O Globo
Grandes vencedores da eleição, posição do PSD
e MDB em 2026 dependerá da capacidade de construção de alianças de cada campo
Os partidos pêndulo saíram mais fortes dessas eleições. Os maiores vencedores, PSD e MDB, integram hoje administrações de esquerda e de direita. O PSD de Gilberto Kassab está no governo de São Paulo e, portanto, na aliança de direita que impôs à esquerda a sua maior derrota ao ajudar a eleger Ricardo Nunes, do MDB. Os dois partidos têm ministérios no governo Lula. O PSD, no Rio e em Belo Horizonte, e o MDB, no Pará, derrotaram candidatos bolsonaristas. Para onde irão esses dois partidos em 2026 vai depender da capacidade de construção de alianças eleitorais de cada campo. O eleitor derrotou o extremismo da direita e mandou recado para a esquerda de que ela precisa se repensar.
Quem apareceu com o kit “sou contra as
vacinas, a democracia e danem-se as mulheres” foi cortado pelo eleitor e isso
explica a derrota de Jair
Bolsonaro. Mas, antes de comemorarmos a ideia de que a direita
moderada ganhou a eleição, é preciso pensar em São Paulo. No dia da votação,
urnas abertas, o governador Tarcísio de
Freitas, do Republicanos, lançou uma bomba contra o candidato Guilherme
Boulos. Usou o fato de controlar as polícias para dizer que
interceptou mensagem do sistema prisional, do crime organizado, indicando o
voto em Boulos. Não mostrou provas, nem se desmentiu. Deu desculpas informais
que nada explicam. É grave o que fez o governador. Isso cria para a Justiça
Eleitoral a obrigação de saber como agir — e punir — quem lança laudos falsos
ou desinformação, contra seu adversário quando as urnas estão abertas e há
pouco tempo hábil para reverter um eventual estrago. Se esse vale tudo for aceito,
porque o governador é poderoso, será um precedente perigoso.
O MDB sempre teve capilaridade municipalista
e é natural que esteja entre os que ficaram com mais prefeituras. Foi da base
do governo Fernando Henrique e da base de governos petistas. Nas eleições
municipais, fez, como outros partidos, diferentes alianças, ora com a esquerda,
ora com a direita. A direção do partido me disse que, mesmo quando apoiou a
direita, foi contra candidato bolsonarista e citou o exemplo de Curitiba,
Manaus, Cuiabá e Goiânia. Em São Paulo, no entanto, Ricardo Nunes só não foi o
candidato bolsonarista porque Bolsonaro não quis. Ele nunca aderiu à campanha,
por mais que Tarcísio de Freitas tenha insistido. No interior de São Paulo, o
MDB aliou-se ao PT em disputas como a de Araraquara, que perdeu para o PL, e de
Matão e Mauá, no ABC, onde o PT venceu.
Essa mistura de alianças contraditórias é
comum nos partidos brasileiros. Parece mesmo uma geleia geral. O Republicanos,
que foi tão importante no governo Bolsonaro, tem hoje ministério no governo
Lula. O mesmo se pode dizer do PP. O PSD, que cresceu em parte pegando o
espólio do PSDB e em parte pela habilidade do seu presidente Gilberto Kassab,
se diz de centro. Mas está num projeto de direita, que começa a se formar em
torno de Tarcísio de Freitas. No discurso de vitória, Ricardo Nunes chamou
Tarcísio de “líder maior” e disse que “seu sobrenome é futuro”. Na mesma fala,
Nunes faz menção burocrática a Jair Bolsonaro.
O poder vive da expectativa de poder. A
inelegibilidade de Bolsonaro faz com que outras lideranças disputem esse campo
tendo em vista 2026. Há dois estilos. O explícito, de Ronaldo Caiado, que se
declarou candidato e enfureceu Bolsonaro. O ex-presidente o atacou em Goiânia,
onde esteve pessoalmente no dia da eleição e perdeu para Caiado. E há o estilo
Tarcísio. Ele se prepara para ser uma alternativa a Bolsonaro, mas sempre faz
deferências ao ex-chefe. Com quem estarão os partidos pêndulo em 2026? Kassab
já disse que seu partido quer chegar à presidência, mas que, por Tarcísio, abre
mão de um projeto exclusivo.
Há quem diga que as urnas rejeitaram os
extremismos, como se fossem dois extremos. Há apenas um extremismo, o de
Bolsonaro que, de fato, colecionou derrotas. A esquerda teve um desempenho
fraco, mostrando que precisa de maior conexão com o eleitorado. Não basta ao PT
colocar o máximo de partidos no balaio do governo para ser visto como frente
ampla. Precisa realmente construir alianças para 2026. Até o presidente do
PL, Valdemar
Costa Neto, fala em buscar o centro. O centrão sempre quer aderir a
todos os governos. Os partidos pêndulo não são exatamente do centrão, e são
essenciais na formação de uma aliança eleitoral com chance de vitória.
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