Valor Econômico
Tudo leva a crer que o ano será de muita
turbulência, fazendo com que as expectativas dos agentes econômicos fiquem
muito voláteis
O ano de 2025 se inicia trazendo muitas indagações sobre o caminho da economia política internacional. Não por acaso, há muita atenção e preocupação com as consequências para a economia brasileira. Como destaca meu colega Bráulio Borges, a incerteza sobre a política comercial dos EUA quase quadruplicou entre agosto e novembro, atingindo o maior nível já registrado desde 1960, quando tem início a série histórica do indicador baseado em notícias (Monthly TPU index). Estudo usando esse indicador aponta que aumentos da incerteza comercial global geram impacto negativo bem evidente no investimento privado.
A guerra comercial prometida por Trump em seu
segundo mandato ameaça ser bem mais acentuada e abrangente do que aquela
implementada em 2016-2020, com imposição de tarifas mais altas em um maior
número de países (incluindo o Brasil) e relativas a uma cesta mais ampla de
produtos.
Além disso, o ambiente econômico americano e
global hoje é menos propício à acomodação de um choque tarifário nas
importações. Vale lembrar que, em 2016, a inflação nos Estados Unidos caminhava
abaixo da meta, enquanto hoje corre acima. O importante núcleo de serviços
(excluindo-se aluguéis) da inflação estadunidense tem flutuado em torno de
4,4%, muito acima da meta de 2%. Para piorar a situação, num panorama global,
as dívidas públicas dos países estão em patamares historicamente bastante
elevados.
Em função dessa conjuntura econômica
internacional conturbada, ao apagar das luzes de 2024, o Executivo e o
Legislativo trabalharam para aprovar um pacote de medidas de contenção de
despesas. Contudo, não foi suficiente para amainar os ânimos dos agentes
econômicos, uma vez que o dólar continuou se valorizando frente ao real, tendo
subido ao longo do ano vistosos 22%. Em resposta, o Banco Central do Brasil deu
início ao processo de elevação da taxa de juros.
Frente ao elevado nível de incerteza ao qual
a economia brasileira está exposta, um número expressivo de analistas advoga a
favor de medidas duras, de impacto imediato, no controle da elevação das
despesas.
No entanto, embora fosse altamente
recomendável uma ação contundente no campo das contas públicas, há fortes
resistências. E não à toa, já que o rol de medidas que vêm sendo aventadas na
imprensa como passíveis de serem implementadas é malvisto por boa parte do
eleitorado (tais como uma nova regra para a correção dos gastos com saúde, a
correção do salário mínimo apenas pela inflação ou uma nova reforma da
Previdência).
Desse modo, dado o tamanho da “briga”, a
classe política procurará empurrar com a barriga o embate. De fato, o Executivo
e o Legislativo só aceitarão encarar a aprovação dessas duras medidas caso não
vejam outra saída, até porque o que está em discussão são pautas que afetam
temas muito caros a um governo do PT - seria factível, por exemplo, imaginar o
partido apresentando proposta de correção do salário mínimo apenas pela
inflação passada?
No entanto, o recente pacote fiscal produzido
pelo governo do PT sugere que o cuidado com a situação fiscal do país está no
radar da grande maioria dos agentes políticos relevantes. Ao analisar a
proposta apresentada e o processo para sua aprovação no Congresso, dois pontos
requerem atenção. Em primeiro lugar, o salário mínimo (SM) deixou de ser
corrigido pela integralidade da taxa de crescimento da economia. Em função da
nova regra, o SM de 2025 sofre correção real de 2,5%, enquanto pela regra
antiga o reajuste real seria de 3,2%. Assim, por conta das dificuldades fiscais
do país, a promessa de campanha do presidente Lula de atrelar o aumento real do
SM à taxa de crescimento do PIB foi relaxada. E um segundo aspecto merece
destaque: a proposta enviada pelo governo que restringia a elegibilidade ao
Benefício de Prestação Continuada (BPC) foi entendida como muito dura pelas
Casas Legislativas, e, por isso, desidratada. Nesse caso, o Parlamento
brasileiro considerou excessivo o nível de exigência imposto pelo governo do PT
para fazer jus a um benefício social, o BPC.
Como se vê, existe uma percepção clara e
generalizada de que a questão fiscal é importante. Obviamente, isto não deve
ser interpretado como fazer ajustes fiscais “preventivos”. Afinal, as demandas
da sociedade brasileira ainda são muitas e prementes. É a velha história do
cobertor curto.
Retornando à economia política, não se pode
perder de vista que a próxima eleição presidencial ocorrerá daqui a apenas um
ano e dez meses. Por isso, a tentação de postergar a contenção de crescimento
das despesas obrigatórias é grande. Obviamente, a tendência é empurrar com a
barriga enquanto der.
Por fim, os erros nas projeções econômicas
têm causado eventuais questionamentos quanto à confiabilidade dos cenários
futuros. Em 2024, por exemplo, o PIB cresceu bem acima do esperado. Segundo o
Boletim Focus do Banco Central, o PIB deve registrar uma expansão de cerca de
3,5%, ante expectativa de alta de 1,5% em dezembro de 2023. Na verdade, as
subestimações para o PIB têm sido recorrentes e expressivas ao longo dos
últimos cinco anos. No auge da pandemia, esperava-se que o PIB registrasse uma
queda abrupta de mais de 7% em 2020, mas a redução ficou em 3,3%. A partir daí,
as projeções de crescimento econômico de dezembro de um ano para o ano
subsequente acabaram mostrando subavaliações em torno de 2 pontos percentuais
em relação ao PIB efetivamente verificado.
Frente aos equívocos de previsão ocorridos, a
segurança com os cenários econômicos traçados pelos especialistas passa a ficar
comprometida. Não por acaso, a classe política e alguns formadores de opinião
olham com certa desconfiança as projeções atuais. Afinal, por que acreditar que
para 2025 as previsões estão “corretas”? O que garante que este ano será
diferente?
Em síntese, está bastante difícil de antever
as “novidades” que virão do exterior. Tudo leva a crer que o ano será de muita
turbulência, fazendo com que as expectativas dos agentes econômicos fiquem
muito voláteis. Com isso, as idas e vindas da classe política com a agenda
fiscal serão marcantes em 2025.
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