domingo, 9 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula se refugia entre aduladores e reforça erros do governo

Folha de S. Paulo

Presidente encara impopularidade com lentes do passado, recusa responsabilidade fiscal e se afasta de forças moderadas

Por uma mistura de falta de visão estratégica, apego a ideias obsoletas e má leitura do equilíbrio de forças na política, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avança pela segunda metade de seu mandato sem um projeto claro sobre o que pretende fazer daqui para a frente. Na dúvida, ele vira à esquerda.

Na economia livrou-se dos últimos vestígios daquele verniz que vez ou outra o fazia prestigiar a agenda de mínima responsabilidade orçamentária proposta pelo seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A opção pela gastança, que sempre foi a preferida de Lula, agora está escancarada.

O presidente está à caça de "medidas" como liberações de créditos e recursos do FGTS que, de acordo com a sua cartilha primitiva de gestão pública, possam ajudá-lo a combater a impopularidade. Como decidiu torrar recursos no início da administração, as opções agora são restritas.

Entrevista | José Sarney: 'É melhor sair da política muito bem do que já velho'

Ivan Martinez Vargas / O Globo

Prestes a fazer 95 anos, primeiro presidente civil após a ditadura, cuja posse completa quatro décadas nesta semana, defende apoio do MDB à reeleição do petista

Quem chega à sala da casa do ex-presidente José Sarney em Brasília contempla, em meio a uma coleção de arte sacra, um quadro com o retrato do frei Francisco de Bourdemare, missionário espanhol enviado ao Maranhão no século 17. Na parede em frente, uma imagem do próprio Sarney, de dimensões maiores, com a faixa presidencial, dá o tom imponente ao ambiente, frequentado por presidentes, ex-mandatários e lideranças políticas variadas. Enquanto desenvolve um raciocínio político aguçado, o ex-presidente caminha com lentidão e diz que o envelhecimento começa pelas pernas. “É melhor sair muito bem (da política) do que já velho”, diz ele.

Prestes a fazer 95 anos de idade, Sarney se mantém ativo como conselheiro político. Longe do dia a dia da vida partidária desde o fim de seu quinto mandato como senador pelo MDB , em 2015, ele divide seu tempo entre a capital federal e São Luís (MA) escrevendo um livro sobre a necessidade de uma reforma do sistema eleitoral no país, baseado na experiência do primeiro civil a ocupar a Presidência da República após a redemocratização. No próximo sábado, completam-se quatro décadas da posse, data considerada um marco do fim da ditadura.

Em uma de suas raras entrevistas, ele critica a falta de liderança no Congresso, diz que Lula está governando num tempo difícil, defende aliança do MDB com o petista em 2026 e afirma que o Brasil precisa superar a polarização para trilhar o caminho da prosperidade. “A política de inimigos foi superada”, pontua.

O governo Lula tem enfrentado queda na popularidade, em especial pela alta nos preços dos alimentos. Seu governo também sofreu com a inflação. A que o senhor atribui a atual crise?

O presidente Lula fez excelentes governos. E a democracia possibilitou um operário no poder. Isso raramente acontece. Mas ninguém governa o tempo no qual se vai governar. Há tempos em que governamos na abundância, mas há tempos em que governamos na escassez. Lula não está nos governando num tempo de bonança, mas sim num tempo difícil, não só para o Brasil, mas de uma maneira internacional. Eu governei num tempo que a História se contorcia. Criamos as eleições diretas. Asseguramos direitos civis e os direitos humanos. Criamos uma Constituição.

Sarney governou com greves e hiperinflação, mas nos legou a democracia - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O Brasil deve muito a Sarney, que enfrentou período marcado por forte instabilidade econômica e ampla mobilização social, com firme convicção democrática

O ex-presidente José Sarney, prestes a completar 95 anos, teve um papel decisivo na democratização do país, ao convocar a Constituição de 1987 e trabalhar para a que a transição política ao Estado democrático de direito chegasse a bom termo. Não foram poucos os desafios que enfrentou na Presidência, após a internação de Tancredo Neves, na véspera de sua posse. Vice, assumiu a Presidência em 15 de março de 1985.

No próximo sábado, Sarney será homenageado pela Fundação Astrojildo Pereira e pelo Cidadania, ao lado de alguns deputados constituintes, entre os quais Aécio Neves (PSDB) e Roberto Freire (Cidadania). Será durante seminário no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes. Segundo Comte Bittencourt, presidente do partido, “o objetivo é resgatar o papel histórico de Sarney e fazer balanço dos 40 anos de redemocratização do país, suas conquistas, dívidas e desafios”. O “Correio Braziliense” apoia a iniciativa.

