O Globo
Candidato diz que votação de Marçal
"acendeu um alerta" na esquerda, mas discurso do empreendedorismo já
vence eleições em SP desde 2016
Na quinta-feira, Ricardo Nunes deu uma
desculpa esfarrapada para faltar a mais um debate em São Paulo. Na ausência do
prefeito, Guilherme Boulos concedeu uma entrevista. A conversa revisitou temas
como o apagão e as pesquisas eleitorais. Na passagem mais reveladora, o
candidato ensaiou uma autocrítica sobre as dificuldades da esquerda nas urnas.
Boulos disse que a votação de Pablo Marçal “acendeu um alerta” no campo progressista. “Tivemos a compreensão e a humildade de fazer um mea-culpa e uma autocrítica. Nós não dialogamos com um setor importante dos trabalhadores”, afirmou ao consórcio Folha/UOL/RedeTV!.
O candidato admitiu que a esquerda “deixou de
falar” com eleitores que desistiram do emprego formal para “buscar sua
prosperidade de outra forma, por conta própria”. “Na ausência de diálogo com
este segmento, a extrema direita ocupou o espaço”, constatou.
O diagnóstico de Boulos está correto, mas
parece atrasado. O fenômeno que ele descreve já atropela seu grupo político há
pelo menos três eleições paulistanas. Despontou em 2016, quando o empresário
João Doria, dono da revista “Caviar Lifestyle”, apresentou-se como “João
Trabalhador”. Ele venceu no primeiro turno, triunfando em redutos tradicionais
do PT.
No ano seguinte, a Fundação Perseu Abramo
apresentou a pesquisa “Percepções e valores políticos nas periferias de São
Paulo”. O documento alertou os petistas para uma transformação em sua base
social. Os trabalhadores haviam comprado a “ideologia do mérito” e a teologia
da prosperidade, propagada por pastores evangélicos. Passavam a ver o Estado
como inimigo e o esforço individual como único caminho para melhorar de vida.
“No imaginário da população não há luta de
classes”, anotaram os pesquisadores. “Para os entrevistados, o principal
confronto existente na sociedade não é entre ricos e pobres, capital e
trabalho. O grande confronto se dá entre Estado e cidadãos”, escreveram.
O estudo mostrou que a pregação liberal havia
seduzido trabalhadores autônomos ou precários, que passavam a se identificar
como empreendedores: “Muitos assumem o discurso propagado pela elite e pelas
classes médias apontando a burocracia e os altos impostos como empecilhos ao
empreendedorismo”.
Movidos pelo sonho de enriquecer, moradores
da periferia passavam a se guiar por uma lógica individualista, que liga a
ascensão social à disciplina e à força de vontade. “A noção de público é menos
associada àquilo que pertence a todos e mais com o que é gratuito e de má
qualidade”, afirmou o estudo da Perseu Abramo.
O texto terminou com uma sugestão que parece
não ter sido levada a sério: sem abrir mão de seus valores, a esquerda
precisava “produzir narrativas mais consistentes e menos maniqueístas ou
pejorativas” sobre temas como família, religião e segurança.
A pesquisa de 2017 ajuda a entender a eleição
de 2024, quando um aventureiro que demoniza o Estado e vende cursos sobre a
“arte de prosperar” faturou 28% dos votos. É improvável que Boulos consiga se
aproximar dos eleitores do coach com promessas de última hora, como a isenção
de rodízio para motoristas de aplicativo.
" sem abrir mão de seus valores, a esquerda precisava “produzir narrativas mais consistentes e menos maniqueístas ou pejorativas” sobre temas como família, religião e segurança. "
ResponderExcluir😏😏😏
Não adianta, o que esse pessoal da esquerda morre de saudade é de tudo que rolou no tempo de Lula 2000/2008, onde só eles decidiam, não tinham oposição, roubava e não eram incomodados.....
ResponderExcluirSe Boulos fosse menos agressivo talvez ganhasse todas as eleições do mundo.
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