terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Passo histórico - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A comemoração do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) só durou uns poucos dias e a expectativa para que se torne realidade pode consumir muitos meses, ou anos, depois de um quarto de século de pressões, negociações, idas e vindas, muxoxos e caras feias. Na verdade, porém, esse acordo é importantíssimo para os dois blocos, particularmente para o Brasil, e não “apenas” pelo impacto nas importações e exportações em condições camaradas, mas muito além disso.

Mais do que um acordo comercial, trata-se de uma parceria estratégica entre os 27 países europeus e os quatro sulamericanos que envolve redução de tarifas de produtos de diferentes setores, num mercado que passa de 700 milhões de pessoas, mas também um diálogo político e a cooperação em várias áreas que podem impulsionar o crescimento econômico e a competitividade da indústria e da própria agricultura brasileiras.

O acordo tem também importância geopolítica, pois resgata o Mercosul da insignificância, amplia mercados para a Europa, que vem perdendo espaços relevantes para a Ásia, e permite que os dois blocos tenham uma porta de saída para a polarização entre Estados Unidos e China, da qual se tornaram reféns. A ver...

Falta convencer governos, parlamentos e setores refratários, com destaque para os agricultores franceses, que contribuem com menos de 2% do PIB do país, mas agem como se fossem donos do país, uma das maiores economias europeias. Se a Alemanha lidera o apoio ao acordo, com Portugal e Espanha, a França está no lado oposto, junto com a Polônia.

Para o presidente Lula, não muito diplomático, “a França não apita mais nada”. Na verdade, o acordo, no primeiro momento, é mais importante para a própria Europa do que para o Mercosul. Logo, a resistência francesa não é problema daqui, é de lá. Eles que se virem para tourear o Parlamento e o governo enfraquecido de Emmanuel Macron.

Por aqui, a área agrícola já vinha sendo bem negociada pela então ministra da Agricultura, a agora senadora Tereza Cristina (PP-MS), mas o governo Jair Bolsonaro cedeu mais do que o razoável no setor automotivo, nas cláusulas ambientais e na abertura das compras governamentais aos europeus, inclusive na Saúde. O Itamaraty do governo Lula renegociou esses pontos e abriu caminho para a conclusão.

É assim que a diplomacia brasileira, depois dos arroubos de Lula, vai fechando o ano de 2024 com as vitórias do próprio acordo MercosulUE e o G-20. A guerra, porém, continua e vem aí a COP-30 em 2025, sem falar nas guerras reais, que ganharam um novo fator: a dramática interrogação sobre o futuro da já tão sofrida Síria. O Itamaraty vai continuar tendo muito trabalho...

 

4 comentários:

  1. Lula vai ter muita dor de cabeça além do coágulo cerebral
    Esses negócios da China,ele vai levar muita porrada política e economia

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  2. Excelente coluna! Lula mudou radicalmente (e pra muito melhor) a política externa brasileira, isolacionista e trumpista no DESgoverno anterior.

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  3. Se alguém acha que tá ruim com ele, imagina sem ele...

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