Momento de decisão - Merval Pereira

O Globo

Uma Corte Suprema tem a sua autoridade e reputação baseadas no respeito que demonstre às regras de direito

O momento em que o país se prepara acompanhar um julgamento em que os acusados, muitos militares, incluído um ex-presidente da República, respondem por uma tentativa de golpe de Estado, é o mais adequado para a leitura do novo livro do jurista Gustavo Binenbojm, chamado “Freios e contrapesos: independência, controles recíprocos e equilíbrio entre Poderes”, que será lançado em breve. Trata das questões atuais e controversas sobre o sistema político brasileiro, como emendas de orçamento, controle da segurança pública pelo STF e o presidencialismo congressual.

Para Binenbojm, a Constituição brasileira de 1988, promulgada sob os auspícios da redemocratização, erigiu uma espécie de poliarquia no país, consagrando um complexo sistema de freios e contrapesos entre os Poderes da República. A conquista e a preservação do regime democrático há quase quatro décadas é um ativo da sociedade brasileira que merece ser celebrado. Mas isso não deve interditar, ressalva, o debate sobre a qualidade da democracia que praticamos e a funcionalidade do nosso sistema político.

O inegável bom resultado do PIB - Míriam Leitão

O Globo

O forte PIB nos dois primeiros anos é digno de comemoração, mas algumas ideias do próprio governo acabam ofuscando esse resultado

O balanço dos dois primeiros anos do governo Lula na economia é, sem dúvida, positivo. O crescimento de 3,4% em 2024 superou o do ano anterior, além de ser o dobro do que foi projetado pelo mercado no começo do ano. Foi melhor porque não dependeu de um setor só, foi puxado pelo consumo das famílias e pelo investimento. O PIB per capita cresceu 3%. Isso depois de alta de 3,2% em 2023. Tantos resultados positivos na economia não estancam a artilharia amiga e inimiga — há diferença?— contra o ministro Fernando Haddad. Nos dois anos, o PIB acumulou alta de quase 7%.

Os serviços cresceram 3,7%, a indústria de transformação cresceu 3,8%, o consumo das famílias 4,8%, o investimento 7,3%. Muitos números bons sustentaram o PIB, apesar da queda forte da agropecuária de 3,2%. O resultado é de se comemorar. Porém, o PIB perdeu fôlego no último trimestre. Quase parou, na verdade. A alta dos últimos três meses ficou em 0,2%, quando o consumo das famílias caiu 1%, o que talvez explique o mau humor nas pesquisas. O que houve no fim do ano foi uma crise de confiança na política fiscal, em parte criada pela polifonia dentro do governo. O câmbio subiu, empurrou a inflação e fez o Banco Central iniciar um forte choque de juros. Com o aperto monetário, o país crescerá menos este ano.

Delfim Netto faz falta a Lula - Elio Gaspari

O Globo

O professor Antonio Delfim Netto faz falta. Ele era um eventual conselheiro de Lula e morreu em agosto.

Diante da carestia dos alimentos, Delfim poderia mostrar a Lula como é possível fabricar quedas artificiais ou momentâneas de preços. Poderia, sobretudo, mostrar que algumas medidas servem para nada.

Confrontados com a carestia, presidentes e hierarcas passam por duas fases. Na primeira, culpam o povo que compra gêneros caros (Lula já queimou essa etapa). Na segunda, acreditam em medidas pontuais (Lula entrou nesse estágio).

Delfim alertaria o presidente contra os colaboradores que oferecem soluções mágicas. Nesse ramo, ele superou o grande Houdini, mas não acreditava nos próprios truques. Ele conhecia as limitações do poder de Brasília e por isso tornou-se um valioso conselheiro longe dela.

Na quinta-feira, o vice-presidente Geraldo Alckmin reuniu hierarcas para anunciar medidas de combate à carestia. Repetiu-se o cenário do anúncio do pacote de contenção de gastos, anunciado por Haddad. Estava todo mundo lá, menos Lula. Como disse um sábio à época, se fosse para dar certo, Lula faria o anúncio.

Lula não dispõe mais dos conselhos de Delfim e está diante de um processo de fritura de Fernando Haddad, seu ministro da Fazenda. Trata-se de uma fritura especial. Há quem traga o óleo e também a frigideira, mas falta o sujeito que controla o fogão, e ele é o presidente da República.

Lula não fritou Antonio Palocci no seu primeiro mandato, apesar dos sinais emitidos por Dilma Rousseff, chefe de sua Casa Civil. (Hoje, quem está na cadeira é Rui Costa, com sua malquerença em relação a Haddad).

Defesa no ataque - Bernardo Mello Franco

O Globo

Em entrevista recente, Jair Bolsonaro admitiu que deve ser condenado, disse que teme morrer na cadeia e comparou a Primeira Turma do Supremo a uma “câmara de gás”. O desespero ajuda a entender as cambalhotas de sua defesa na Corte.

Antes de se manifestar sobre a denúncia da Procuradoria-Geral da República, o capitão apresentou uma extensa lista de pedidos. Queria anular a delação de seu ajudante de ordens e afastar três dos cinco ministros que devem julgá-lo.

