Correio Braziliense
O que intimida os oligarcas é a capacidade
nuclear. A Coreia do Norte é bom exemplo: não foi atingida pelas tarifas de
Trump. O Brasil sabe fazer a bomba, mas é possível apenas enxergar uma eleição
tumultuada em 2026
O governo do presidente Lula, neste momento, faz esforço hercúleo para superar as enormes dificuldades que surgiram à sua frente. A atuação errática e sinuosa de Donald Trump indica que o presidente dos Estados Unidos não hesita em abrir novas frentes de combate para estar sempre nas manchetes. Quando as negociações com Vladimir Putin não caminham tão bem quanto gostaria, ele envia navios de guerra para o Caribe e fala, de maneira genérica, em intervir para liquidar com a ação dos grupos narcotraficantes na região.
É outra possibilidade de conflito bélico,
desta vez na América Central, o que oferece a oportunidade de troca de
posições. Os russos estão estabelecidos na Venezuela. Podem negociar essa
posição com alguma vantagem na Ucrânia. Nesse caso, Nicolás Maduro seria apenas
uma moeda de troca. Baixo valor. Mas o presidente Lula manteve até agora a
altivez na sua relação com Washington. Talvez esteja falando mais do que
deveria, mas, efetivamente, não cedeu aos caprichos do presidente alaranjado.
Após a saraivada de tarifas, quem está perdendo cada vez mais é a turma dos
Bolsonaro.
As pesquisas de opinião indicam que a
população já percebeu que os filhos do ex-presidente trabalham a favor de seus
interesses. O slogan Deus, pátria e família ficou reduzido ao último item. A
família deles. Deus e pátria são subsidiários nessa equação política. Eles se
tratam aos palavrões. Até o missionário adota palavreado chulo. As mesmas
pesquisas indicam que o governo está conseguindo recuperar a popularidade,
embora a maioria ainda seja crítica à ação do Palácio do Planalto. Mas a
distância entre posição favorável e desfavorável reduziu-se a pouco mais de
dois pontos. Recuperação impressionante.
No terreno das pesquisas, sim. Na política,
não. O governo sofreu pesada derrota na instalação da CPMI do INSS.
Opositores foram eleitos para a presidência e a relatoria da comissão, os dois
postos mais importantes. O Palácio do Planalto apostava em nomes alinhados ao
Executivo para travar as investigações e evitar desgastes. O senador Carlos
Viana (Podemos-MG), de oposição, foi eleito com 17 votos, contra 13 dados a Omar
Aziz (PSD-AM), que era considerado favorito e contava com o apoio de Lula e do
presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). O presidente indicou um
relator de oposição, que será o deputado Alfredo Gaspar (União-AL). O nome
apoiado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), era o do
deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO). Derrota significativa para o
dispositivo político do Palácio do Planalto.
Esse resultado indica que o segundo semestre
será flamejante, inclusive, pela possibilidade de o irmão do presidente Lula,
dirigente partidário, ser convocado para prestar esclarecimento ao plenário
raivoso da CPMI. Momentos de glória de alguns parlamentares, um pesadelo
previsível para o governo. A crise política vai aproveitar a elevação da temperatura
porque os norte-americanos não dão sinais de que vão reduzir a pressão. No
início de setembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus principais
correligionários serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro
Alexandre de Moraes estará lá para verbalizar suas razões e determinar a prisão
ou a libertação dos acusados. O governo de Washington, que mantém Brasília sob
severa vigilância, fará o possível para tumultuar o ambiente.
O governo de Washington possui a capacidade
de intervir quando quiser e como quiser em qualquer país do planeta. Até agora,
recuou apenas diante da monumentalidade do poder dos chineses, capazes de
produzir grandes estragos tanto na esfera da guerra propriamente dita quanto
nas relações comerciais. A paixão de Trump pela Rússia é caso antigo. O país
tem Produto Interno Bruto (PIB) inferior ao do Brasil, mas possui bombas
atômicas e mísseis equipados com ogivas nucleares capazes de destruir boa parte
do mundo. Esse detalhe explica a cerimônia com que autoridades de Moscou são
tratados em Washington. Na realidade, não há planos objetivos para acabar com a
guerra na Ucrânia.
O que intimida os oligarcas é a capacidade
nuclear. A Coreia do Norte é bom exemplo. Seu governo envia armas, munições e
soldados para a guerra na Ucrânia, porém não foi atingida pelas tarifas de
Trump. O país tem a bomba. Nesse caminho, não será impossível que, em pouco
tempo, Japão, Austrália, Alemanha, Canadá também detonem seus artefatos
atômicos. O ponto fora da curva é a Índia, que tem bomba e foi punida pelo
tarifaço. Mas, é a economia que mais cresce no mundo. Precisa ser contida. O
Brasil sabe fazer a bomba. Os desafios do novo mundo dos oligarcas vão além da
imaginação. No momento, é possível apenas enxergar uma eleição tumultuada em 2026.
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