sexta-feira, 10 de maio de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Geração "nem-nem" e o mercado de trabalho

Correio Braziliense

Fatores como abandono escolar, baixo rendimento acadêmico e ausência de competências básicas contribuem de maneira significativa para esse problema

O Brasil passa por um momento desafiador com a crescente ascensão dos "nem-nem", jovens que não estudam nem trabalham. Segundo dados do IBGE, aproximadamente um em cada cinco jovens brasileiros, com idades entre 15 e 29 anos, se encontram nessa situação, totalizando quase 11 milhões de pessoas. Esse quadro se torna mais preocupante entre os jovens de 18 a 24 anos, faixa em que a porcentagem de "nem-nem" chega a 24,4%. Os dados são de 2022 e especialistas acreditam que esses números são ainda maiores dois anos depois.

Uma das principais consequências dessa tendência é a escassez de mão de obra qualificada no Brasil. Fatores como abandono escolar, baixo rendimento acadêmico e ausência de competências básicas contribuem de maneira significativa para esse problema. Além disso, aspectos econômicos e sociais, como a realidade familiar e a condição de pobreza, exercem um papel crucial na perpetuação do fenômeno "nem-nem".

Vera Magalhães - Supremo age como garantidor do governo

O Globo

Se ir ao STF como forma de reabrir negociações políticas virar prática recorrente, a palavra da Corte ficará desmoralizada

Dois episódios desta semana reforçam a ideia, bastante disseminada no Congresso e em setores da sociedade, igualmente deletéria para a harmonia entre os Poderes, de que o governo Lula enxerga o Supremo Tribunal Federal (STF) como uma instância para dirimir conflitos e garantir a implementação de sua agenda.

Numa decisão para lá de acochambrada, a Corte determinou, pelo maiúsculo placar de 8 votos a 3, que a Lei das Estatais, de 2016, não só é constitucional como representou um avanço importante na governança de empresas públicas e de economia mista e de suas subsidiárias.

Um após outro, os oito ministros que votaram pela manutenção do dispositivo da lei que vedou a indicação de dirigentes partidários e de quem participou ativamente de campanhas políticas para a diretoria e para os conselhos dessas empresas foram pródigos em elogios quanto aos aspectos republicanos da legislação.

César Felício - Redes sociais turvam a visão de horror no RS

Valor Econômico

Há quase 19 anos, na última semana de agosto de 2005, um furacão classe 5 se formou próximo ao litoral das Bahamas, dirigiu-se para o norte da Flórida e desviou-se à esquerda para atingir a costa da Louisiana com ventos acima de 200 quilômetros por hora. As ondas levantadas pelo Katrina venceram sem dificuldades os diques que protegiam a cidade de Nova Orleans do avanço das águas e 80% da malha urbana ficou submersa.

Perderiam a vida 1.836 pessoas. Os Estados Unidos estavam diante do desastre climático mais mortal da história do País em 77 anos e o que mais danos econômicos provocou, estimados em US$ 146 bilhões em valores da época. Provocou a maior diáspora até então registrada, com 1 milhão de migrantes. Furacões são fenômeno típico do Caribe desde sempre, mas aquele elevou a um outro patamar a discussão na opinião pública sobre a vulnerabilidade em relação a eventos extremos e a capacidade governamental de administrar seus efeitos.

Flávia Oliveira - O Estado emerge

O Globo

A mão invisível do mercado não soluciona calamidade pública

Mais uma vez, em quatro anos, a relevância do Estado emerge da catástrofe. A pandemia de Covid-19 deveria ter sido suficiente para demonstrar que a mão invisível do mercado não soluciona calamidade pública. Lá atrás, precisamos de auxílio emergencial para garantir a renda de quem ficou sem condições de trabalhar. Necessitamos de leitos hospitalares, respiradores, medicamentos, vacina; e o Sistema Único de Saúde se fez presente. Viva!

Rio Grande do Sul colapsou com a tempestade bíblica combinada a décadas de desprezo ambiental. Projetos de desenvolvimento movidos por pura ganância devastaram biomas em todo o país, do Cerrado à Amazônia, da Mata Atlântica ao Pampa. Ante o desequilíbrio evidente, sofremos todos — sobretudo, os vulneráveis, crianças e idosos; pretos, pobres e mulheres; indígenas e quilombolas. Agora, até quem se catapultou politicamente demonizando o Estado dele se socorre.

Luiz Carlos Azedo - Caso Marielle nas mãos de Moraes pode ter efeito dominó

Correio Braziliense

Testemunhas e triangulação de sinais de celular, entre outros elementos, comprovam o envolvimento dos irmãos Brazão e do delegado Rivaldo Barbosa na morte da vereadora carioca

Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF), ontem, como mandantes dos assassinatos da ex-vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, em 2018, no Centro do Rio de Janeiro. A denúncia foi encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e pode ter um efeito dominó para o crime organizado no Rio de Janeiro.