O advogado de Bolsonaro sustentou que Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin deveriam ser declarados impedidos. Na véspera do carnaval, o ministro Luís Roberto Barroso frustrou a manobra por falta de amparo na lei.

Impossível desver 'Sem chão' – Dorrit Harazim

O Globo

Obra de um inédito coletivo de quatro diretores (dois israelenses e dois palestinos), o documentário tem dificuldades de exibição até nos países de origem

Nesta semana estreia no Brasil o filme “Sem chão” (“No other land”, em inglês), ganhador do Oscar de Melhor Documentário, concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Ao contrário do que ocorreu no Brasil com “Ainda estou aqui” , ou na Letônia com a premiação de “Flow”, não houve estado de graça nem festança nacional pela conquista da estatueta. Nem poderia. Obra de um inédito coletivo de quatro diretores (dois israelenses, Yuval Abraham e Rachel Szor, e dois palestinos, Basel Adra e Hamdan Ballal), “Sem chão” enfrenta dificuldades de exibição até mesmo em seus países de origem. Em Israel, berço dos diretores israelenses, o ministro da Cultura e dos Esportes, Miki Zohar, instruiu entidades nacionais a não divulgar a obra que, no seu entender, “calunia Israel no cenário global”. Na Cisjordânia palestina, onde nasceram e vivem os outros dois diretores, nada há para celebrar. A Palestina não existe como Estado independente, continua sob ocupação. É essa ferida aberta que o documentário estatela à nossa frente, com cenas reais filmadas ao longo de cinco anos, muitas vezes com apenas a câmera de um celular. Quem assistir não conseguirá desver.

‘Medidas drásticas’ - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Lula despachou Dilma para bem longe, mas ela nunca esteve tão próxima

Ao ameaçar o agronegócio com “medidas drásticas”, caso os preços dos alimentos não caiam, o presidente Lula não apenas deu uma de Donald Trump como desautorizou o seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que se esfalfaram para dar garantias para a sociedade, produtores, distribuidores, atacadistas e redes de supermercados de que não haveria “soluções heterodoxas”. Todo o esforço foi jogado no lixo.

Neste momento tenso no Brasil e no mundo, Lula subiu no palanque justamente num evento do MST e no dia do anúncio de um PIB animador para, mais uma vez, matar a boa notícia do PIB e conquistar reações amargas por toda parte, reforçando a percepção de que insiste em repetir os erros de Dilma Rousseff e descamba perigosamente para uma esquerda sem rumo.

O governo começa, enfim, a ver a obviedade - Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

Não há como restabelecer a sanidade econômica sem a contenção da demanda. Nesse caso, a solução inclui, como ponto essencial, um controle severo do gasto público federal

Empenhado em descobrir e redescobrir o óbvio, o governo anunciou a intenção de investir na formação de estoques de alimentos, essenciais para garantir alguma normalidade nos preços e assegurar o abastecimento a mais de 200 milhões de consumidores. Assombrados durante meses pela inflação da comida, esses brasileiros viram o presidente Lula e seus ministros mobilizarem-se, finalmente, para cuidar da nova ameaça à popularidade presidencial.

Seguida durante décadas, a política de estoques de segurança foi amplamente relaxada nos últimos dez anos – e até abandonada, no caso de alguns produtos. Entre 1987 e 2024, o estoque total de arroz disponível em dezembro superou em 14 anos 1 milhão de toneladas. No mesmo período, o milho estocado no fim de ano ultrapassou 1 milhão de toneladas em 22 ocasiões e, em vários momentos, ficou acima de 2 milhões e até 3 milhões de toneladas.

O mensageiro do caos - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Índices das bolsas dos EUA têm sofrido sucessivas quedas, eliminando ganhos com vitória de Trump

Donald Trump está derrubando os pilares da relativa igualdade de oportunidades, justiça racial, tolerância, prosperidade e segurança, conquistadas pelos americanos com esforço e talento ao longo de décadas. Ele anunciou o fechamento do Departamento de Educação, encarregado de conceder bolsas para alunos de baixa renda e com deficiências, e verbas para capacitação profissional. O departamento não influi em currículos e conteúdos, a cargo de Estados e municípios.

É um ataque à mobilidade social, que garante não só justiça e paz social, mas também o máximo aproveitamento do potencial dos americanos, independentemente de renda e condição física. Isso contribui para o êxito do capitalismo americano.

'Ainda Estou Aqui' abre portas para mudanças na sociedade - Sylvia Colombo

Folha de S. Paulo

Obras como a de Walter Salles, que venceu Oscar de melhor filme internacional, iluminam as consciências

"Quem vai atrás de osso é cachorro", já disse Jair Bolsonaro, referindo-se à busca por desaparecidos da ditadura militar brasileira (1964-1985).

