Valor Econômico
PLOA de 2026 contará com receitas que podem
não ocorrer e há risco de as despesas crescerem acima do orçado
É grande a chance de o governo de Luiz Inácio Lula da Silva chegar ao seu final tendo cumprido as metas fiscais nos quatro anos. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026, que será enviado ao Congresso Nacional até a próxima sexta-feira, vai apontar nessa direção. Tudo bonito no papel, mas uma “pegadinha do destino” aguarda Lula pouco depois do início da campanha eleitoral, disse à coluna o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Marcus Pestana.
No papel, a meta fiscal de 2026, um superávit
equivalente a 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), será alcançada porque o
PLOA pode considerar integralmente as receitas esperadas com propostas que
estejam em tramitação. Assim, será possível incluir nele os R$ 20,87 bilhões da
Medida Provisória (MP) 1.303/2025, ainda que as discussões no Legislativo
apontem para sua “desidratação”.
Da mesma forma, o PLOA considerará neutro, do
ponto de vista da arrecadação, o Projeto de Lei (PL) 1.087/2025, que eleva o
limite de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) para R$ 5 mil.
Isso, a despeito de as compensações que equilibram a reforma serem alvo de
resistências no Legislativo.
Assim, o PLOA de 2026 contará com receitas
que podem não ocorrer. Além disso, há risco de as despesas crescerem acima do
orçado. Por exemplo: a recente decisão do Congresso de enquadrar a fibromialgia
como deficiência física pode elevar as requisições dos Benefícios de Prestação
Continuada (BPC), pagos a deficientes e idosos de baixa renda.
Dessa forma, a peça mostrará ser possível
cumprir a meta em 2026. Mas, mesmo tendo alcançado os objetivos fiscais nos
quatro anos, o governo seguirá criticado pela condução das contas públicas.
O secretário de Política Econômica do
Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, explicou à coluna por que, na sua
visão, isso ocorre.
“A forma que nós encontramos de equilibrar o
Orçamento passou por promover justiça fiscal”, disse. O caminho foi cortar
gastos tributários e cobrar de quem paga pouco, explicou. “Obviamente que,
quando você faz isso, quem tem o privilégio reclama.”
Um segundo ponto de crítica é o crescimento
das despesas obrigatórias. Não é um assunto totalmente resolvido ainda,
admitiu. Para ele, trata-se de um processo que está em curso e que ganhou, com
o arcabouço, um tempo para ser amadurecido. No momento, o governo pretende
priorizar o corte de gastos tributários, informou.
O terceiro ponto é o crescimento da dívida,
que “depende muito mais da taxa de juros do que do resultado primário”,
avaliou. O resultado das contas públicas é um fator condicionante da dinâmica
da dívida, mas sozinho não é capaz de estabilizá-la, argumentou. É preciso
produzir superávits fiscais na casa de 1% a 2% do PIB, mas também é preciso que
as taxas de juros convirjam para níveis mais próximos do padrão internacional,
defendeu.
Hoje, a taxa neutra de juros está na casa dos
4,5% a 5%. No caso do Brasil, deveria ser somada à inflação, que é da ordem de
5%. Assim, uma taxa no padrão seria algo como 8,5%, e não os 15% atualmente
fixados pelo Banco Central. “Então, temos um caminho para percorrer no primário
e um caminho para percorrer na Selic”, comentou. “Se conseguirmos de maneira
consistente ir entregando o fiscal, fica mais fácil também consistentemente trazer
a Selic a um patamar mais baixo.”
Na visão do diretor da IFI, a política fiscal
do governo é curto-prazista e focada em manter o arcabouço fiscal vivo até
2026. “Não tem nada mais ambicioso”, criticou.
“Eles vão tirar nota 10 com as regras atuais,
mas vão continuar sendo criticados, porque há essa distância entre o mundo
virtual das leis, das excepcionalizações, de se ancorar em receitas não
recorrentes, e o mundo real que vê a insustentabilidade do atual regime
fiscal”, avaliou. “Na vida real, todos os agentes econômicos relevantes,
investidores, financiadores da dívida, compradores de título do Tesouro,
agências de rating, líderes sindicais, empresários, todo mundo sabe fazer
conta.”
E é aí que entra a pegadinha do destino.
Em agosto de 2026, quando a capital federal
estará respirando campanha eleitoral, Lula precisará enviar ao Congresso o PLOA
de 2027. Como o crescimento das despesas obrigatórias foi pouco atacado ao
longo destes dois anos de meio de governo, a proposta mostrará um quadro em que
praticamente não há espaço para despesas discricionárias. Motor dos palanques
na campanha de 2010, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estará
concentrado em saúde e educação, pois essas áreas têm recursos assegurados pela
Constituição.
“Até no papel, vai ser difícil fechar a peça
orçamentária”, comentou Pestana. “Então, essa questão vai ser explicitada, pelo
menos parcialmente, antes das eleições.”
Pestana avaliou que o prometido ajuste
estrutural das contas públicas vai se impor em 2027. “Não vai ser por boniteza,
vai ser por precisão”, disse, citando a famosa frase de Guimarães Rosa sobre
por que o sapo pula. “Se 100% do Orçamento vai ser obrigatório, para que eleger
presidente?”
A ver o que Executivo e Legislativo serão
capazes de produzir para contornar o quadro de estrangulamento orçamentário.
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