O Globo
O tarifaço de Trump acabou com a família
Bolsonaro. Ficou claro que tudo é um arranjo para salvá-los pessoalmente, sem
ajuda nenhuma para os “pobres velhinhos e velhinhas” que participaram do 8 de
Janeiro
Ao mesmo tempo que reafirma sua lealdade
quase suicida ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo,
Tarcísio de Freitas, pisa no acelerador no discurso de candidato à Presidência
da República, reproduzindo até o famoso slogan de um dos mais populares
presidentes brasileiros, Juscelino Kubitschek. Fazer 40 anos em quatro é uma
promessa de palanque de Tarcísio, que nunca antes havia ultrapassado a linha
imaginária que separa o sonho da realidade.
À medida que se aproxima a data do julgamento de Bolsonaro, o panorama vai clareando diante do fato consumado. Recentes pesquisas de opinião mostram que o eleitor já se posiciona diante dos desafios que terá de enfrentar nas urnas dentro de pouco mais de um ano. A Quaest aponta que 55% consideram justa a prisão domiciliar de Bolsonaro e 39% injusta; e que 49% não estão de acordo com as sanções do governo americano impostas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, enquanto 39% estão de acordo.
Outra pesquisa, da Atlas/Intel, diz que 49%
aprovam a posição do ministro e 51% desaprovam. Moraes representa, assim, a
polarização política que vigora no país hoje. É mau sinal, porque o STF passa a
ser parte da questão, e é muito ruim — deveria estar acima das disputas
políticas. Na verdade, historicamente sempre teve envolvimento político, mas,
nos últimos anos, a partir dos julgamentos do mensalão e do petrolão, passou a
ser um player político, cujas decisões interferem na disputa eleitoral. Foi
assim com Lula, é assim com Bolsonaro.
Não é bom sinal da democracia, mas é um
fenômeno que se espraia pelo mundo. Nos Estados Unidos, Donald Trump faz o que
quer, e a Suprema Corte atua como apoio, na maioria das vezes presumido, por
sua maioria conservadora, enviando mensagens aos poderes regionais. É um
reflexo da nossa política atual, de confrontação e do uso do Judiciário para
fortalecer o poder político.
Muitos governos controlam a Suprema Corte com
manobras e decisões autoritárias, que garantem aparência de democracia, mas no
fundo são controladas pelos governos autoritários. É assim que a coisa anda por
este nosso mundo conturbado. Após as revelações dos áudios dos diálogos entre
Bolsonaros, pai e filho, e das provas de ações antipatrióticas e ilegais no
país e no exterior, no momento nenhum político brasileiro pode confrontar o
presidente Lula, como mostra outra pesquisa Quaest.
O tarifaço de Trump acabou com a família
Bolsonaro. Ficou claro que tudo é um arranjo para salvá-los pessoalmente, sem
ajuda nenhuma para os “pobres velhinhos e velhinhas” que participaram do 8 de
Janeiro “sem querer, sem intenção de golpe”, embora essa fosse a principal
reivindicação dos acampados à beira dos quartéis. Os mais recentes áudios
vazados — que a pesquisa não contempla ainda — terminaram por enterrar a relação
familiar horrorosa — filho xingando pai com os piores palavrões, Bolsonaro
transferindo milhões de reais para contas da esposa, Michelle, e do filho
fujão.
É uma família que usa dinheiro público e
privado — obtido de seus seguidores — para interesse próprio. A narrativa de
que são patriotas não existe. Perderam o maior símbolo que tinham, o verde e
amarelo. Haviam tirado da esquerda a bandeira do Brasil e a camisa da seleção,
que viraram símbolo do patriotismo. Hoje estão com a bandeira dos Estados Unidos.
Continuar apoiando Bolsonaro a troco do antipetismo? Não tem cabimento, o
antipetismo tem um limite, que são seus opositores. Em 2018, não se sabia
direito quem era e como era Bolsonaro, ou não se queria acreditar nos relatos
de suas atuações no Congresso. Em 2022, ele perdeu usando a máquina do Estado,
e agora, com todos esses fatos, acho difícil que o bolsonarismo continue
representando a centro-direita.
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