terça-feira, 29 de outubro de 2024

Partidos pêndulo estão mais fortes - Míriam Leitão

O Globo

Grandes vencedores da eleição, posição do PSD e MDB em 2026 dependerá da capacidade de construção de alianças de cada campo

Os partidos pêndulo saíram mais fortes dessas eleições. Os maiores vencedores, PSD e MDB, integram hoje administrações de esquerda e de direita. O PSD de Gilberto Kassab está no governo de São Paulo e, portanto, na aliança de direita que impôs à esquerda a sua maior derrota ao ajudar a eleger Ricardo Nunes, do MDB. Os dois partidos têm ministérios no governo Lula. O PSD, no Rio e em Belo Horizonte, e o MDB, no Pará, derrotaram candidatos bolsonaristas. Para onde irão esses dois partidos em 2026 vai depender da capacidade de construção de alianças eleitorais de cada campo. O eleitor derrotou o extremismo da direita e mandou recado para a esquerda de que ela precisa se repensar.

Quem apareceu com o kit “sou contra as vacinas, a democracia e danem-se as mulheres” foi cortado pelo eleitor e isso explica a derrota de Jair Bolsonaro. Mas, antes de comemorarmos a ideia de que a direita moderada ganhou a eleição, é preciso pensar em São Paulo. No dia da votação, urnas abertas, o governador Tarcísio de Freitas, do Republicanos, lançou uma bomba contra o candidato Guilherme Boulos. Usou o fato de controlar as polícias para dizer que interceptou mensagem do sistema prisional, do crime organizado, indicando o voto em Boulos. Não mostrou provas, nem se desmentiu. Deu desculpas informais que nada explicam. É grave o que fez o governador. Isso cria para a Justiça Eleitoral a obrigação de saber como agir — e punir — quem lança laudos falsos ou desinformação, contra seu adversário quando as urnas estão abertas e há pouco tempo hábil para reverter um eventual estrago. Se esse vale tudo for aceito, porque o governador é poderoso, será um precedente perigoso.

O MDB sempre teve capilaridade municipalista e é natural que esteja entre os que ficaram com mais prefeituras. Foi da base do governo Fernando Henrique e da base de governos petistas. Nas eleições municipais, fez, como outros partidos, diferentes alianças, ora com a esquerda, ora com a direita. A direção do partido me disse que, mesmo quando apoiou a direita, foi contra candidato bolsonarista e citou o exemplo de Curitiba, Manaus, Cuiabá e Goiânia. Em São Paulo, no entanto, Ricardo Nunes só não foi o candidato bolsonarista porque Bolsonaro não quis. Ele nunca aderiu à campanha, por mais que Tarcísio de Freitas tenha insistido. No interior de São Paulo, o MDB aliou-se ao PT em disputas como a de Araraquara, que perdeu para o PL, e de Matão e Mauá, no ABC, onde o PT venceu.

Essa mistura de alianças contraditórias é comum nos partidos brasileiros. Parece mesmo uma geleia geral. O Republicanos, que foi tão importante no governo Bolsonaro, tem hoje ministério no governo Lula. O mesmo se pode dizer do PP. O PSD, que cresceu em parte pegando o espólio do PSDB e em parte pela habilidade do seu presidente Gilberto Kassab, se diz de centro. Mas está num projeto de direita, que começa a se formar em torno de Tarcísio de Freitas. No discurso de vitória, Ricardo Nunes chamou Tarcísio de “líder maior” e disse que “seu sobrenome é futuro”. Na mesma fala, Nunes faz menção burocrática a Jair Bolsonaro.

O poder vive da expectativa de poder. A inelegibilidade de Bolsonaro faz com que outras lideranças disputem esse campo tendo em vista 2026. Há dois estilos. O explícito, de Ronaldo Caiado, que se declarou candidato e enfureceu Bolsonaro. O ex-presidente o atacou em Goiânia, onde esteve pessoalmente no dia da eleição e perdeu para Caiado. E há o estilo Tarcísio. Ele se prepara para ser uma alternativa a Bolsonaro, mas sempre faz deferências ao ex-chefe. Com quem estarão os partidos pêndulo em 2026? Kassab já disse que seu partido quer chegar à presidência, mas que, por Tarcísio, abre mão de um projeto exclusivo.

Há quem diga que as urnas rejeitaram os extremismos, como se fossem dois extremos. Há apenas um extremismo, o de Bolsonaro que, de fato, colecionou derrotas. A esquerda teve um desempenho fraco, mostrando que precisa de maior conexão com o eleitorado. Não basta ao PT colocar o máximo de partidos no balaio do governo para ser visto como frente ampla. Precisa realmente construir alianças para 2026. Até o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, fala em buscar o centro. O centrão sempre quer aderir a todos os governos. Os partidos pêndulo não são exatamente do centrão, e são essenciais na formação de uma aliança eleitoral com chance de vitória.

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