Valor Econômico
Para presidente do PSB, esquerda deveria ir para o divã após 2º turno
Atuando na política há quatro décadas, com 35
deles filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), o presidente da legenda,
Carlos Siqueira, é um observador experiente da cena política nacional. Neste
ano, ele completou dez anos na presidência do PSB, função que assumiu após a
morte trágica de Eduardo Campos na campanha de 2014. Ele recebeu a coluna para
uma conversa na sede do PSB nessa quinta-feira, a três dias das eleições.
Siqueira já se acostumou aos apelos dos candidatos nos últimos dias pré-eleição por mais recursos para a campanha. Quando ouve a reclamação de que o adversário gastará o dobro ou o triplo na campanha, ele responde ter convicção de que o postulante do PSB vencerá o adversário mesmo com menos dinheiro, e porque é mais preparado para o cargo.
Dos R$ 4,9 bilhões do fundo eleitoral, o PSB
levou a fatia de R$ 150,8 milhões, com base no número de cadeiras da bancada na
Câmara dos Deputados. O montante equivale a 1/10 do que arrebataram, juntos, PL
(R$ 863 milhões) e PT (R$ 604,2 milhões), quase R$ 1,5 bilhão. Para ilustrar, o
PSD, que tem o quarto maior fundo eleitoral, com R$ 427 milhões, não conseguirá
tirar do prefeito de Recife e estrela do PSB, João Campos, a reeleição, com
votação expressiva.
Em 2018, na última semana de campanha, um
candidato ao Senado entrou no gabinete de Siqueira, na sede do partido, com um
embrulho de presente em mãos. Com um largo sorriso, entregou o presente: uma
gravata de seda italiana, elegante e cara. Em seguida, fez um apelo dramático
por mais recursos para a campanha porque estava em desvantagem em relação ao
adversário.
Siqueira ponderou que a campanha estava no
fim, precisava economizar para o segundo turno e o candidato já havia recebido
o teto de gastos para a sua campanha, equivalente a R$ 3,5 milhões na época.
Contrariado, o candidato mirou o pacote desfeito sobre a mesa e resmungou que
não deveria ter levado o presente. Deu as costas e saiu de mãos vazias. Ao fim,
o candidato deixou o PSB no ano seguinte, mas a gravata está até hoje no
armário de Siqueira.
O PSB teve o melhor desempenho em eleições
municipais há mais de uma década. Foi em 2012, ainda sob a presidência de
Eduardo Campos, então governador de Pernambuco, e já aquecendo os motores para
o voo presidencial. A sigla cresceu 50,8% no total de votos, passando de 5,7
milhões para 8,6 milhões, e também registrou uma alta de 37,8% no número de
prefeitos eleitos, de 314, em 2008, para 433 naquele ano. Nas capitais, além de
Recife, o PSB também governava Belo Horizonte.
O desempenho não se repetiu mais. Em 2016, o
PSB elegeu 407 prefeitos, e em 2020, o número caiu para 252. Ainda assim, uma
performance melhor que a do PT, que elegeu 254 em 2016, e o número encolheu
para 183 em 2020.
Agora Siqueira admite que o partido não terá
um desempenho relevante, mas destaca vitórias pontuais como a reeleição com
votação expressiva de João Campos em Recife, a provável reeleição em primeiro
turno do prefeito Doutor Daniel, em Ananindeua, cidade da grande Belém com meio
milhão de habitantes. Em São Paulo, comemora que Tabata Amaral deverá
ultrapassar 10% das intenções de votos em uma das eleições mais concorridas da
capital, consolidando-se como liderança de expressão nacional.
O presidente do PSB ressalta, todavia, que a
campanha do deputado Guilherme Boulos (Psol) pelo “voto útil” nessa reta final
atrapalha as negociações para eventual apoio de Tabata ao seu nome no segundo
turno.
Em uma rápida avaliação do cenário
pré-eleições de domingo, Siqueira vê a esquerda em dificuldades em todas as
regiões do país. Acha alarmante a situação na região Norte, onde a esquerda já
foi bem votada. E vê com preocupação a conjuntura no Nordeste, principal reduto
eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, onde os partidos de
centro-esquerda só têm chances concretas de vencer prefeituras em Recife, com
João Campos, e em Teresina (PI), com o PT. Mas há chance de segundo turno na
capital piauiense. O PT batalha por uma vaga no segundo turno em Fortaleza
(CE), mas sem garantia de sucesso.
O presidente do PSB identifica vários
problemas para esse declínio da esquerda. Um deles é a tendência mundial de
expansão do conservadorismo, com exceções pontuais, como o Reino Unido. Outro é
a falta de renovação de lideranças desse espectro.
Ele também vê conflito de ideias. “Tem
partido de esquerda que acha que a Venezuela é um país socialista”, criticou,
em alusão velada ao PT. “E tem a esquerda democrática, que pensa diferente.”
Ele lamentou as críticas ouvidas, de interlocutores de fora da militância
política, que lhe perguntam se é o “socialismo da Venezuela ou da Nicarágua”
que o PSB quer introduzir no Brasil. “Esse comportamento de uns prejudica toda
a esquerda”, criticou.
Por fim, ele acha complicado um país, onde
apenas 30% do eleitorado vota na esquerda, possuir cinco partidos nesse campo
programático: PSB, PT, PCdoB, PDT e Psol.
Ele acredita que após o resultado do segundo
turno, as legendas de esquerda deveriam sentar-se no divã para fazer uma
leitura realista da conjuntura que as têm levado ao encolhimento. “Não podemos
escamotear os problemas, precisamos fazer uma análise profunda do crescimento
do conservadorismo no mundo”.
Parte da esquerda, ainda, está com os dois pés afundados no século 19. Tem gente que vive na/da burocracia do funcionalismo, sindical, partidária, das estatais e delas não querem sair de jeito nenhum. Descem o malho no " conservadorismo ", como se ele fosse o maior pecado do mundo, mas não conseguem oferecer qualquer projeto alternativo de melhorias para o eleitorado. Nas últimas décadas, estão perdendo a tal " guerra de narrativas " e não sabem o que fazer.
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