segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Tarcísio não consegue tirar o boné de Trump, por Cesar Camasão

Folha de S. Paulo

Ao defender que o Brasil entregue 'vitória' a presidente dos EUA, governador paulista reforça visão estreita sobre relações internacionais

Para um país que coleciona derrotas, algumas sob certa influência norte-americana, beira o nonsense a recente declaração do governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de que o Brasil deveria dar "alguma vitória" ao presidente Donald Trump.

"Ele está querendo colecionar vitórias. Então, por que não entregar alguma vitória para ele? Por que não fazer algum gesto?", sugeriu um conciliador Tarcísio para uma plateia da Faria Lima.

Quais acenos poderiam ser feitos para um líder que, numa canetada, resolve sobretaxar em 50% um parceiro que há 17 anos tem saldo negativo na balança comercial? Ou que justifica tal "gesto" em razão de um julgamento legítimo de seu aliado ideológico?

Na lógica do governador, o Brasil poderia deixar de comprar diesel da Rússia, o que ajudaria nas negociações do tarifaço. Soa ingênuo imaginar que logo Trump se sensibilizaria com algo do tipo.

Longe de ser só uma declaração infeliz, o rompante subserviente expõe visão estreita sobre as relações diplomáticas, em claro desalinho aos interesses nacionais.

A miopia parece afetar o próprio quintal. Caberia aos paulistas providenciar tal vitória? Ora, São Paulo é o estado que mais exporta para os EUA, de produtos agrícolas a tecnológicos. Logo, foi atingido em cheio pela chantagem trumpista —cujo governo, aliás, expôs a letalidade da polícia local em relatório que classifica de "execuções extrajudiciais" operações que culminaram em dezenas de mortes no litoral.

A nova derrapada, contudo, não é surpresa para quem, de forma esdrúxula, chegou a pedir a ministros do Supremo que liberassem Jair Bolsonaro para viajar aos EUA e negociar a guerra comercial diretamente com Trump.

Pelo visto, Tarcísio ainda não aprendeu a lição de ter posado com o boné Make America Great Again (algo como "façam os EUA grandes de novo") em suas redes sociais. A imagem envelhece mal e rapidamente —e, assim como suas palavras, não deverá ser esquecida tão cedo.

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