terça-feira, 15 de outubro de 2024

César Felício - Debate da Band teve vencedor, mas pode não virar votos

Valor Econômico

Apagão domina debate com candidato do Psol na ofensiva

O apagão iniciado sexta-feira em São Paulo pautou o debate da TV Bandeirantes entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado Guilherme Boulos (Psol), como era previsível A estratégia de Nunes foi bater na tecla de que cabe ao governo federal e ao Congresso atuar contra a distribuidora Enel, que seria, na visão que procurou passar, integral responsável pela anormalidade que ainda afeta a cidade. Boulos mencionou algo mais visível a olho nu, que é a responsabilidade sobre a poda das árvores que caíram. Poda de árvores é tema municipal. Programação de semáforos também.

Dentro desse formato, a discussão do tema foi desvantajosa para o prefeito, dificilmente teria como ser diferente. O eleitor afetado vê o que está adiante de si, e não o contexto do que o Ministério de Minas e Energia poderia ter feito e não fez. É o prefeito que está na ponta. A emergência da crise dificulta a abstração e a avaliação racional do contexto em que se encaixa o tema das concessões de energia elétrica.

Boulos retomou temas já explorados anteriormente nos mais de dez debates realizados em São Paulo, como as investigações sobre o suposto envolvimento de Nunes em irregularidades em contratos de creches. Insistiu sobre o recebimento ou não “de um cheque do Santander” e provocou o prefeito ao propor que ambos abrissem seus sigilos bancários.

Nunes não respondeu a essas provocações claramente e, ao fazer o contra-ataque, disse que Boulos estava desesperado pela sua desvantagem nas pesquisas. Soou arrogante. O melhor momento do prefeito foi ao reagir de maneira descontraída a um movimento intimidatório de Boulos, que se aproximou do prefeito, com as mãos para trás. Os dois candidatos ficaram a palmo e meio de distância. “Você está bem?”, perguntou Nunes, sorrindo. “Estou bem, e você?”, respondeu Boulos. “Você não vai me intimidar”, disse o prefeito. Ambos então ensaiaram um abraço. Mas Nunes pouco depois demonstrou nervosismo ao derrubar papéis no chão.

O prefeito também novamente não teve habilidade em administrar seu tempo de fala, deixando no primeiro e no último bloco Boulos falar por último. Gaguejou e ofegou ao falar sobre o contraste entre a sua atuação durante a pandemia de covid-19 e o “mea culpa” que fez em relação à instituição do passaporte da vacina, uma reverência que fez para se aproximar do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Enfim, Nunes não foi bem e Boulos manteve a ofensiva o tempo todo. Paradoxalmente, isso talvez beneficie o emedebista. A agressividade de um candidato, passando do ponto, pode ser contraproducente. Para citar um exemplo histórico, em 1998 houve um debate entre o então governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, que era do PT, e o ex-governador Joaquim Roriz, do MDB. Cristovam aplicou um 7 a 1 em Roriz, humilhado ao vivo na TV com um desempenho constrangedor.

Nos dias subsequentes Roriz subiu nas pesquisas e Cristovam caiu. Roriz ganhou a eleição. Um dos fatores que consistentemente alimenta a rejeição bastante alta a Boulos é exatamente a imagem de radical e agressivo. Boulos ganhou o debate, mas pode ter passado do ponto. Se ganhou votos é outra história.

 

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