O Estado de S. Paulo
Aos poucos, a indignação infantil e
inconsequente vai sendo substituída por uma visão mais realista das nossas
precariedades.
A primeira reação do presidente Lula ao
anúncio do presidente Trump sobre o tarifaço de 50%, a vigorar a partir de 1º
de agosto, foi apelar para a soberania nacional e para revides em nome do
princípio da reciprocidade. Lula chegou a avisar que recorreria à Organização
Mundial do Comércio, providência que teria a mesma força de um pedido de apoio
ao arcebispo de Nova York. Nesta quinta-feira, declarou que “gringo não vai dar
ordens” e, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, disse que
“No Brasil, ninguém está acima da lei”.
Mas, na avaliação de parte dos empresários
brasileiros, cutucar a onça com vara curta poderia levar ao pior. O País está
na defensiva, tentando se apegar a alguma ajuda dos empresários
norte-americanos prejudicados com a alta dos preços dos produtos exportados
pelo Brasil. Nem a primeira carta enviada a Donald Trump, logo após o anúncio
do tarifaço geral em abril, conseguiu resposta.
O presidente Trump parece ter eliminado a principal justificativa apresentada em sua carta do dia 11, quando alegou que o ex-presidente Jair Bolsonaro estava sendo vítima de uma caça às bruxas. “Bolsonaro nem chega a ser amigo”, disse Trump. “É apenas conhecido.”
A verdade é que o Brasil começa a se dar
conta de que não tem poder de barganha diante de Trump, e qualquer alegação
pode servir de pretexto para algum ato econômico de força. Até mesmo o Pix é
acusado como política desleal aos Estados Unidos – apenas porque as bandeiras
de cartões de débito começam a perder função e se tornar inúteis.
A economia brasileira carrega mazelas,
enquanto o governo segue se enganando com a ideia de que somos “um país
tropical, abençoado por Deus!”
Outra seria a condição do Brasil para
enfrentar trancos como esse se não houvesse o rombo fiscal e, em consequência
dele, os juros não tivessem de ir para a lua, derrubando a competitividade do
produto nacional. Ou se a indústria e boa parte do setor produtivo não
carregassem os problemas que têm hoje com seu sistema imunológico debilitado
porque vivem dopados pelo protecionismo, pelos subsídios, pelas isenções
tributárias, pela criação de reservas de mercado, pela imposição de conteúdos
locais e pela artificialidade da competitividade zero, como a da Zona Franca de
Manaus.
Bem outra seria a situação do Brasil se seus
governos tivessem tomado a iniciativa de fechar acordos comerciais com o resto
do mundo, em vez de insistirem tanto no Mercosul, que, até agora, não conseguiu
passar ao estágio inicial de integração: o de área de livre comércio.
Esta é uma situação grave que, pelo menos, pode ser aproveitada pelo governo como oportunidade para abandonar a distribuição de presentes de Papai Noel, levar a sério a saúde das contas públicas e realizar as reformas sempre anunciadas e nunca enfrentadas.
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