Quando contei isso para Mariela Fumagalli, diretora da Eeaf (Equipe de Antropologia Forense Argentina), fez-se uma pausa na conversa. "Não é possível que uma parte considerável da sociedade se expresse dessa maneira. Se na Argentina há quem concorde com essa visão, ela é minoritária e envergonhada", me respondeu.

A entidade que ela comanda trabalha desde 1984 na busca, recuperação, identificação e restituição da identidade das vítimas do terrorismo de Estado no país. Desde sua criação, revelou os nomes de 840 pessoas, algumas enterradas em cemitérios clandestinos, outras encontradas às margens do rio da Prata por terem sido arremessadas nos chamados "voos da morte". Todo ano, esse número aumenta, porque o trabalho nunca foi interrompido.

Os ovos de Lula, Trump e demagogia - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Conversa do governo sobre preço de alimentos tem cada vez mais demagogia conspiratória

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos investiga se grandes produtores de ovos fazem conluio a fim de aumentar preçosDonald Trump fica entediado com esses assuntos, preço de comida, mas falou de ovos em seu discurso no Congresso, cheio de mentiras, demagogia imunda, ódio e delírio narcisista. Ao que parece, a carestia por lá se deve ao grande massacre de galinhas da gripe aviária.

Em discurso para o pessoal do MST, Luiz Inácio Lula da Silva falou com ira santa de sua missão de encontrar um culpado pela carestia dos ovos. "Ainda não encontrei uma galinha pedindo aumento do ovo. A coitadinha sofre, ainda canta quando põe o ovo, mas o ovo está saindo do controle. Uns dizem que é o calor, outros dizem que é a exportação. Eu estou atrás", disse o presidente.

Gleisi ministra - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

A melhor chance de ela ser bem-sucedida é Haddad entregar resultados na economia

Gleisi Hoffmann é a nova ministra da Secretaria de Relações Institucionais do governo Lula. Sua indicação gerou reações negativas no centrão e no mercado, como tudo que Lula fez nos últimos meses.

Do ponto de vista do mercado, o medo é que a nomeação de Gleisi enfraqueça ainda mais o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Como presidente do PT, ela criticava abertamente a política econômica do ministro, que a derrotou na disputa pela candidatura do PT em 2018.

As críticas de Gleisi e de seus aliados a Haddad foram completamente irresponsáveis. Ajudaram a difundir na esquerda a ideia de que Haddad, o primeiro ministro da Fazenda petista a propor taxar os ricos, é um neoliberal maluco. Entre os operadores do mercado, ajudaram a criar a imagem de que Haddad pode até ter ideias certas, mas não consegue se impor dentro do PT.

Homens-fortes - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro analisa trajetória de ditadores e líderes populistas de direita, de Mussolini a Trump

"Apesar de ouvirmos com frequência que homens-fortes são gênios da estratégia, poucos deles, ou talvez até mesmo nenhum, seguem um plano diretor. Seus verdadeiros talentos não são os do mestre de xadrez, mas os dos valentões de rua e vigaristas: rapidez para extrair o máximo das oportunidades que lhes são oferecidas, habilidade para fazer com que as pessoas se liguem a eles e acreditem em suas ficções, e a disposição para fazer qualquer coisa para obter a autoridade absoluta pela qual anseiam. A maioria deles termina com muito mais poder do que jamais imaginou".

Mutação identitária do regime americano - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Nas brechas abertas pela crise da democracia emerge com Donald Trump um autoritarismo sujeito a anacrônicas veleidades monárquicas

Quem olhou pode não ter visto tudo. No Salão Oval da Casa Branca, Donald Trump calado à mesa enquanto Elon Musk, de casaco e boné esportivos, com o filho X de quatro anos nos ombros, fala a um pequeno grupo de jornalistas. A certo instante, Trump tenta dizer alguma coisa, mas X, já no chão, o interpela: "Cale a boca, você não é o presidente!". Cena bizarra, um garoto não só refreia a língua do poderoso boquirroto como deixa transparecer o que deve ouvir em casa. Um episódio miúdo com relevância política que passou batido.

Lançamento: Alberto Aggio

Nesse livro procuro realizar uma reflexão sobre o processo político brasileiro das últimas quatro décadas. Uma ideia organiza o livro: a construção da democracia. Nesse processo coincidem mudanças, metamorfoses e transformismos que marcam os principais atores políticos dessa construção. 


Avanço do conservadorismo e erosão da democracia no Brasil

Folha de S. Paulo

'A Lei da Bala, do Boi e da Bíblia' aborda estratégias de grupos rurais, religiosos e da segurança no centro do poder

Diante de uma série de efervescentes debates em torno de direitos como a separação entre Estado e religião, armamento, demarcação de terras indígenas e direitos reprodutivos, incluindo o aborto, crescem bancadas como a da Bíblia, do boi e da bala, que utilizam desses temas para promover uma realidade mais fragmentada e menos acessível, favorecendo sua própria agenda diante da sociedade brasileira.

