Folha de S. Paulo
Lição de casa bolsonarista desconsidera ou
refuta investigação da PF e trata Braga Netto como herói
Cláudio Castro recebeu os jornalistas para um balanço de fim ano —como se tivesse grandes realizações a destacar. Acabou defendendo o indefensável: a política de segurança pública do Rio. Entre outras platitudes, disse que "o criminoso perdeu o medo do Estado". Poderia completar o pensamento dizendo que não há mais medo porque o criminoso muitas vezes está dentro do Estado.
Com esperança de eleger-se ao Senado em 2026, Castro engrossou o coro golpista afirmando ver "um excesso de criminalização" na prisão de Braga Netto e não encontrar "elementos claros" contra o general palaciano, investigado por participação no plano para monitorar, prender ou matar o ministro do STF, Alexandre de Moraes, o presidente eleito, Lula, e o vice na chapa, Geraldo Alckmin. Formado em direito, o governador terá lido o relatório da Polícia Federal, com quase 900 páginas, ou decorou uma rápida e rasteira lição de casa bolsonarista?
No primeiro momento, impactados com a
gravidade dos indícios revelados pela PF, os representantes da extrema direita
silenciaram sobre o golpe que tentou manter o capitão reformado no Planalto.
Logo se organizaram, adotando o discurso da perseguição política e até da
anistia aos participantes da insurreição fascista de 8 de janeiro, rejeitada
por 62% da população, segundo o Datafolha. Com sua cara de paisagem, Cláudio
Castro lamentou que "o Brasil está perdendo a capacidade de virar a
página".
O governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas, usou todos os clichês do golpismo: "Há uma narrativa
disseminada contra o presidente Jair Bolsonaro e que carece de provas". E
o de Goiás, Ronaldo Caiado, filosofou: "E daí? A vida continua. Se eu
fosse ficar preocupado com as pequenas coisas, não governaria".
Mesmo amargando o ressentimento de não ter
sido convidado para a festa, o general Mourão subiu na tribuna do Senado para
defender Braga Netto. Ao definir o colega de farda, caprichou no beletrismo:
"Um velho soldado encanecido a serviço da pátria".
O Datafolha mostrou que 69% dos brasileiros
querem a democracia; 8% preferem a ditadura. O problema é que os últimos são
persistentes.
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