quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Fernando Exman - Entra no radar revisão da estimativa para o PIB

Valor Econômico

Governo estima que a economia vai crescer em 2024 mais do que os 2,5% previstos

O governo está convencido de que a economia vai crescer em 2024 mais do que os 2,5% previstos até agora.

É mais do que a mediana do mercado captada pelo Boletim Focus do Banco Central (BC), de 2,20%, embora muitas casas também já estejam revendo para cima suas projeções. Mas enquanto esse movimento vai se cristalizando, internamente a discussão já ocorre em pelo menos três camadas no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios.

A primeira delas, técnica, vinha sendo conduzida de forma discreta. Ganhou corpo após a reunião ministerial conduzida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada. E o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre o assunto em público na segunda-feira (12).

Ocorreu uma atualização em relação ao tom observado em uma declaração dele mesmo feita em meados de julho. Momentos antes de a Secretaria de Política Econômica (SPE) da pasta divulgar nova versão do Boletim Macrofiscal, Haddad antecipou a jornalistas que pedira “parcimônia” e “cautela” à área técnica. Como resultado, a projeção de alta do PIB, de 2,5%, foi mantida.

O cenário no Rio Grande do Sul, recém-atingido pelas enchentes que destruíram parte considerável do Estado e provocaram incomensuráveis perdas humanas, exigia prudência. Ainda assim, a área técnica avaliava que impactos negativos de até 0,4 ponto percentual do PIB estimados por alguns não estavam se confirmando. Por outro lado, alguns efeitos econômicos positivos de médio e longo prazos com a recuperação do Estado poderiam ser maiores do que o estimado inicialmente.

Uma autoridade explica que uma grande catástrofe como a que ocorreu no Rio Grande do Sul destrói, além de vidas, o estoque de capital físico do local da tragédia. Um processo de reconstrução, por sua vez, gera fluxo: emprego, renda e mobilização de materiais. “E PIB é fluxo”, acrescenta.

Desde então, outros indicadores entraram no radar da equipe econômica e vêm sendo monitorados. Entre eles, dados e emprego e massa salarial. Também foram divulgados relatórios apontando crescimento da confiança empresarial. E nessa terça-feira (13), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que em junho o setor de serviços registrou seu melhor resultado no ano, após oscilações em torno da estabilidade.

Em paralelo, dirigentes de bancos públicos asseguram a interlocutores que é positiva a expectativa em relação à próxima safra e há crescente demanda por crédito imobiliário. Isso se soma à avaliação de ministros de que os investimentos em infraestrutura estão ganhando corpo e podem, assim como ocorreu neste ano com a boa herança estatística deixada pelo PIB de 2023, assegurar que a economia inicie 2025 sem perder tração.

É aí que entra a segunda camada dessa discussão, a esfera política. A economia é tema central nas pesquisas de avaliação. Na mais recente sondagem do Datafolha, por exemplo, 42% dos entrevistados viam piora na economia, ante 26% que citaram melhora. A situação estava igual para 29%.

Essa percepção ficou estável na comparação com levantamento realizado em junho. E melhorar esse índice é visto no governo como fundamental para o projeto eleitoral de 2026. Até lá, contudo, o desafio do governo também será melhorar a percepção do mercado em relação à política econômica.

Sob esta terceira perspectiva, além de menos volatilidade no curto prazo, a intenção é construir um caminho tendo em vista a recuperação do grau de investimento.

Acredita-se que muitas das incertezas que se avolumavam ao longo do tempo foram retiradas do horizonte de empresários e investidores. Uma delas foi a publicação do decreto que estabeleceu o novo sistema de meta contínua para a inflação, enquanto outra foi a posterior manutenção dessa meta em 3%, com intervalo de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Após turbulências nas bolsas, o Executivo também sinalizou que cortaria R$ 25,9 bilhões do Orçamento do ano que vem e anunciou uma contenção considerável das despesas de 2024. O presidente Lula, em uma mensagem depois reforçada por diversos ministros, comprometeu-se a respeitar o arcabouço fiscal.

Sabe-se que esse é um trabalho permanente. À medida que uma dúvida é mitigada, outra pode aparecer à frente.

Neste momento, a ideia é tentar retirar outras inseguranças do caminho. O plano é neutralizar as indefinições em relação à sucessão no Banco Central (BC) e como a autoridade monetária deve atuar sob nova administração, em um momento de grande preocupação com a inflação e o cenário internacional. Nos próximos dias, precisará ainda apresentar uma proposta orçamentária para 2025 que seja considerada responsável. E há pendências a resolver em relação às contas de 2024.

Ainda não se fala abertamente de percentuais. No entanto, executado esse plano, a revisão para cima da projeção do PIB viria acompanhada de outras notícias de impacto. Seria feito um contraponto à “convenção” de descrença observada entre alguns agentes do mercado, mas que, na visão do governo, não está baseada em fatos e dados.

 

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