O Estado de S. Paulo
Governador troca a pacificação do País por uma prenda que se carrega em uma festa de peão
Ao deixar a Academia Militar de Saint-Cyr, o
jovem aspirante Charles de Gaulle foi enviado ao 33.º Regimento de Infantaria,
em Arras. Ali foi apresentado ao seu primeiro chefe, o coronel Philippe Pétain.
“Demonstrou-me o que valem o dom e a arte de comandar.” Essas são as primeiras
páginas das Memórias de Guerra do general De Gaulle.
Não é preciso recontar o que se passou nos anos seguintes com a França e os dois personagens desse parágrafo para reconhecer a coragem moral do general diante da capitulação de Pétain ao inimigo. Seu antigo chefe passaria à história como o traidor de Vichy, artífice de um desastroso armistício militar que submeteu seu país não apenas à servidão estrangeira, mas ao nazifascismo. Quando um líder se desvia de princípios e valores que diz defender, não é o subordinado que se torna desleal ao romper; ele apenas reafirma o que aprendeu na caserna.
Se já não bastassem as provas do processo no
STF, conversas recém-reveladas entre Jair Bolsonaro e o filho Eduardo reforçam,
segundo a PF, que ambos procuraram prejudicar indistintamente o País só para
salvar o ex-presidente. Analistas em Brasília consideram que elas deveriam
levar as forças políticas que almejam a Presidência a não mais se envolverem
com essa família. Se não por convicção, por cálculo e juízo.
Nenhuma perseguição é capaz de desmentir o
que foi dito. A Alexandre de Moraes, pode-se lembrar a inscrição no templo de
Apolo, em Delfos: “nada em excesso”, como advertência contra a hybris, a
arrogância, a incapacidade de respeitar os limites. Mas juristas reafirmam que
há fatos e eles devem ter consequências, ainda que só se conheçam as mensagens
de uns e não as de todos os políticos do País.
É nesse contexto que uma estranha compulsão
tomou conta de alguns governadores: ir até o fim na associação com Bolsonaro. A
imagem de Tarcísio de Freitas brandindo um boneco do ex-presidente na Festa do
Peão, em Barretos, parece um meme. Feito pelo PT. Lula sorriu no Planalto.
Sidônio abriu champanhe. Nem mesmo em seus sonhos mais desvairados, o petismo
poderia sonhar com tal favor.
Haddad disputou a eleição de 2018 sob o signo
de ser o “poste de Lula”. Pois Tarcísio concede – e de graça – ao lulopetismo a
imagem que marcará a sua campanha: o boneco de Bolsonaro. Algum assessor
esqueceu de dizer ao governador que quando ele se apresenta ao lado do boneco
do Jair não é o Jair que se transforma em governador. Nem o mais delirante
petista podia imaginar esse presente de Tarcísio: mostrar que a moderação
necessária à pacificação do País pode ser trocada por uma prenda que se carrega
diante da plateia de uma festa de peão.
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