O Globo
As empresas precisam respeitar as regras e
legislações dos países onde estão localizadas
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem insistido que é necessário taxar as empresas gigantes da tecnologia, as big techs. As principais delas — como Microsoft, Google, X, Amazon, Alibaba, Facebook/WhatsApp, Apple — têm valor de mercado hoje próximo a US$ 10 trilhões, muito maior que o PIB de toda a América Latina. Haddad acerta em querer taxá-las, mas seu objetivo é apenas aumentar a arrecadação — isso, segundo ele, representaria R$ 5 bilhões adicionais aos cofres públicos. Trata-se de medida tímida diante da ameaça que elas representam à economia e, principalmente, à democracia. A reação arrogante e desrespeitosa de Elon Musk, dono do X, à decisão do STF (querendo apenas que a legislação brasileira fosse cumprida) e, portanto, a nosso país é bem típica do que está para acontecer com as big techs.
A ameaça para a economia ocorre, pois hoje há
amplo consenso de que os mercados digitais não funcionam mais no interesse da
sociedade, mas sim no interesse das próprias big techs. Cada uma dessas
megaempresas cresceu nos últimos anos de forma avassaladora e, invariavelmente,
aniquilando seus competidores. Veja-se o caso do Google, que detém praticamente
o monopólio dos mecanismos de busca. Nem o Departamento de Justiça dos Estados
Unidos conseguiu arranhar esse monopólio.
Além disso, as big techs usam as enormes
bases de dados de seus clientes para extrair informações em proveito próprio e
vender mais produtos e serviços dentro de uma lógica de dominação total do
mercado. Tomam decisões que afetam toda a sociedade sem consultar ninguém e sem
estar submetidas a qualquer tipo de governança. Um absurdo, se levarmos em
conta que usam os dados de seus consumidores e usuários para exercer controle
sobre eles.
Mas o impacto sobre a economia, apesar de
nefasto, não é o pior. Assustador é o poder político dessas empresas, pois
muitas funções sociais e de infraestrutura que deveriam estar na mão do Estado
hoje estão nas mãos delas. O mais grave é que esse poder transcende as
fronteiras dos países e a própria geopolítica para se constituir em poder sobre
o planeta.
Elas também têm o poder de coibir o que
consideram fake news e, com isso, muitas vezes conseguem influir no resultado
de eleições. Muitos países estão extremamente preocupados e começam a discutir
leis para tentar disciplinar a atuação das megaempresas. O Brasil é um deles.
Mas é tarefa dificílima, pois consiste em regular o espaço digital, algo que
nunca foi sequer tentado e para o que a humanidade ainda não está preparada.
Justamente aqui está a principal vantagem competitiva das big techs, pois elas têm
competência e habilidade para atuar nesse território imenso.
É o caso das nuvens. Todos nós,
principalmente todas as empresas, precisam armazenar seus dados nas nuvens. Só
que hoje apenas quatro big techs dominam 95% desse mercado.
Em qualquer setor da economia, as empresas
precisam respeitar as regras e as leis dos países onde estão localizadas. No
caso das big techs, fica muito mais difícil, pois elas é que definem em que
data center de que país querem armazenar que tipo de dado. Fazem isso sem pedir
autorização a governo algum.
Cobrar impostos adicionais dessas
megaempresas, da mesma forma como já fazem diversos países europeus e
asiáticos, é necessário, mas não suficiente. Urge implantar mecanismos que
coíbam o crescimento do poder delas sobre os mercados, impedindo a competição,
e principalmente sobre a democracia. Antes tarde do que nunca.
Excelente! Eliane Cantanhêde também aborda situação semelhante na sua coluna de hoje. As 2 leituras se complementam. Enquanto isto, o Anão Lira mantém o projeto de regulamentação parado na Câmara.
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