e Ortega
A cada passo do nicaraguense Daniel Ortega
transformando-se num ditador de caricatura, cresce a admiração pela implicância
intuitiva do jornalista Paulo Francis (1930-1997).
Ele começou a aporrinhar Ortega quando o
chefe sandinista foi a Nova York, entrou numa loja chique e comprou um par de
óculos de grife.
À época, Ortega era um queridinho dos viúvos
do Che Guevara.
Rodrigo Avila cantou a pedra
A polícia do Maranhão encontrou R$ 1,1 milhão
no carro de um ex-servidor da prefeitura de São Luís. Tanto o dono do carro
quanto o cidadão que o dirigia (outro ex-servidor) negam que o dinheiro lhes
pertença.
Nada de novo sob o céu de anil. Em 1969, um
comando da Vanguarda Popular Revolucionária roubou um cofre guardado na casa da
namorada ao ex-governador paulista Adhemar (“Rouba mas faz”) de Barros. A
senhora disse que o cofre estava vazio. Arrombado, dele saíram US$ 2,5 milhões
(mais de 20 milhões em dinheiro de hoje).
A canção “Desde a época de Cabral”, de
Rodrigo Avila, poderia servir de fundo musical para o trabalho dos
investigadores:
“Desde a época de Cabral corrupção era
normal/Mas eu sei, que o tempo já passou/Também sei, que nada mudou.”
A PF se meteu na briga dos presentes
O diretor da Polícia Federal, Andrei
Rodrigues, perdeu uma excelente oportunidade de ficar calado. Ele emitiu uma
nota dizendo que o caso das joias sauditas de Bolsonaro continuará a ser
investigado, a despeito da decisão do Tribunal de Contas liberando o relógio
Cartier de Lula
Misturar os dois casos é comparar girafa com
alface, mas não compete à Polícia Federal brandir ameaçadoramente com o
prosseguimento de inquéritos. A PF investiga e encaminha suas conclusões à
Justiça, se possível, em silêncio.
Polícia Federal amiga do Planalto era coisa
de Bolsonaro, que defenestrou o ministro Sergio Moro para influir na sua
superintendência do Rio de Janeiro.
Trump x Kamala
Dia 10 de setembro haverá de ter uma noite de
emoções olímpicas com o debate entre Kamala Harris e Donald Trump.
O ex-presidente saiu-se razoavelmente
debatendo com Joe Biden em 2020 e preveleceu em 2016 debatendo com Hillary
Clinton.
Biden é um sujeito de bons modos e Hillary é
um produto da elite americana. Foi de Yale para o grupo de assessores da
promotoria no Caso Watergate, que resultou na renúncia do presidente Richard
Nixon. Tornou-se mulher do governador do Arkansas e presidente dos Estados
Unidos por oito anos. Voltando ao governo, foi secretária de Estado.
Era uma flor do andar de cima. Já Trump, é um
espertalhão educado nas mutretas do mercado imobiliário de Nova York. Um
milionário vira-lata.
Kamala Harris é uma ex-promotora, habituada a
lidar com delinquentes. Com a caneta na mão, foi um mastim. A ver.
Acho que o colunista não conhece Donald Trump... Defini-lo como "espertalhão educado nas mutretas do mercado imobiliário de Nova York e milionário vira-lata" é uma piada de mau gosto. Um jornalista tão bem informado é incapaz de chamar o candidato pelo que realmente é: MAIOR MENTIROSO DA POLÍTICA DOS EUA, CRIMINOSO CONDENADO, GOLPISTA. A coluna de hoje foi decepcionante do início ao fim.
ResponderExcluirAtirando para todos os lados.
ResponderExcluirGaspari seguidamente nos mostra aspectos interessantes da vida política nos EUA. Mas hoje não conseguiu descrever minimamente o ex-presidente já condenado pela Justiça de lá. Não pode ser por falta de informações!
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