O Globo
Se Trump cumprir sua agenda econômica, eles
subirão em vez de cair, por causa do aumento das tarifas de importação
Donald Trump fez da economia tema central da
campanha. Para ele, os Estados
Unidos passam por uma crise sem precedentes que destrói a vida
das famílias. Prometeu consertar isso e garantir uma onda de prosperidade. No
grande comício no Madison Square Garden, em Nova York,
assegurou:
— Nós vamos derrotar a inflação rapidamente.
De outro lado da cena, Jerome Powell,
presidente do Federal Reserve, o banco central, pensa exatamente o contrário.
Sua descrição da realidade americana hoje:
— O mercado de trabalho continua sólido, a
economia está sólida, e a inflação diminuiu substancialmente.
Os números dão razão a Powell.
O PIB americano cresce ao ritmo de 2,8% anuais, de acordo com os últimos dados, de outubro. A inflação, em 12 meses, caiu para 2,3%, baixa e quase na meta do Federal Reserve. O desemprego é de 4,1%, nível historicamente muito baixo. Houve algum ganho de renda. Trata-se de um caso de sucesso mundial: derrubou-se a inflação sem jogar o país na recessão.
Entretanto a maioria dos eleitores americanos
comprou o relato de Trump. Estariam todos equivocados, já que os números estão
corretos? Não é possível que os trabalhadores estejam se sentido bem, que as
famílias se sintam confortáveis e, mesmo assim, sejam todos convencidos por um
candidato de que, na verdade, estão passando mal.
A história é mais complicada. Considerem a
inflação. De fato, caiu de maneira expressiva. Depois de longo período de juros
altos, desabou de 10% ao ano para os atuais 2,3%. Mas os preços não caíram —
eis o ponto. Suponha que um produto subiu de 10 para 11 num determinado mês.
Inflação de 10%. Suponha agora que, no mês seguinte, esse produto continue
custando 11. A inflação agora deu zero, mas o preço não caiu.
No pós-pandemia, a economia americana entrou
numa espiral de alta de preços que durou até o ano passado. Quando se diz que a
inflação agora está em queda, isso significa que os preços estão subindo menos,
não que voltaram ao nível anterior à pandemia. Mas é normal que todos pensem no
preço quando se fala de inflação. Vão ao supermercado, saem às compras,
percebem que tudo ficou mais caro e permanece mais caro.
Em especial, os dados mostram que comida e
aluguéis comem o orçamento das famílias de renda mais baixa. A gasolina também.
Olhando para essa realidade, entre outras, entende-se por que 70% dos
americanos disseram, nas pesquisas, que o país caminha na direção errada. De
algum modo, Trump percebeu esse desconforto e bateu na inflação, nos preços
altos, no custo de vida, na carestia, como se dizia.
Os eleitores, portanto, votaram no candidato
que, para eles, derrubará os preços. Foi o que mostraram diversas reportagens
depois das eleições. Eleitores de Trump comemorando, por antecipação, gasolina
mais barata. Até porque o presidente eleito promete produzir mais petróleo. E
aqui vai uma das tantas contradições. Se Trump cumprir sua agenda econômica, os
preços subirão em vez de cair. Isso por causa do já anunciado aumento nas
tarifas de importação.
Os Estados Unidos são os maiores importadores
do mundo. No ano passado, compraram no exterior nada menos do que US$ 3,8
trilhões. Compram de tudo, mas muito especialmente bens de consumo. Aumento de
tarifa é aumento de preço direto. Tem mais: Trump promete elevar as tarifas de
importação de todos os países que vendem para os Estados Unidos, mas com carga
maior para os produtos originários da China. Justamente de onde
partem 18% das compras americanas. Já olharam na capa de seu iPhone?
Diz lá: “Projetado na Califórnia, montado na China”.
Outro tremendo desconforto aproveitado por
Trump tem a ver com a China. Ou com a transferência de fábricas de empresas
americanas para a China, efeito da globalização. Produzir bens de consumo é
mais caro nos Estados Unidos. Logo, se companhias americanas resolverem levar
suas fábricas de volta para casa, como quer Trump, os produtos ficarão mais
caros. As pontas não fecham, mas Trump acha que pode enganar todo mundo todo o
tempo.
Já reparou? A biba de "tramp" não aparece quando o texto tem como base dado e fato. MAM
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