Folha de S. Paulo
Minoria no Brasil, ela não é pequena nem
irrelevante
Há muito enraizadas na base do sistema
político, as forças de direita saíram ainda mais encorpadas das recentes eleições municipais.
Como se sabe, tais forças se espalham por muitos partidos —entre eles, ganharam
os mais pragmáticos e dispostos a negociar e compartilhar o governo federal com
o PT.
Jair Bolsonaro quedou apequenado na disputa, embora as legendas que abrigam seus correligionários mais fiéis —PL e Republicanos— tenham crescido em número de prefeituras (de 556 para 949) e população que administram (de 7,5% para 18,2 % dos brasileiros). A extrema direita é de fato minoritária no voto e na simpatia que lhe dedicam os brasileiros. Não é um caso isolado.
Em "Apoio e Rejeição à Ultradireita –
estudo comparado sobre Argentina, Brasil e Chile" (2024), pesquisadores da
Universidade Católica do Chile, liderados por Cristóbal Rovira Kaltwasser,
concluíram que cerca de 1/3 dos votantes desses países dão inequívoco suporte a
líderes como Jair Bolsonaro, Javier Milei e José Antonio Kast. Essa proporção
se parece com a da Europa Ocidental, onde o populismo de extrema direita se
tornou uma força política considerável, não obstante ser rejeitado pela maioria
do eleitorado.
Baseados em pesquisas de opinião realizadas
nos três países em 2023, os autores mostram que há diferenças importantes entre
os apoiadores dos populistas autoritários e a maioria que promete jamais votar
em qualquer deles. Para surpresa de ninguém, os primeiros são menos afeiçoados
à democracia, têm posturas mais conservadoras em temas como aborto e casamento
igualitário, são ultraliberais em economia, demandam políticas duras para
combater a delinquência e são antifeministas e xenófobos.
Sim, a extrema direita é minoria no Brasil,
mas não é pequena, tampouco irrelevante. Mais doutrinária do que a direita
pragmática, gerou mudanças importantes na cultura política nacional. Alterou a
sintaxe do debate público ao dar destaque a questões antes periféricas na
formação das preferências do eleitorado. Assim, a religião de cada qual; as
formas de organização familiar; a decisão de ter filhos; a identidade de
gênero; a atitude diante das drogas; os modelos de educação pública se
transformaram em linhas divisórias entre o "bem" e o "mal".
A ultradireita é também mais engajada e
militante, hoje disputando lugares tradicionalmente colonizados pelos
agrupamentos de esquerda, como conselhos municipais, sindicatos e outras
organizações sociais —além de levar muita gente a manifestações de rua.
Finalmente, seus votos contam nas disputas
majoritárias para prefeituras, governos estaduais e Presidência. Eis por que,
seja qual for o matiz do candidato direitista, ao menos no segundo turno ele
cortejará o apoio de líderes mais extremados. Em consequência, terá de
incorporar pontos da agenda radical dessa facção e o sotaque de seu discurso
reacionário.
A presença da minoria ultradireitista no
sistema político e na sociedade organizada altera os termos da disputa pelo
poder e propõe desafios novos para as forças progressistas.
Verdade,a direita que come de garfo e faca,com diz o Pondé,acaba se contaminando com a ala radicalizada que come no cocho.
ResponderExcluirIsso é que a conversa fiada o resto é brincadeira
ResponderExcluirExcelente texto!
ResponderExcluir