Valor Econômico
Apagão domina debate com candidato do Psol na ofensiva
O apagão iniciado sexta-feira em São Paulo
pautou o debate da TV
Bandeirantes entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado Guilherme Boulos
(Psol), como era previsível A estratégia de Nunes foi bater na
tecla de que cabe ao governo federal e ao Congresso atuar contra a
distribuidora Enel, que seria, na visão que procurou passar, integral
responsável pela anormalidade que ainda afeta a cidade. Boulos mencionou algo
mais visível a olho nu, que é a responsabilidade sobre a poda das árvores que
caíram. Poda de árvores é tema municipal. Programação de semáforos também.
Dentro desse formato, a discussão do tema foi desvantajosa para o prefeito, dificilmente teria como ser diferente. O eleitor afetado vê o que está adiante de si, e não o contexto do que o Ministério de Minas e Energia poderia ter feito e não fez. É o prefeito que está na ponta. A emergência da crise dificulta a abstração e a avaliação racional do contexto em que se encaixa o tema das concessões de energia elétrica.
Boulos retomou temas já explorados
anteriormente nos mais de dez debates realizados em São Paulo, como as
investigações sobre o suposto envolvimento de Nunes em irregularidades em
contratos de creches. Insistiu sobre o recebimento ou não “de um cheque do
Santander” e provocou o prefeito ao propor que ambos abrissem seus sigilos
bancários.
Nunes não respondeu a essas provocações
claramente e, ao fazer o contra-ataque, disse que Boulos estava desesperado
pela sua desvantagem nas pesquisas. Soou arrogante. O melhor momento do
prefeito foi ao reagir de maneira descontraída a um movimento intimidatório de
Boulos, que se aproximou do prefeito, com as mãos para trás. Os dois candidatos
ficaram a palmo e meio de distância. “Você está bem?”, perguntou Nunes,
sorrindo. “Estou bem, e você?”, respondeu Boulos. “Você não vai me intimidar”,
disse o prefeito. Ambos então ensaiaram um abraço. Mas Nunes pouco depois
demonstrou nervosismo ao derrubar papéis no chão.
O prefeito também novamente não teve
habilidade em administrar seu tempo de fala, deixando no primeiro e no último
bloco Boulos falar por último. Gaguejou e ofegou ao falar sobre o contraste
entre a sua atuação durante a pandemia de covid-19 e o “mea culpa” que fez em
relação à instituição do passaporte da vacina, uma reverência que fez para se
aproximar do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Enfim, Nunes não foi bem e Boulos manteve a
ofensiva o tempo todo. Paradoxalmente, isso talvez beneficie o emedebista. A
agressividade de um candidato, passando do ponto, pode ser contraproducente.
Para citar um exemplo histórico, em 1998 houve um debate entre o então
governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, que era do PT, e o
ex-governador Joaquim Roriz, do MDB. Cristovam aplicou um 7 a 1 em Roriz,
humilhado ao vivo na TV com um desempenho constrangedor.
Nos dias subsequentes Roriz subiu nas
pesquisas e Cristovam caiu. Roriz ganhou a eleição. Um dos fatores que
consistentemente alimenta a rejeição bastante alta a Boulos é exatamente a
imagem de radical e agressivo. Boulos ganhou o debate, mas pode ter passado do
ponto. Se ganhou votos é outra história.
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