É essa hipótese que o livro "A Lei da Bala, do Boi e da Bíblia: Cultura Democrática em Crise na Disputa por Direitos" busca investigar, tentando entender o histórico e as estratégias políticas e jurídicas de grupos mais conservadores no centro do poder no país.

A obra, elaborada por pesquisadoras do Laut (Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo), também busca fazer paralelos sobre como os discursos de grupos e lideranças conservadoras no país, como Jair Bolsonaro (PL), estão ligados ao processo de erosão democrática em todo o mundo.

STF não tem menor condição de reorganizar sistema político, diz Fernando Limongi

Mauricio Meireles / Folha de S. Paulo

Ao lado de historiador, professor lança livro sobre Nova República, critica atuação do Supremo e diz que intelectuais deveriam respeitar o Congresso

Nova República foi fundada na construção de consensos entre elites políticas. Esse traço pode ser visto como negativo ou positivo. Por um lado, tais negociações impediram soluções definitivas para desigualdades que marcam a sociedade brasileira; por outro, também evitaram que os conflitos descambassem em violência, produzindo estabilidade.

Esse é um dos eixos de "Democracia Negociada - Política Partidária no Brasil da Nova República", do historiador Leonardo Weller e do cientista político Fernando Limongi, ambos professores da FGV-SP.

No livro, os dois retornam à lenta transição iniciada no governo de Ernesto Geisel para mostrar como a ditadura se empenhou para que a direita continuasse a ter seu quinhão de poder na democracia —e, de fato, vários aliados do regime conseguiram se perpetuar. Os autores passam pelos embates na Constituinte e avançam por diversos governos, até chegar ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016.

O resultado é uma síntese informativa sobre a história recente do país. A dupla defende que a democracia brasileira viveu seu auge entre o governo Itamar Franco e a gestão da petista —quando, à direita ou à esquerda, havia um consenso em defesa de avanços sociais.

Agora, bem, agora é tudo mais complicado, diz Limongi à Folha. Ele defende que não adianta espernear contra o conservadorismo da sociedade brasileira, diz que os intelectuais do país deveriam respeitar o Congresso como voz da sociedade e sustenta que o Supremo Tribunal Federal não tem capacidade para tutelar o sistema político.

Uma grande preocupação da ditadura é que, após a transição, a direita pudesse continuar no poder. E várias lideranças desse campo, de fato, conseguiram continuar na política. O sistema que nasce na Nova República tende ao conservadorismo ou esse traço é uma vocação do eleitor brasileiro?

Difícil dizer. Mas não há um viés institucional que provoque maior ou menor conservadorismo. Não há nenhum preceito, é o funcionamento da democracia. A democracia é intrinsecamente conservadora, o jogo democrático tende para o centro.

Você precisa negociar, você não consegue impor a sua vontade. Aqui, a pressão por reformas e mudança bate no Executivo —e a pressão por conservação também.

sábado, 8 de março de 2025

Opinião do dia - Friedrich Engels (nossa herança democrática )

“A ironia da história mundial vira tudo de cabeça para baixo. Nós, os “revolucionários”, os “sublevadores”, medramos muito melhor sob os meios legais do que os ilegais e a sublevação.  Os partidos da ordem, como eles próprios se chamam, decaem no estado legal criado por eles mesmos. Chamam desesperados, valendo-se das palavras de Odilon Barrot: la legalité nous tue, a legalidade nos mata, ao passo que, sob essa legalidade, ganhamos músculos rijos e faces rosadas e temos a aparência da própria vida eterna. E se nós não formos loucos a ponto de nos deixar levar para as ruas só para agradá-los, acabará não lhes restando outra saída senão violar pessoalmente essa legalidade que lhes é tão fatal.

*Friedrich Engels (1820-1895), prefácio de 1895 - As lutas de classes na França, de 1848 a 1850 (Karl Marx), pág.29. Boitempo Editorial, 2012

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Alta do PIB está alicerçada em bases movediças

O Globo

Comemoração não deve esconder a realidade: resultado deriva da política insustentável de gasto público

Depois de crescer 3,2% em 2023, a economia brasileira cresceu ainda mais no ano passado — 3,4%, segundo o dado oficial do IBGE. Trata-se de resultado fora do padrão. O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) nos dois anos iniciais do atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi superior aos obtidos por Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro no mesmo período. A média é igual ou próxima às registradas na metade dos primeiros mandatos de Fernando Henrique Cardoso e do próprio Lula. Nos últimos 30 anos, apenas o início do segundo mandato de Lula apresentou números bem superiores. Poucos previam resultado tão positivo. O desemprego está em nível baixo, 6,5%, a informalidade em queda e o rendimento salarial em alta.

