sexta-feira, 18 de julho de 2025

Virou guerra de presidentes – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Lula parte para a briga, Trump vai da chantagem a um inadmissível ultimato

Se até o ex-vice presidente Hamilton Mourão entrou na contramão dos Bolsonaros e disse para Donald Trump “não meter o bedelho” no Brasil, é a vez de os brasileiros gritarem que “o Pix é nosso” e os paulistanos, que “a 25 de Março é nossa!” Bom para Lula? Sim, mas ele está usando politicamente a onda de união nacional.

Lula está entre recuperar energia para 2026 ou apoio do Congresso e arriscando seus ganhos ao confrontar Trump, que passou da chantagem ao ultimato, em carta a Jair Bolsonaro. Suspender o julgamento de Bolsonaro imediatamente?

Durou pouco também a trégua que o Congresso – ou melhor, o Centrão – selou com Lula depois dos bombardeios dos EUA ao Supremo, aos produtos, às empresas e à soberania nacional. No mesmo dia em que Hugo Motta e Davi Alcolumbre se reuniram com Geraldo Alckmin para demonstrar apoio à resistência a Trump, a trégua desabou sob o peso de três projetos.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes de dar a vitória ao governo na guerra do IOF, com um prêmio de consolação para o Congresso, ao retirar as novas taxas para o “risco sacado”, massificou a percepção de que a “audiência de conciliação” convocada por Moraes foi puro teatro, já estava tudo acertado.

E Lula ficou entre a cruz e a espada até vetar o aumento do número de deputados. Sancionar seria desperdiçar o mote“pobres contra ricos” e contrariar a opinião pública – na Quaest, 85% são contra a medida. Mas o veto põe o Centrão novamente de armas em punho contra o governo. Horas depois, o Congresso aprovava um projeto que vai custar mais R$ 30 bilhões à União.

Por fim, a Câmara aprovou a “flexibilização” das licenças ambientais, o que divide oposição e governo, direita e esquerda, às vésperas da COP-30 e numa hora de união nacional pela soberania. O agronegócio, por exemplo, se uniu ao governo contra os ataques de Trump, mas é historicamente anti-PT e mina as licenças para “abrir a porteira” para seus pastos. Chama o STF!

O que Trump uniu, os lobbies e o corporativismo, de um lado, e o populismo e a campanha de Lula para 2026, de outro, estão desunindo. O bombardeio dos EUA é gravíssimo, ameaça a estabilidade do Brasil e exige cabeças frias, união nacional e Poderes em sintonia, mas o Congresso olha para o próprio umbigo e Lula volta a afastar o Centrão enquanto anuncia taxas para big techs americanas.

Se Bolsonaro quer entregar a soberania nacional para se livrar da cadeia, Lula não deveria arriscar os interesses do Brasil e dos brasileiros em favor de um quarto mandato. A prioridade não é salvar um nem reeleger o outro, é garantir os interesses nacionais.

 

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