O Estado de S. Paulo
Trump deu uma boia para Lula, Alexandre de
Moraes deu para Jair Bolsonaro. E depois recuou
Alexandre de Moraes está sendo para Jair
Bolsonaro o que Donald Trump foi para Lula, pelo menos no primeiro momento da
guerra do tarifaço de 50%: uma boia de salvação, ou a chance de ouro para sair
do fundo do poço, ganhar apoio, visibilidade, propaganda e o discurso da união.
Quanto mais o relator da trama do golpe endurece contra o réu, mais o réu se passa por vítima e até chora, de olho no Congresso e nas próximas pesquisas de opinião. Nas últimas, ele foi o que mais caiu, enquanto Lula foi o que mais ganhou pontos após as investidas de Trump e já até articula reação em todos os continentes – ainda mais com os EUA de olho grande nos minerais críticos do Brasil.
Ao determinar medidas cautelares para
Bolsonaro, como tornozeleira, horários de saída de casa e veto ao uso da
internet e a conversas com o filho, Alexandre de Moraes se baseou na PF e na
PGR, que detectaram risco de fuga e obstrução da Justiça. Afinal, o
ex-presidente já se escondera antes numa embaixada e, já réu, ampliou seus
contatos nos EUA e mandou R$ 2 milhões para o filho, que se diz “exilado” no
país.
O questionamento à decisão de Moraes foi
quanto à oportunidade: no dia seguinte à carta abusada de Trump para Lula, mas
o que complicou para Moraes e facilitou para Bolsonaro foi quando o ministro
ameaçou o ex-presidente de prisão por “descumprir as cautelares”. Foi um
presentão para a defesa, para quem que não houve descumprimento e deu um
xeque-mate: que controle Bolsonaro tem sobre o destino de suas entrevistas a
rádios, jornais, TVs e sites? Como ele poderia impedir que fossem parar nas redes?
A saída de Moraes seria proibir as próprias entrevistas. Uma não saída, porque
caracterizaria censura – palavrinha fácil nos ataques bolsonaristas ao STF – e
abriria uma frente de batalha com a mídia.
A ameaça de prisão teve efeito bumerangue até
na Primeira Turma do STF, que julga o golpe: o ministro Luiz Fux abriu
dissidência e quebrou a unanimidade, questionando, inclusive, o ponto central
das cautelares. Segundo ele, PF e PGR não deram “novas provas” de tentativa
real de fuga. Mais do que isso, Moraes engrossou as críticas a ele e à Corte e
reforçou o discurso de “perseguição política”, reanimando a militância e a
bancada bolsonaristas.
Moraes acusou o golpe, demorou muito a
responder aos questionamentos da defesa de Bolsonaro e deu explicações tão
confusas que nem os especialistas compreenderam. Ao descartar a prisão e
resumir os descumprimentos das cautelares a uma “irregularidade isolada”, ele
deixou claro: foi obrigado a recuar, mas não queria. Para um ego como o dele,
deve ter doído, mas foi necessário.
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