País enfim bate o recorde de 'riqueza' de 2013 - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

PIB per capita de 2024 foi o maior; economia desacelera mais que o previsto e investe muito pouco

Em 2013, a renda (PIB) por pessoa no Brasil havia chegado ao nível mais alto da história. Em certa medida e na média, portanto, os brasileiros jamais haviam sido tão "ricos". Então, rolamos ladeira abaixo.

Apenas no ano passado, em 2024, o PIB per capita superou aquele recorde, como pudemos confirmar nesta sexta-feira (7), com os dados do crescimento da economia divulgados pelo IBGE.

Foi uma temporada no inferno da Grande Recessão (2014-2016), da quase estagnação de 2017-2019 e do desastre da epidemia (2020-2021). Foi uma depressão causada por tolice econômica e selvageria política em anos de azares para os quais não nos protegemos (secas terríveis, economia mundial em crises, queda do preço dos produtos que o país mais exporta).

O ano foi bom, sim. O crescimento do PIB e do PIB per capita foi o maior desde 2011 (a alta do PIB de 2021, de 4,8%, não conta, pois em grande parte foi recuperação do tombo de 3,3% do 2020 da epidemia). E daí?

O país das ressalvas – Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Estão engatilhadas duas PECS que aumentam a impunidade de parlamentares

Igual ao governo Lula, a avaliação negativa do Congresso bate recordes. Ao contrário do presidente, que se desespera de olho em 2026 e corre o risco de meter ainda mais os pés pelas mãos, senadores e deputados não estão nem aí. Findo o Carnaval, é hora de retomar a folia.

A homologação do acordo entre os três Poderes em relação às emendas parlamentares diminuiu a crise aguda de abstinência iniciada em agosto, quando o ministro Flávio Dino, do STF, determinou a suspensão de pagamentos. O dinheiro grosso —mais de R$ 148,9 bilhões nos últimos cinco anos— vai voltar a jorrar, mas com a exigência de ressalvas.

Tribunais dizem que Trump não é rei - Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

Mas preocupa a omissão do Legislativo, dominado por um Partido Republicano capturado por Elon Musk

Na política ninguém renuncia ao poder voluntariamente. Essa premissa levou os arquitetos do constitucionalismo moderno a engendrarem sistemas de freios e contrapesos, de forma que o exercício do poder sempre encontre resistência no exercício de outro Poder.

Como os demais populistas de sua cepa, Donald Trump dá sinais claros do seu desconforto com os limites ao exercício do poder estabelecidos pela Constituição. O uso abusivo e sistemático de ordens executivas, driblando a deliberação parlamentar, a postura intimidatória em relação aos servidores públicos e a ameaça de descumprimento de decisões judiciais são expressões de uma disposição de alargar os limites inerentes ao exercício do poder numa democracia liberal.

A Doutrina Trump – Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Presidente dos EUA é um oportunista de convicções políticas fluidas, mas mantém visão de mundo coerente

O Japão nos rouba, economicamente, e a Europa aproveita-se de nós fazendo com que paguemos por sua segurança. As duas mensagens apareceram no primeiro anúncio de TV publicado pelo então incorporador imobiliário Donald Trump, nos idos de 1987. A figura que hoje ocupa o Salão Oval é um oportunista de convicções políticas fluidas, mas mantém uma visão de mundo coerente. Dela emana aquilo que deve ser descrito como Doutrina Trump.

A "cidade brilhante no alto da colina" –a expressão, oriunda do sermão laico pronunciado em 1630 por John Winthrop, o puritano fundador de Boston, a bordo do navio Arbella, ressurgiu vezes incontáveis em discursos de presidentes republicanos ou democratas. Historicamente, para o bem ou o mal, os EUA exibiram-se a si mesmos e aos estrangeiros como um farol de reforma do mundo. Trump substitui a visão luminosa da cidade profética pela visão sombria de uma fortaleza em declínio, traída e explorada por pérfidos aliados.

Duas tolices sem tamanho - Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Grande parte dos conflitos e rancores que se formam na sociedade é ortogonal, ou seja, perpendicular ao eixo esquerda x direita

Quem acompanha o dia a dia de Brasília não precisa de uma lupa para perceber que não estamos voando num céu de brigadeiro.

Sabemos que a economia vai mal, com previsão de que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2025 crescerá pouca coisa acima de 2%. Em relação à eleição presidencial de 2026, ainda não estamos cem por cento livres das candidaturas de Lula e Bolsonaro, embora a maioria saiba que a reedição dessa tragicomédia é o caminho mais curto para uma tragédia. E o cenário internacional se desarranja a olhos vistos, em razão do oceano de asnices que desabou sobre a outrora exemplar democracia dos Estados Unidos.

Quando o atravessador é o governo – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

A inflação não é só de alimentos. Está espalhada. Quando a cada mês aparece um “culpado”, é sinal de que o problema é geral

Não é a primeira vez que Lula acusa atravessadores pelo aumento de preços. Ontem o presidente levantou essa suspeita no caso dos ovos. Antes, havia acusado distribuidores pelo preço dos combustíveis. A tática é manjada. Trata-se de tirar a responsabilidade do governo, encontrar um culpado externo e prometer “ir atrás” dele. Disse ontem que poderia tomar “medidas drásticas”.

