O Estado de S. Paulo
Lula parte para a briga, Trump vai da chantagem a um inadmissível ultimato
Se até o ex-vice presidente Hamilton Mourão
entrou na contramão dos Bolsonaros e disse para Donald Trump “não meter o
bedelho” no Brasil, é a vez de os brasileiros gritarem que “o Pix é nosso” e os
paulistanos, que “a 25 de Março é nossa!” Bom para Lula? Sim, mas ele está
usando politicamente a onda de união nacional.
Lula está entre recuperar energia para 2026
ou apoio do Congresso e arriscando seus ganhos ao confrontar Trump, que passou
da chantagem ao ultimato, em carta a Jair Bolsonaro. Suspender o julgamento de
Bolsonaro imediatamente?
Durou pouco também a trégua que o Congresso – ou melhor, o Centrão – selou com Lula depois dos bombardeios dos EUA ao Supremo, aos produtos, às empresas e à soberania nacional. No mesmo dia em que Hugo Motta e Davi Alcolumbre se reuniram com Geraldo Alckmin para demonstrar apoio à resistência a Trump, a trégua desabou sob o peso de três projetos.
A decisão do ministro Alexandre de Moraes de
dar a vitória ao governo na guerra do IOF, com um prêmio de consolação para o
Congresso, ao retirar as novas taxas para o “risco sacado”, massificou a
percepção de que a “audiência de conciliação” convocada por Moraes foi puro
teatro, já estava tudo acertado.
E Lula ficou entre a cruz e a espada até
vetar o aumento do número de deputados. Sancionar seria desperdiçar o mote“pobres
contra ricos” e contrariar a opinião pública – na Quaest, 85% são contra a
medida. Mas o veto põe o Centrão novamente de armas em punho contra o governo.
Horas depois, o Congresso aprovava um projeto que vai custar mais R$ 30 bilhões
à União.
Por fim, a Câmara aprovou a “flexibilização”
das licenças ambientais, o que divide oposição e governo, direita e esquerda,
às vésperas da COP-30 e numa hora de união nacional pela soberania. O
agronegócio, por exemplo, se uniu ao governo contra os ataques de Trump, mas é
historicamente anti-PT e mina as licenças para “abrir a porteira” para seus
pastos. Chama o STF!
O que Trump uniu, os lobbies e o
corporativismo, de um lado, e o populismo e a campanha de Lula para 2026, de
outro, estão desunindo. O bombardeio dos EUA é gravíssimo, ameaça a
estabilidade do Brasil e exige cabeças frias, união nacional e Poderes em sintonia,
mas o Congresso olha para o próprio umbigo e Lula volta a afastar o Centrão
enquanto anuncia taxas para big techs americanas.
Se Bolsonaro quer entregar a soberania
nacional para se livrar da cadeia, Lula não deveria arriscar os interesses do
Brasil e dos brasileiros em favor de um quarto mandato. A prioridade não é
salvar um nem reeleger o outro, é garantir os interesses nacionais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário