Folha de S. Paulo
Pesquisa inédita mostra que Congresso tem
derrubado os vetos presidenciais com mais frequência na última década, um dos
reflexos de mudanças institucionais que alteraram profundamente as relações
entre os Poderes no Brasil, com maior protagonismo do Legislativo e
encolhimento do Executivo
As relações
entre o Executivo e o Legislativo no Brasil são hoje completamente distintas do
que já foram. Um conjunto de instrumentos de poder usado pelo
Executivo na gestão de sua base de apoio no Congresso foi alterado
profundamente. Assim, a relação entre os Poderes acabou afetada, em prejuízo do
presidente da República e benefício do Congresso Nacional.
O Legislativo
é hoje mais poderoso do que era e tem mais controle sobre sua
própria agenda do que já teve em qualquer outro momento do atual período
democrático, pós-Constituição
de 1988. No passado, era possível falar em um Poder Executivo que
"tratorava" o Congresso, tangenciando o Legislativo.
A preponderância legislativa do Executivo se
dava pela força excepcional das medidas provisórias, pela extensa
discricionariedade no contingenciamento orçamentário e pela alocação de
ministérios. Como reduziram-se os poderes do presidente, resultado de mudanças
feitas pelo Congresso, tudo mudou.
Não há proposição legislativa de origem do
Executivo, incluindo medidas provisórias, que saia do Congresso incólume.
Enquanto as proposições de autoria do Legislativo transformadas em lei crescem
enormemente, as originadas no Executivo encolhem.
O emendamento das proposições legislativas
por parlamentares é extenso. Apenas temas de interesse dos congressistas, com
baixo controle do Executivo, são aprovados. O conteúdo final das propostas já
não está mais no controle do Executivo. Sabe-se como entram na pauta do
Congresso, mas não como saem.
Nesse contexto, o Executivo atua muito mais
como um "gatekeeper", alguém que evita que certos temas sejam
tratados, do que um "agenda setter", alguém que propõem os temas. A
imprevisibilidade do processo decisório na Câmara aumentou significativamente,
como decorrência do encolhimento do poder do presidente.