O Estado de S. Paulo
Terá havido nesta sexta-feira a última última
reunião para ultimar o pacote de corte de gastos do governo Lula. Não sei se
houve. Ou melhor: reunião houve. Não sei se conclusiva. Improvavelmente
conclusiva. Talvez tenha havido até mais de uma última reunião, da qual – a
única certeza – algum ministro saiu declarando que na pasta dele ninguém
mexeria.
Processo clássico de desidratação do pacotão
misterioso, conforme estimulado pelo presidente. Mantido blindado – sangrando –
um conjunto de medidas contra o qual, ao deixar o Planalto, seus colaboradores
imediatamente disparam.
Marinho, Lupi, Dias: cada um a seu modo se antecipando para expor Haddad e promover Lula. Que – destacam – continuaria sendo Lula. E, sendo Lula, jamais desvincularia as despesas previdenciárias da forma de aumento do salário mínimo. Não estarão errados.
Errado tampouco estando aquele que descrer da
possibilidade de Lula, sendo Lula, executar o que Haddad e Tebet prometeram:
corte de gastos estruturais. Foram eles que prometeram. Para animar o arcabouço
natimorto muito louco fiscal, projetaram até montante – algo entre R$ 30
bilhões e R$ 50 bilhões. E então se puseram a correr, no improviso, para ter o
que apresentar. Foram eles os especuladores originais.
As mensagens-respostas à especulação que
difundiram estão todas postas. Posta a falta de credibilidade. Já não basta
prometer. Nem anunciar qualquer coisa. Já não bastará fazer volume somente. O
corte – se quiserem bom humor – precisa derivar de alguma reforma de estrutura.
Não terão sobrado muitas opções dessa natureza. E natureza é natureza.
Este é o governo pente-fino. E Lula é Lula.
Marinho, Lupi e Dias são Lula. Rui Costa é Lula. Haddad e Tebet são Lula
também. Lula cozinha. Assim exerce o poder. E natureza é natureza.
Com o que as urnas trouxeram em 2024, aqui e
lá fora, será mais fácil imaginar corte de gastos a valer – desvincular o
crescimento dos pisos de saúde e educação do movimento da arrecadação, por
exemplo – ou remanejamentos-puxadinhos para abrir espaço fiscal e tentar
empurrar a bagaça até 26? (Se será possível enrolar, aí é outra história.)
Foi uma semana de reuniões. Semana de
boicotes e interdições. Isso no mundo real. No da fantasia, tivemos o ministro
da Fazenda falando em “consenso em torno de um princípio” e anunciando seguidos
dias seguintes.
Amanhã que ainda não chegou. Segundo o Haddad
de quarta-feira, “faltariam coisas realmente muito singelas para decidir” na
quinta. Foise a quinta. Autorizado o cronista a concluir que, não tendo sido
tão simples a vida na sexta, o governo pente-fino não terá ainda conseguido
reunir piolhos graúdos capazes de somar bilhões.
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