Tanto que também foram presos, ontem, Robson Calixto da Fonseca, o “Peixe”, ex-assessor de Domingos Brazão, e o policial militar Ronald Paulo Alves Pereira, o Major RonaldO militar é apontado como ex-chefe da milícia da Muzema, na Zona Oeste do Rio. É o fio da meada para desvendar as ligações de políticos cariocas com milicianos e policiais corruptos, principalmente se Rivaldo fizer delação premiada.

Para a PGR, a delação do ex-PM Ronnie Lessa, apontado como o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson, revelou a participação dos irmãos Brazão, que encomendaram o crime, mediante pagamento. Segundo a denúncia, os assassinatos ocorreram por questões fundiárias de áreas dominadas pela milícia.

Bernardo Mello Franco - O dilema de Nunes

O Globo

Prefeito de SP tenta malabarismo para atrair votos do ex-presidente sem herdar sua rejeição

Ser ou não ser bolsonarista? O dilema parece assombrar o prefeito Ricardo Nunes, que concorre à reeleição em São Paulo. O emedebista precisa dos votos de Jair Bolsonaro, mas não quer se contaminar com a rejeição ao ex-presidente. Isso resulta num discurso escorregadio, como se viu na entrevista de ontem ao GLOBO.

Nunes afirmou que não pretende nacionalizar a campanha paulistana. Ao mesmo tempo, disse que o apoio do ex-presidente é “muito importante” e que a realização de agendas em conjunto só depende da vontade dele. Como o capitão mal conhece a cidade, presume-se que ele não será escalado para debater temas municipais, como a poda de árvores ou o trânsito nas marginais.

José de Souza Martins - O significado do Dia do Trabalho

Valor Econômico

O trabalho já não tem a força política, social e simbólica que tinha quando o atual presidente da República se tornou proeminente figura sindical

Os indícios de declínio do Primeiro de Maio suscitam interpretações que mostram o quanto o evento anual esconde significados que nem sempre vêm à tona na própria comemoração. O aparente declínio dos comparecimentos ao ato é declínio do que e, sobretudo, de quem?

De imagem associada à classe trabalhadora, o comparecimento do presidente da República foi interpretado como seu declínio pessoal. Mas a atribuição ao evento de sentido estranho ao que é o trabalho sugere que ele, na concepção brasileira de hoje, já não é o trabalho de outros tempos.

Janaína Figueiredo - Lula quer agenda positiva com Boric

O Globo

Presidentes de esquerda convergem em pontos como defesa dos direitos humanos, pautas econômicas e ambientais, mas diferenças sobre a Venezuela ainda pairam no ar

Na viagem que fará ao Chile no fim da semana que vem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer concentrar a agenda positiva bilateral em temas como ampliação do comércio e investimentos. Como aconteceu quando foi a Bogotá, em abril, Lula chegará a Santiago com uma ampla delegação ministerial e interessado em discutir como aprofundar a relação com o Chile de Gabriel Boric. O brasileiro sabe que não terá como fugir do tema Venezuela — sobre o qual manteve divergências com Boric na cúpula de chefes de Estado da América do Sul, em maio de 2023, em Brasília — mas seu interesse está muito longe de Caracas.

Marcos Augusto Gonçalves - Guerras só aumentam estresse global

Folha de S. Paulo

Crise da ordem liberal, apontada pela revista 'The Economist', pode se aprofundar e expandir conflitos militares

A ordem global das últimas décadas está sob estresse. A grande máquina do mundo, que parecia ter engatado uma nova marcha no arranjo liberal que se desenhou após a queda da União Soviética, vê-se ameaçada por fricções que podem levá-la até mesmo ao colapso.

O termo é forte, mas quem o utiliza como uma possibilidade no horizonte é a revista The Economist, em seu assunto de capa desta semana. A publicação britânica enfatiza uma progressiva deterioração do sistema econômico ocidental, mas não esquece as conexões políticas e institucionais, num quadro de inoperância de organismos como o Conselho de Segurança da ONU ou o FMI, e eclosão de conflitos que levantam o fantasma da guerra.

Bruno Boghossian - A negação do Estado

Folha de S. Paulo

Revolta contra a noção de Estado pega atalho em distorções e justa insatisfação para alimentar uma ilusão

Outro dia, um deputado do Partido Novo foi ao plenário e disse que o Estado não fazia nada pelo Rio Grande do Sul. Para ele, os gaúchos deveriam ser deixados em paz para resolver o problema. Depois, citou uma frase falsamente atribuída a Thomas Jefferson, flertou com um slogan separatista e voltou para o gabinete.