Não explicou o que seriam, mas o cardápio é conhecido na história de governos populistas. Uma variável, muito praticada nas gestões peronistas na Argentina, é cobrar imposto sobre os exportadores para encarecer o produto no exterior, de modo que os produtores tenham de vender no mercado interno. Nunca funcionou. O exportador, diante do preço não compensatório, simplesmente deixa de produzir ou produz o mínimo para manter a fazenda funcionando. Fica o pior dos mundos. Negócio ruim para os produtores, perda de divisas para o país, escassez e preço alto para o consumidor.

Trump está em guerra com a universidade – Pablo Ortellado

O Globo

Em vez de fortalecer o pluralismo e o livre debate, o governo tem promovido repressão seletiva que ameaça a autonomia universitária e o próprio ideal de educação superior como espaço de pensamento crítico

O governo Trump declarou guerra às universidades. Essa é a opinião de 94% dos reitores de cem instituições de ensino superior que se reuniram em Yale. Trump tem adotado, também na educação superior, a estratégia de “choque e pavor”, impondo decisões de forma rápida e avassaladora. A abordagem parte do diagnóstico de que as universidades foram tomadas pelo esquerdismo woke, precisam ser derrotadas e energicamente submetidas a novas diretrizes, mais ou menos como Viktor Orbán fez na Hungria.

Uma das primeiras ações de Trump foi congelar o financiamento federal à pesquisa. Além disso, cortou parte do financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde, órgão responsável pelo financiamento da pesquisa em biomedicina. A medida retirou US$ 4 bilhões de apoio às instituições nos orçamentos dos projetos de pesquisa.

As melhores intenções – Eduardo Affonso

O Globo

'Ainda estou aqui' é bom por causa do roteiro, da fotografia, da direção, das interpretações — não pelas boas intenções

Ainda estou aqui’ mereceu todos os prêmios que amealhou mundo afora — o Oscar foi só o mais vistoso. E os mereceu não por contar uma história edificante de “resiliência”, “resistência”, “superação”. Nem por ter como protagonista essa nova Antígona, que luta pelo direito de saber a verdade sobre o desaparecimento do marido, poder enterrar seu corpo, conseguir uma certidão de óbito. Ou — usando uma das muitas metáforas do filme — para fazer pelo companheiro e pai de seus filhos o que fez pelo cachorro atropelado na frente de casa. É uma história forte e cheia de simbolismo, filmada enquanto o país ainda se recupera de um quase desastre institucional. Os prêmios reconheceram que havia ali um bom filme. É isso o que importa. Ou deveria importar.

Falhas e tensões mal processadas - Marco Aurélio Nogueira

Revista Será?

Não há nada pior para um governo no meio do mandato do que uma abrupta e consistente queda de popularidade.

Diz a tradição (que remonta a Maquiavel) que governos devem fazer o “mal”, o mais difícil e impopular, logo em seu início, para então poder distribuir benesses ao povo na parte final. Maquiavel falava numa época em que os mandatos não estavam predeterminados e não havia eleições. Hoje, os governantes não têm mais como seguir o conselho maquiaveliano. A vida ficou rápida e imprevisível demais, os problemas se acumulam e não há como programar no calendário as intervenções governamentais. Os governos estão forçados a seguir as imposições do real. Se forem capacitados, desenham um plano bem articulado e procuram cumpri-lo, o que não é fácil.

Além disso, em regimes de competição eleitoral permanente, os governos são arrastados por cálculos voltados para as próximas eleições, especialmente quando podem se recandidatar. Condicionam o desempenho governamental aos movimentos eleitorais, o que torna mais difícil fazer “entregas” substantivas à população. Há muita retórica, muitas promessas e pouquíssimo tempo para que frutifiquem. Com isso, o governo se desgasta, se debate com as mãos vazias.

Não há soluções simples para problemas complexos - Marcus Pestana

Na implantação das políticas públicas de saúde, simplismo e imediatismo desenham o caminho mais curto para o fracasso. O SUS, nascido do pacto democrático materializado na Constituição de 1988, tem uma bússola estratégica correta, uma arquitetura institucional sólida e uma base teórica robusta. Sua trajetória histórica é marcada por avanços inquestionáveis. O enfrentamento da pandemia do coronavírus foi seu último grande teste. No entanto, trinta e sete anos após o lançamento de sua pedra fundamental, o sistema nacional de saúde ainda possui lacunas visíveis no tocante ao investimento público per capita insuficiente (1/4 da média dos países da OCDE), às  falhas de gestão, na construção das redes assistenciais integradas, e na formação de seus recursos humanos.

