O Estado de S. Paulo
A comemoração do acordo entre Mercosul e
União Europeia (UE) só durou uns poucos dias e a expectativa para que se torne
realidade pode consumir muitos meses, ou anos, depois de um quarto de século de
pressões, negociações, idas e vindas, muxoxos e caras feias. Na verdade, porém,
esse acordo é importantíssimo para os dois blocos, particularmente para o
Brasil, e não “apenas” pelo impacto nas importações e exportações em condições
camaradas, mas muito além disso.
Mais do que um acordo comercial, trata-se de uma parceria estratégica entre os 27 países europeus e os quatro sulamericanos que envolve redução de tarifas de produtos de diferentes setores, num mercado que passa de 700 milhões de pessoas, mas também um diálogo político e a cooperação em várias áreas que podem impulsionar o crescimento econômico e a competitividade da indústria e da própria agricultura brasileiras.
O acordo tem também importância geopolítica,
pois resgata o Mercosul da insignificância, amplia mercados para a Europa, que
vem perdendo espaços relevantes para a Ásia, e permite que os dois blocos
tenham uma porta de saída para a polarização entre Estados Unidos e China, da
qual se tornaram reféns. A ver...
Falta convencer governos, parlamentos e
setores refratários, com destaque para os agricultores franceses, que
contribuem com menos de 2% do PIB do país, mas agem como se fossem donos do
país, uma das maiores economias europeias. Se a Alemanha lidera o apoio ao
acordo, com Portugal e Espanha, a França está no lado oposto, junto com a
Polônia.
Para o presidente Lula, não muito
diplomático, “a França não apita mais nada”. Na verdade, o acordo, no primeiro
momento, é mais importante para a própria Europa do que para o Mercosul. Logo,
a resistência francesa não é problema daqui, é de lá. Eles que se virem para
tourear o Parlamento e o governo enfraquecido de Emmanuel Macron.
Por aqui, a área agrícola já vinha sendo bem
negociada pela então ministra da Agricultura, a agora senadora Tereza Cristina
(PP-MS), mas o governo Jair Bolsonaro cedeu mais do que o razoável no setor
automotivo, nas cláusulas ambientais e na abertura das compras governamentais
aos europeus, inclusive na Saúde. O Itamaraty do governo Lula renegociou esses
pontos e abriu caminho para a conclusão.
É assim que a diplomacia brasileira, depois
dos arroubos de Lula, vai fechando o ano de 2024 com as vitórias do próprio
acordo MercosulUE e o G-20. A guerra, porém, continua e vem aí a COP-30 em
2025, sem falar nas guerras reais, que ganharam um novo fator: a dramática
interrogação sobre o futuro da já tão sofrida Síria. O Itamaraty vai continuar
tendo muito trabalho...
4 comentários:
Vai...
Lula vai ter muita dor de cabeça além do coágulo cerebral
Esses negócios da China,ele vai levar muita porrada política e economia
Excelente coluna! Lula mudou radicalmente (e pra muito melhor) a política externa brasileira, isolacionista e trumpista no DESgoverno anterior.
Se alguém acha que tá ruim com ele, imagina sem ele...
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