O Globo
Governador usou tarifaço de Trump como
pretexto para viabilizar ida de aliado para os EUA, mas ministros da Corte não
nasceram ontem
Na quarta-feira, Donald Trump anunciou uma
sobretaxa de 50% sobre produtos do Brasil. Em nota lida nas redes sociais,
Eduardo Bolsonaro agradeceu e comemorou. “A carta do presidente dos Estados
Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos
apresentando”, gabou-se.
Eleito por brasileiros, o deputado reivindicou participação numa medida que causará prejuízo e desemprego no país. “Thank you, president Trump”, tuitou, no idioma do Pateta. O Zero Três já havia provado não ter medo do ridículo. No governo do pai, tentou atropelar a diplomacia profissional para ser embaixador em Washington. Questionado sobre as credenciais para o cargo, disse que fez intercâmbio e fritou hambúrgueres “no frio do Maine”.
Eduardo circula pela Flórida ao lado de Paulo
Figueiredo, youtuber de extrema direita foragido nos EUA para não responder na
Justiça por envolvimento na tentativa de golpe. Neto do último ditador
brasileiro, o amigo do Bananinha gravou um vídeo em que festeja o tarifaço. “É
daqui para baixo. Eu avisei que haveria choro e ranger de dentes”, celebrou.
Dirigindo-se aos congressistas brasileiros, o
herdeiro do general endossou a chantagem de Trump e condicionou a retirada das
tarifas à aprovação de uma anistia aos crimes de Jair Bolsonaro. “Não há outra
saída para o Brasil”, sentenciou. “Caso os senhores não aceitem essa proposta,
está no colo de vocês”.
Primogênito do capitão, Flávio Bolsonaro
condecorou um conhecido chefe de milícia, que empregou a mãe e a mulher em seu
gabinete. Em entrevista à CNN, o senador se mostrou à vontade com a extorsão em
escala internacional. “Não estamos em condições de exigir nada do Trump. Ele
vai fazer o que quiser, independente (sic) da nossa vontade”.
O Zero Um comparou o tarifaço articulado por
seu irmão a uma bomba atômica lançada sobre o Brasil. Ao defender a rendição do
país, deixou claro que escolheu o lado do agressor estrangeiro.
“Deixo claro meu respeito e admiração pelo
governo dos EUA”, afirmou Jair Bolsonaro, em nota divulgada na quinta-feira. Um
dia depois do ataque à economia brasileira, o capitão elogiou a “firmeza” e a
“coragem” de Trump. Ele já disse bancar o filho que abandonou o mandato para
bajular o presidente americano. “Botei R$ 2 milhões na conta dele. Lá fora tudo
é mais caro”, justificou.
Tarcísio de Freitas é governador de São
Paulo, estado mais prejudicado pelo tarifaço. Na quarta, tentou culpar o
presidente Lula pela chantagem em favor da impunidade de Bolsonaro. Depois
procurou ministros do Supremo com uma proposta exótica: autorizar o
ex-presidente a viajar para os EUA, a pretexto de negociar com Trump.
Os magistrados consideraram a ideia “esdrúxula” e “fora de propósito”, informou a colunista Mônica Bergamo. Bolsonaro está com o passaporte retido para não fugir do país antes do julgamento. Tarcísio se acostumou a lidar com gente que acredita no patriotismo do capitão, mas os ministros não nasceram ontem.
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