O garoto-propaganda do anarcocapitalismo levou para a tribuna um papo que ganhou tração nas redes durante a tragédia. A despeito do enorme aparato oficial empregado na região, quem estaria socorrendo a população seriam só voluntários, empresários e influenciadores.

André Roncaglia - A busca de Campos Neto por um almoço grátis

Folha de S. Paulo

BC deve conquistar mais legitimidade social antes de obter autonomia financeira e orçamentária

A lei complementar 179/2021, que conferiu autonomia operacional ao Banco Central, estipulou mandato de duração fixa para a diretoria e a presidência. Todavia não previu instrumentos de controle social sobre o banco.

Aprofundando esse insulamento institucional do BC, tramita na Comissão de Constituição e Justiça do Senado a proposta de emenda à Constituição nº 65, de 2023, que concede autonomia financeira e orçamentária ao Banco Central do Brasil, transformando-o em empresa pública desvinculada do Tesouro Nacional. Com relatoria do senador Plínio Valério (PSDB-AM), o amplo apoio do PL e do União Brasil deixa nítido seu viés conservador.

Campos Neto articula nos bastidores do Congresso a aprovação da PEC até junho deste ano. Alega dificuldades orçamentárias que podem ameaçar a operação do Pix. Porém, no governo Lula, a queda real acumulada do orçamento do BC não chega a 2%. Ao longo da gestão Bolsonaro, entre 2019 e 2022, a perda real foi de 20%. Campos Neto patrocinou o desmonte do BC e agora usa a legítima greve dos funcionários do banco –que não apoiam o projeto— para concluir o serviço.

Fernando Gabeira - A lição e a dor que vêm do Sul

O Estado de S. Paulo

O País tem uma chance agora de se adaptar às mudanças climáticas, de trabalhar a resiliência de suas cidades e de considerar que o perigo não vem apenas do céu

Cada vez que enfrentamos eventos extremos como os que atingem o Rio Grande do Sul, sempre nos perguntamos se a mudança não virá agora, se não vamos aprender as lições que as mudanças climáticas nos oferecem ou se não vamos romper os diques do negacionismo que impedem a ação transformadora.

Ninguém pode ter a pretensão de saber todas as respostas para o novo tempo. Mas é preciso começar humildemente por reconhecer que é loucura continuar fazendo a mesma coisa e esperar resultados diferentes.

Eliane Cantanhêde - O chacoalhão

O Estado de S. Paulo

Lula combinou ação rápida no RS e empatia por obrigação e cálculo político. Sai ajuste fiscal, entra gasto

Além de um freio de arrumação na relação entre os Poderes e um chacoalhão na divisão insana da sociedade, a tragédia no Rio Grande do Sul alivia a pressão sobre o governo e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por equilíbrio fiscal. Agora, Haddad está livre, leve e solto para gastar, como o presidente Lula sempre gostou.

Lula uniu a obrigação de agir com um cálculo político. Provocou uma comparação positiva para ele com o antecessor, ao ir já no dia seguinte para o Estado, enquanto Jair Bolsonaro se esbaldou de jet-ski em Santa Catarina durante inundações na Bahia. E evitou uma comparação negativa com a liberação de montanhas de verbas emergenciais na pandemia de covid-19.

Simon Schwartzman - Vinculação de recursos e autonomia universitária em SP

O Estado de S. Paulo

Ao lado dos bons resultados, existem outros, preocupantes, que sugerem que o sistema público paulista não pode continuar acomodado

Desde 1989 o Estado de São Paulo vincula 9,57% de sua arrecadação do ICMS para suas três universidades, em uma proporção fixa de 5,02% para a USP, 2,34% para a Unesp e 2,19% para a Unicamp. Neste ano, o governo do Estado tentou incluir outras instituições estaduais nessa conta, mas voltou atrás depois dos protestos dos reitores. Essa vinculação tem sido defendida como garantia da autonomia financeira contra a instabilidade e as interferências de políticos que afetam, por contraste, as universidades federais.

Muitos dados têm sido apresentados como prova de que a autonomia tem funcionado, como o aumento da produção científica, as posições da USP e Unicamp nos rankings internacionais e a qualidade profissional dos formados pelas principais faculdades. Mas é difícil saber se esses bons resultados se devem à vinculação financeira ou a outros fatores, como a disponibilidade de recursos e a maneira pela qual professores e alunos são selecionados entre os mais qualificados do Estado mais rico do País. E, ao lado dos bons resultados, existem outros, preocupantes, que sugerem que o sistema público paulista não pode continuar acomodado.