O Estado de S. Paulo
Governo brasileiro pode, se quiser, lidar com crise de forma digna, pragmática e profissional
O governo brasileiro pode, se quiser, lidar
com a crise deflagrada pela tarifa de 50% de Donald Trump de forma digna,
pragmática e profissional, visando os interesses nacionais.
Trump deixou claro, na carta a Lula, sua
identificação com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Esse aspecto deve ser
ignorado pelo governo. Ele não é determinante. Reflete apenas o desejo de Trump
de se projetar como líder da direita internacional.
O governo, empresas e a Justiça dos EUA
acusam o STF de extrapolar sua jurisdição e prejudicar companhias americanas ao
impor a retirada, das redes sociais, de conteúdos considerados ilegais no
Brasil.
O STF não pode ceder nisso. Mas, como sugeriu o ex-diretor-geral da OMC Roberto Azevedo, o governo brasileiro pode propor a criação de comissão binacional para discutir a regulação das redes sociais e inteligência artificial. Se Lula convidou um consultor da ditadura chinesa para assistir o Brasil nessa área, não deveria ferir a soberania discutir o tema com os EUA.
Lula pode, a portas fechadas, sinalizar que
não defenderá mais a substituição do dólar como moeda de reserva global. Falar
sobre isso não beneficia o Brasil. O custo da dominância do dólar seria
reduzido com melhora da gestão pública e do ambiente de negócios,
responsabilidade fiscal, juros baixos, atração de investimentos, regime
tributário coerente, indústria e serviços mais competitivos.
Lula pode indicar sigilosamente a Trump um
distanciamento em relação a China, Cuba e Irã e salientar a comunhão de valores
e interesses com os EUA. A China faz comércio e investimentos no Brasil porque
é proveitoso para ela, não por causa da amizade de Lula.
O Brasil pratica tarifas e outras barreiras
comerciais muito altas. A média tarifária é de 11,8%, quando a dos EUA era de
2,5% antes de Trump, e a da Europa, 5%. O plástico, por exemplo, tem alíquota
de importação de 20%; o PVC, de 43%. Ações antidumping adotadas pelo Brasil
protegem segmentos politicamente influentes. O Brasil é o único país do mundo
com ação desse tipo contra o polipropileno americano.
Essa crise é uma oportunidade para o Brasil
abandonar, de forma negociada, essas barreiras. Isso incentivaria indústrias
brasileiras a investir em produtividade e qualidade, o que beneficiaria o
Brasil.
Numa negociação, o Brasil poderia oferecer a
redução do imposto de 15%, criado em outubro, sobre empresas estrangeiras, que
atinge as big techs americanas. Trump poderia apresentar essas concessões como
vitórias e recuar da tarifa de 50%. Todos sairiam ganhando.
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