O Estado de S. Paulo
CPMI será usada contra governo Lula, enquanto no STF Bolsonaro estará no banco dos réus
O governo Lula e a oposição bolsonarista vão
enfrentar provações cruciais e simultâneas a partir dos próximos dias. Na terça-feira,
26, o Congresso dará início aos trabalhos da CPMI para investigar a fraude no
INSS. Os líderes governistas dormiram no ponto e deixaram que a presidência e a
relatoria da comissão fossem conquistadas por opositores ferrenhos. Uma semana
depois, no dia 2, o STF vai iniciar o julgamento do ex-presidente Jair
Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Dois circos estarão montados um ao lado do outro, disputando público. A oposição bolsonarista vai usar a CPMI para criar fatos, manchetes e vídeos virais negativos em série contra o governo — enquanto, no picadeiro ao lado, Jair Bolsonaro estará sentado no banco dos réus.
O objetivo dos oposicionistas vai ser,
primeiro, provar responsabilidade do Executivo no avanço do esquema de
descontos indevidos nos benefícios dos aposentados e, segundo, vincular
entidades que participaram da fraude ao PT e, quem sabe, ao próprio presidente.
Uma possibilidade é que Frei Chico, irmão de
Lula e vice-presidente de um dos sindicatos investigados, seja convocado para
prestar depoimento na comissão.
A CPMI do INSS tem tudo para se tornar um
eficiente instrumento de desgaste da imagem do governo Lula, assim como a CPI
da Covid-19 contribuiu para abalar a popularidade de Bolsonaro em 2021. O então
presidente tinha 30% de aprovação popular, segundo o Datafolha, antes daquela
comissão começar. Depois de seis meses de uma CPI que expôs a atuação criminosa
do governo na pandemia, a popularidade de Bolsonaro minguou para 22%.
Costuma-se dizer em Brasília que todos sabem
como uma CPI começa, mas não como termina. Esse imponderável é o que torna essa
comissão tão perigosa para Lula. Já do julgamento de Bolsonaro no STF pode-se
dizer o oposto: sabese como começa e pode-se fazer uma aposta segura de como
termina, ou seja, provavelmente com a condenação do ex-presidente.
A situação política de Bolsonaro não passará
a ser muito diferente da atual. A confirmação de sua prisão apenas vai permitir
aos seus herdeiros políticos se movimentar com mais liberdade para disputar seu
espólio eleitoral.
O bolsonarismo vai se fortalecer com a
narrativa de perseguição ao seu líder e com a possibilidade de se unir em torno
de um nome que o “honre” nas urnas. As peripécias no circo ao lado são mais
imprevisíveis. •
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