quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Um novo gás ao real, por Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Com a chance de corte de juros nos EUA, voltou o tema sobre qual será o foco dos investidores

Desde que as declarações da semana passada do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, alimentaram as apostas de um corte dos juros na próxima reunião de política monetária nos Estados Unidos, voltou à tona com toda força um tema que sempre beneficia os mercados emergentes: as operações de “carry trade”, quando os investidores tomam dinheiro emprestado em países com juros baixos para investir nos ativos de países com elevadas taxas de rendimento.

A discussão agora é sobre qual país emergente poderá receber um fluxo maior de capital do investidor estrangeiro, dando um novo impulso de valorização à moeda em relação ao dólar. Entre os mercados emergentes, habitualmente os maiores beneficiados das operações de carry trade são Brasil, México e África do Sul.

Na sexta-feira, quando as apostas de cortes de juros pelo banco central americano aumentaram, o dólar caiu 0,97% ante o real brasileiro, para R$ 5,42; cedeu 0,94% em relação ao peso mexicano, para 18,58; e recuou 1,53% ante o rand sul-africano, para o patamar de 17,44.

O principal fator de atratividade do capital estrangeiro em busca de maior ganho é o diferencial de juros entre a taxa básica americana e as praticadas nos países emergentes. Mas, nessa decisão de onde destinar seu dinheiro, o investidor também leva em conta a volatilidade, que pode corroer a rentabilidade da operação. E essa volatilidade pode ser afetada por riscos domésticos, como fiscais e políticos, e externos, como a guerra tarifária do presidente Donald Trump.

Do ponto de vista do diferencial de juros, o Brasil pode levar vantagem sobre o México e a África do Sul. Conforme a pesquisa Focus, o ciclo de corte de juros pelo Copom deve levar a taxa Selic de 15%, hoje, a 12,50% ao fim de 2026. No México, os analistas preveem que o Banxico irá cortar os juros em 0,25 ponto porcentual em setembro, para 7,50%, com o mercado estimando uma taxa a 6,75% no fim do ano que vem. Na África do Sul, a mediana das projeções aponta juros a 6,5% no fim de 2026.

Ou seja, nesse horizonte de tempo o diferencial de juros tornará provavelmente o real brasileiro a moeda mais atrativa entre os emergentes. Nos EUA, a aposta majoritária é de uma redução de 0,50 ponto até o fim deste ano, levando a taxa básica para a faixa de 3,75%/4,0%. Em 2025, o dólar acumula queda de 12% ante o real. Por ora, o investidor vem relevando os riscos fiscais no Brasil. A dúvida é se o ruído político com a eleição presidencial de 2026 fará a volatilidade disparar, sabotando o carry trade. •

 

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