Fui secretário de saúde de MG (2003/2010), presidente do CONASS (2005/2006) e titular da Comissão de Seguridade Social e Saúde da Câmara dos Deputados (2011/2018), quando conheci o SUS por dentro, sua complexidade, seus desafios e limitações.

Moral e política do petróleo - Cristovam Buarque

O dilema de Lula: olhar para a humanidade ou defender o eleitor?

O presidente Lula tem a chance de levar para a COP30, em Belém, metas ambiciosas para uma economia mundial sem combustíveis fósseis e a inclusão de compromisso com a educação para mudar a base da crise ambiental, em frágil equilíbrio pressionado pela voracidade por consumo e ganância por lucro. O problema: terá de optar entre a moral para cuidar da humanidade e a política para atender aos eleitores locais. A exploração de petróleo provoca desequilíbrios ecológicos, mas a população quer produção de petróleo na “Amazônia Azul”. Apesar da nomeação de André Corrêa do Lago e de Marina Silva, Lula perderá força moral se optar pela política e autorizar a Petrobras a fazer as pesquisas para aumentar, em vez de reduzir, a produção de petróleo. O eleitor não vota por barrar o aumento do nível do mar daqui a vinte anos, quer mais petróleo que permita reduzir o preço da gasolina.

Dolores Ibárruri (La Pasionaria) - Dia Internacional da Mulher

(1895-1985): Conhecida como "La Pasionaria", pseudônimo que adotou ao escrever para o jornal "El Minero Vizcaino", nasceu na Espanha no País Basco, seu nome verdadeiro era Isidora Ibárruri Gómez. Ingressou no Partido Comunista Espanhol em 1920. Em 1930 tornou-se membro do Comitê Central. Foi redatora do jornal Mundo Obrero, órgão do PC Espanhol, no qual dedicou-se às questões femininas. Foi presa pela primeira vez em 1931 e, em seguida em 1933. Com a vitória da Frente Popular foi eleita deputada. É de sua autoria o imortalizado grito de guerra "No Pasaran!", pronunciado após um pronunciamento do General Franco. Após a derrota na guerra civil espanhola refugiou-se na União Soviética. Em maio de 1944, no exílio, tornou-se Secretária Geral do Partido Comunista Espanhol e em 1960 é escolhida Presidente do Partido. Após a morte de Franco, retornou à Espanha tendo sido novamente eleita Deputada

sexta-feira, 7 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Alcolumbre eleva preço do Congresso para contribuinte

O Globo

Benesses concedidas por presidente do Senado aumentam custo de um dos legislativos mais caros do mundo

Na sexta-feira anterior ao carnaval, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), apresentou um pacote repleto de benefícios para os funcionários da Casa. Os cargos mais graduados do Senado passaram a ter direito a um dia de folga para cada três trabalhados, até o limite de dez dias por mês. O vale-refeição dos servidores foi reajustado em 22,2%, para R$ 1.784,42. Também foi aumentado o número de servidores com direito a 100% de um bônus de gratificação. Para completar, Alcolumbre aumentou a cota parlamentar à disposição dos gabinetes dos senadores.

Logo surgiram pressões para que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), equiparasse os benefícios de lá aos pagos no edifício vizinho. O Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo (Sindilegis) trabalha para obter as mesmas benesses, a começar pelo aumento do vale-refeição, hoje de R$ 1.393,11 por mês (a equiparação equivaleria a um reajuste de 28%).

O dia de folga é um tipo de privilégio comum no Judiciário. Na prática, folgar um dia a cada três equivale a receber um aumento salarial de 33%, pois o valor acaba incorporado como “indenização” em dinheiro para quem não usufrui o descanso. No Senado, o benefício foi concedido a servidores em “função relevante singular”, “em virtude dos ônus e responsabilidades”. A classificação é arbitrária. Na prática, levaram o aumento os funcionários alocados na diretoria-geral, na secretaria geral da Mesa, na advocacia, no gabinete da presidência, na auditoria, nas consultorias legislativa e orçamentária e na secretaria de comunicação.

Trump enfim acorda a Europa? - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Com PIB estagnado e sob ameaça de Putin, novo governo alemão pensa em guinada econômica e militar

A inflação nos Estados Unidos vai aumentar por causa dos aumentos de impostos de importação de Donald Trump? A economia americana vai crescer menos por causa da balbúrdia de Trump?

São perguntas importantes. Mas são questões ainda quase apenas americanas, que dominam o noticiário e o debate mais corriqueiro, se por mais não fosse porque vemos o mundo com olhos e ouvidos americanos.

O que já se passa em países como, por exemplo, a Alemanha, a terceira maior economia do mundo?

Os alemães estão prestes a dar uma guinada na política econômica, a maior em mais de 30 anos, e de defesa, talvez a maior desde a Segunda Guerra. O novo comando do país pretende endividar o governo a fim de estimular a economia, refazer a infraestrutura e aparelhar suas forças armadas.