domingo, 13 de julho de 2025

Patriotas contra a pátria - Bernardo Mello Franco

O Globo

Governador usou tarifaço de Trump como pretexto para viabilizar ida de aliado para os EUA, mas ministros da Corte não nasceram ontem

Na quarta-feira, Donald Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos do Brasil. Em nota lida nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro agradeceu e comemorou. “A carta do presidente dos Estados Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos apresentando”, gabou-se.

Eleito por brasileiros, o deputado reivindicou participação numa medida que causará prejuízo e desemprego no país. “Thank you, president Trump”, tuitou, no idioma do Pateta. O Zero Três já havia provado não ter medo do ridículo. No governo do pai, tentou atropelar a diplomacia profissional para ser embaixador em Washington. Questionado sobre as credenciais para o cargo, disse que fez intercâmbio e fritou hambúrgueres “no frio do Maine”.

Eduardo circula pela Flórida ao lado de Paulo Figueiredo, youtuber de extrema direita foragido nos EUA para não responder na Justiça por envolvimento na tentativa de golpe. Neto do último ditador brasileiro, o amigo do Bananinha gravou um vídeo em que festeja o tarifaço. “É daqui para baixo. Eu avisei que haveria choro e ranger de dentes”, celebrou.

Dirigindo-se aos congressistas brasileiros, o herdeiro do general endossou a chantagem de Trump e condicionou a retirada das tarifas à aprovação de uma anistia aos crimes de Jair Bolsonaro. “Não há outra saída para o Brasil”, sentenciou. “Caso os senhores não aceitem essa proposta, está no colo de vocês”.

Primogênito do capitão, Flávio Bolsonaro condecorou um conhecido chefe de milícia, que empregou a mãe e a mulher em seu gabinete. Em entrevista à CNN, o senador se mostrou à vontade com a extorsão em escala internacional. “Não estamos em condições de exigir nada do Trump. Ele vai fazer o que quiser, independente (sic) da nossa vontade”.

O Zero Um comparou o tarifaço articulado por seu irmão a uma bomba atômica lançada sobre o Brasil. Ao defender a rendição do país, deixou claro que escolheu o lado do agressor estrangeiro.

“Deixo claro meu respeito e admiração pelo governo dos EUA”, afirmou Jair Bolsonaro, em nota divulgada na quinta-feira. Um dia depois do ataque à economia brasileira, o capitão elogiou a “firmeza” e a “coragem” de Trump. Ele já disse bancar o filho que abandonou o mandato para bajular o presidente americano. “Botei R$ 2 milhões na conta dele. Lá fora tudo é mais caro”, justificou.

Tarcísio de Freitas é governador de São Paulo, estado mais prejudicado pelo tarifaço. Na quarta, tentou culpar o presidente Lula pela chantagem em favor da impunidade de Bolsonaro. Depois procurou ministros do Supremo com uma proposta exótica: autorizar o ex-presidente a viajar para os EUA, a pretexto de negociar com Trump.

Os magistrados consideraram a ideia “esdrúxula” e “fora de propósito”, informou a colunista Mônica Bergamo. Bolsonaro está com o passaporte retido para não fugir do país antes do julgamento. Tarcísio se acostumou a lidar com gente que acredita no patriotismo do capitão, mas os ministros não nasceram ontem.

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