terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Golpismo no Brasil segue organizado e sem pudor - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Lição de casa bolsonarista desconsidera ou refuta investigação da PF e trata Braga Netto como herói

Cláudio Castro recebeu os jornalistas para um balanço de fim ano —como se tivesse grandes realizações a destacar. Acabou defendendo o indefensável: a política de segurança pública do Rio. Entre outras platitudes, disse que "o criminoso perdeu o medo do Estado". Poderia completar o pensamento dizendo que não há mais medo porque o criminoso muitas vezes está dentro do Estado.

Com esperança de eleger-se ao Senado em 2026, Castro engrossou o coro golpista afirmando ver "um excesso de criminalização" na prisão de Braga Netto e não encontrar "elementos claros" contra o general palaciano, investigado por participação no plano para monitorar, prender ou matar o ministro do STFAlexandre de Moraes, o presidente eleito, Lula, e o vice na chapa, Geraldo Alckmin. Formado em direito, o governador terá lido o relatório da Polícia Federal, com quase 900 páginas, ou decorou uma rápida e rasteira lição de casa bolsonarista?

No primeiro momento, impactados com a gravidade dos indícios revelados pela PF, os representantes da extrema direita silenciaram sobre o golpe que tentou manter o capitão reformado no Planalto. Logo se organizaram, adotando o discurso da perseguição política e até da anistia aos participantes da insurreição fascista de 8 de janeiro, rejeitada por 62% da população, segundo o Datafolha. Com sua cara de paisagem, Cláudio Castro lamentou que "o Brasil está perdendo a capacidade de virar a página".

O governador de São PauloTarcísio de Freitas, usou todos os clichês do golpismo: "Há uma narrativa disseminada contra o presidente Jair Bolsonaro e que carece de provas". E o de Goiás, Ronaldo Caiado, filosofou: "E daí? A vida continua. Se eu fosse ficar preocupado com as pequenas coisas, não governaria".

Mesmo amargando o ressentimento de não ter sido convidado para a festa, o general Mourão subiu na tribuna do Senado para defender Braga Netto. Ao definir o colega de farda, caprichou no beletrismo: "Um velho soldado encanecido a serviço da pátria".

O Datafolha mostrou que 69% dos brasileiros querem a democracia; 8% preferem a ditadura. O problema é que os últimos são persistentes.

 

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