domingo, 13 de julho de 2025

Crise é oportunidade - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Governo brasileiro pode, se quiser, lidar com crise de forma digna, pragmática e profissional

O governo brasileiro pode, se quiser, lidar com a crise deflagrada pela tarifa de 50% de Donald Trump de forma digna, pragmática e profissional, visando os interesses nacionais.

Trump deixou claro, na carta a Lula, sua identificação com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Esse aspecto deve ser ignorado pelo governo. Ele não é determinante. Reflete apenas o desejo de Trump de se projetar como líder da direita internacional.

O governo, empresas e a Justiça dos EUA acusam o STF de extrapolar sua jurisdição e prejudicar companhias americanas ao impor a retirada, das redes sociais, de conteúdos considerados ilegais no Brasil.

O STF não pode ceder nisso. Mas, como sugeriu o ex-diretor-geral da OMC Roberto Azevedo, o governo brasileiro pode propor a criação de comissão binacional para discutir a regulação das redes sociais e inteligência artificial. Se Lula convidou um consultor da ditadura chinesa para assistir o Brasil nessa área, não deveria ferir a soberania discutir o tema com os EUA.

Lula pode, a portas fechadas, sinalizar que não defenderá mais a substituição do dólar como moeda de reserva global. Falar sobre isso não beneficia o Brasil. O custo da dominância do dólar seria reduzido com melhora da gestão pública e do ambiente de negócios, responsabilidade fiscal, juros baixos, atração de investimentos, regime tributário coerente, indústria e serviços mais competitivos.

Lula pode indicar sigilosamente a Trump um distanciamento em relação a China, Cuba e Irã e salientar a comunhão de valores e interesses com os EUA. A China faz comércio e investimentos no Brasil porque é proveitoso para ela, não por causa da amizade de Lula.

O Brasil pratica tarifas e outras barreiras comerciais muito altas. A média tarifária é de 11,8%, quando a dos EUA era de 2,5% antes de Trump, e a da Europa, 5%. O plástico, por exemplo, tem alíquota de importação de 20%; o PVC, de 43%. Ações antidumping adotadas pelo Brasil protegem segmentos politicamente influentes. O Brasil é o único país do mundo com ação desse tipo contra o polipropileno americano.

Essa crise é uma oportunidade para o Brasil abandonar, de forma negociada, essas barreiras. Isso incentivaria indústrias brasileiras a investir em produtividade e qualidade, o que beneficiaria o Brasil.

Numa negociação, o Brasil poderia oferecer a redução do imposto de 15%, criado em outubro, sobre empresas estrangeiras, que atinge as big techs americanas. Trump poderia apresentar essas concessões como vitórias e recuar da tarifa de 50%. Todos sairiam ganhando.

 

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