sexta-feira, 25 de julho de 2025

Moraes alivia pressão sobre Bolsonaro, mas a corda continua esticada – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

"Apesar de reconhecer que houve descumprimento das restrições, o magistrado classificou o gesto e as declarações do ex-presidente uma 'irregularidade isolada', advertindo, porém, que qualquer nova infração resultará em prisão imediata"

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decidiu não converter em prisão preventiva as medidas cautelares impostas a Jair Bolsonaro. Apesar de reconhecer que houve descumprimento das restrições, o magistrado classificou o gesto e as declarações do ex-presidente uma "irregularidade isolada", advertindo, porém, que qualquer nova infração resultará em prisão imediata. A decisão alivia a tensão entre Bolsonaro e o Judiciário, mas o ambiente político permanece carregado, especialmente diante do impasse diplomático entre o Brasil e os Estados Unidos por causa do tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros, que está a sete dias de entrar em vigor.

Ao ter trechos de seu discurso na Câmara dos Deputados divulgados on-line, Bolsonaro burlou, ainda que indiretamente, a decisão de Moraes de proibir o uso das redes sociais. O ministro ressaltou que "a Justiça é cega, mas não é tola" e proibiu explicitamente o uso de entrevistas ou discursos como "material pré-fabricado" para postagens de aliados. Todas as cautelares estão mantidas: tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno e nos fins de semana, restrição de contato com outros investigados, proibição de se aproximar de embaixadas e de manter comunicação com diplomatas estrangeiros.

Bolsonaro, no entanto, continua na fronteira da transgressão das decisões judiciais. Na quinta-feira, participou de um culto evangélico na região administrativa de Taguatinga, ao lado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que denunciou publicamente uma suposta "censura prévia" contra o marido. Ele chorou durante a celebração, reforçando sua estratégia de vitimização perante sua base eleitoral.

Enquanto o embate jurídico no Brasil parece momentaneamente contido, a tensão entre o governo brasileiro e a Casa Branca continua. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma semana para aceitar as exigências da Casa Branca, que investiu contra o julgamento de Bolsonaro, o comércio da 25 de Março em São Paulo e o Pix, além de taxar as exportações brasileiras em 50% e ameaçar dobrar essa aposta. Ontem, no Vale do Jequitinhonha, manteve a corda esticada. Relembrou os 580 dias que passou preso em Curitiba, criticou a "perseguição judicial" da Operação Lava-Jato e comparou sua própria resistência às atuais pressões de Trump. "Um cara que passou fome até os 5 anos e sobreviveu não vai correr", afirmou.

Lula disse que rejeitou acordos que, segundo ele, feririam sua dignidade e destacou a mobilização popular que o apoiou durante a prisão. O discurso teve tom de palanque eleitoral, emocionou o público e reforçou sua imagem de líder combativo em defesa da soberania nacional. Essa postura tem servido para melhorar a aprovação do petista e do governo, segundo as pesquisas de opinião. Lula afirmou que está pronto para negociar.

Terras raras

"Eu fiquei pensando: o que fazer? Ele não quer conversar, se ele quisesse conversar, ele pegava o telefone e me ligava", disse. Ironizou a situação: "Se Trump estiver 'trucando', ele 'vai tomar um seis'". No "truco", um jogo de cartas, blefa-se muito. "Pedir o 6" significa aumentar a aposta de três para seis pontos após um pedido de truco. Quando um jogador ou dupla pede "truco", o adversário pode aceitar, aumentando a aposta para quatro pontos, ou "fugir", perdendo a rodada e cedendo dois pontos ao adversário.

Se o adversário não aceitar o truco e optar por "pedir o 6", a aposta dobra novamente, passando para seis pontos. A partir daí, quem pediu o 6 pode aceitar, dobrar para nove pontos ("pedir 9") ou fugir, perdendo a rodada e cedendo seis pontos ao adversário. Lula é um negociador experiente, tanto quanto Trump, um foi sindicalista e o outro é empresário. A comparação com o truco é enigmática sobre como Lula pretende conduzir a posição do governo a partir 1º de agosto.

A retaliação norte-americana tem motivações econômicas, além das políticas. Ontem, uma nova carta foi posta na mesa. O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, revelou que autoridades norte-americanas reforçaram o interesse nos minerais críticos e estratégicos brasileiros (MCEs), como nióbio, lítio, cobalto e terras raras. Segundo Jungmann, o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, reiterou a preocupação de Washington com o acesso seguro a essas matérias-primas.

O Brasil ocupa posição privilegiada nesse tabuleiro geopolítico. Possui a segunda maior reserva conhecida de terras raras do mundo, atrás apenas da China, que hoje domina a cadeia global de refino. Esses minerais são cruciais para carros elétricos, turbinas eólicas, semicondutores e equipamentos militares, o que explica a disputa cada vez mais intensa entre as grandes potências. Em meio às tensões com o Brasil, os EUA buscaram um acordo emergencial com a China para garantir o fornecimento de terras raras.

Em Genebra, Pequim comprometeu-se a retirar restrições às exportações para os norte-americanos, em troca da flexibilização de sanções impostas por Trump. O entendimento, porém, ainda enfrenta desconfianças, já que a China passou a controlar rigorosamente a destinação dos materiais, temendo que abasteçam a indústria militar norte-americana. Essa disputa coloca o Brasil em uma encruzilhada estratégica. Com reservas abundantes e infraestrutura mineradora, o país ainda exporta matéria-prima bruta, sem agregar valor tecnológico.

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