quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Bernardo Mello Franco - Política da cadeirada

O Globo

Coach e apresentador apostam na negação da política para seduzir eleitores em SP

"Não sou político", diz Pablo Marçal. "Não quero ser político", repetia José Luiz Datena. Com estilos diferentes, o coach e o apresentador apostam na mesma tática. Negam a política para seduzir o eleitor e conseguir votos.

No domingo, a dupla protagonizou o pior momento da eleição de São Paulo. Até agora. Em debate na TV, Marçal chamou Datena de "arregão" e o desafiou a enfrentá-lo. O apresentador atravessou o cenário e atingiu o rival com uma cadeirada.

A agressão fez a TV Cultura interromper a transmissão ao vivo. Com ar assustado, o mediador Leão Serva incorporou o espírito de Flávio Cavalcanti: "Nossos comerciais, por favor". Para esticar o intervalo, a emissora apelou a um concerto de música clássica.

Às vésperas de escolher o próximo prefeito, São Paulo virou palco de outro tipo de show. A eleição foi capturada pela lógica das redes, que premia o escândalo e o entretenimento.

Forjado nesse ambiente, o coach conseguiu arrastar os concorrentes para a lama. Agora os políticos profissionais parecem imitar seus truques, num vale-tudo por cliques e audiência na internet.

Antes da cadeirada, os dois candidatos da antipolítica já haviam mostrado que não têm nenhum compromisso além da autopromoção.

Datena não aprendeu nem o nome dos técnicos que redigiram seu plano de governo. Em entrevista, admitiu que muitos itens do documento, registrado na Justiça Eleitoral, seriam "inviáveis".

Em outro debate na TV, Marçal ironizou a cobrança para que apresentasse alguma ideia para São Paulo: "Quem quer proposta de governo vai no site do TRE. Tá tudo lá", debochou.

 

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